A valorização de 31% do Ibovespa (IBOV) no ano de 2025 “não tem nada a ver com o Brasil“, diz o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida. A explicação, segundo ele, está no contexto global.“Como, em um ano de juros tão altos, temos um crescimento da Bolsa de 31%? Não tem nada a ver com o Brasil”, disse no 20º Seminário Internacional Acrefi de Crédito (SIAC).O economista atribui o movimento ao choque causado pela política comercial dos Estados Unidos. “O que os Estados Unidos fizeram de aumentar muito forte as tarifas em relação aos principais parceiros comerciais sustou os investidores, que começaram um movimento de diversificação de carteira, aumentando o fluxo de investimento para vários países do mundo e vários emergentes.”LEIA TAMBÉM: O Money Times liberou, como cortesia, as principais recomendações de investimento feitas por corretoras e bancos — veja como acessar Esse redirecionamento elevou o fluxo externo para a bolsa do Brasil, mas também para diversas economias, incluindo México, Colômbia e Chile.Além de empurrar para cima o preço das ações brasileiras, o movimento favoreceu a queda do dólar e o recuo da curva de juros doméstica. “Tivemos, neste ano, uma melhora surpreendente do mercado financeiro no Brasil”, afirmou.Mansueto pondera ainda que a política monetária contribui para domar a inflação, mas ressaltou que os fundamentos internos seguem inalterados. “Um juro tão alto ajuda a controlar a inflação. Mas os problemas que temos hoje são exatamente os mesmos do início e do final do ano passado. São as mesmas incertezas.”“Em um contexto de mundo, toda a confusão que os Estados Unidos causou acabou nos ajudando. E essa é a notícia boa”, disse.Os ‘grandes desafios’ do BrasilAo projetar os próximos anos, o economista do BTG afirma que o Brasil terá de enfrentar um “imenso desafio” para viabilizar juros estruturalmente mais baixos e reativar o investimento. Além disso, o governo precisará desacelerar o crescimento do gasto público.O diagnóstico é de que a taxa de investimento do país — hoje em 17% do PIB — é insuficiente para sustentar crescimento. “17% do PIB é uma taxa de investimento muito baixa”, disse.“O próximo governo tem o seguinte desafio: mostrar como ele conseguirá desacelerar o crescimento do gasto público. Reduzindo o crescimento do gasto público, imediatamente, a inflação cai, a expectativa de inflação cai e abre espaço com a queda muito forte da taxa de juros.”Mansueto reconhece avanços fiscais recentes, mas afirma que foram insuficientes para conter a deterioração estrutural. “O governo atual conseguiu o avanço do fiscal? Conseguiu, mas, infelizmente, quase todo avanço vai ser perdido com o pagamento de juros do serviço da dívida.”Com o déficit nominal projetado em 8,4% do PIB, o país deve encerrar a gestão atual entre os cinco piores resultados do mundo, afirma.