COP30: a semana que colocou os holofotes mundiais em Belém

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Foi com tom otimista que a COP30 teve início no dia 10 de novembro de 2025 em Belém, no Pará. Ao longo da semana, a reclamação da ONU a autoridades brasileiras, a profusão de manifestações nas ruas – que jogou luz ao protagonismo dos povos indígenas – e a recepção calorosa dos paraenses aos estrangeiros foram assuntos que transbordaram para além dos limites do Parque da Cidade, onde acontece a conferência. Dentro da Zona Azul (Blue Zone) com 194 delegações, porém, as negociações engatinham.A força de cada presidência da COP costuma ser medida pela rapidez com que supera as disputas sobre a “agenda da COP30”. Pois bem, já na primeira plenária a agenda foi definida e aprovada. Mesmo com consenso sobre temas centrais, foram encaminhados para consultas formais e informais o financiamento de países desenvolvidos a nações em desenvolvimento e a insuficiência das metas climáticas dos países (NDCs), entre outros temas espinhosos.Outro grande destaque no primeiro dia foi a assinatura de 92 países à “Declaração Global sobre Igualdade de Gênero e Ação Climática na COP30”. As mulheres são as mais atingidas pelo custo da crise climática, um tema ainda pouco abordado nas discussões. Com o lançamento do TFFF e o apelo de Lula para a criação de um roteiro mundial para acabar com a dependência dos combustíveis fósseis, ainda durante a Cúpula de Líderes, a COP30 começou com o pé direito. Leia também: 1.Casa da Floresta: a Amazônia que ensina, acolhe e aponta caminhos 2.Florestas Marinhas em pauta na COP30 A “boa vontade”, entretanto, foi testada além do limite. As chuvas torrenciais, comuns em Belém, causaram alagamentos em áreas do Parque da Cidade já no primeiro dia da conferência. Além de goteiras dentro da estrutura, do lado de fora os participantes tiveram que atravessar a água que cobria calçadas – após enfrentar um trânsito intenso para chegar ao local. O calor também não deu trégua. Tendo sido a capital brasileira com mais dias de calor extremo em 2024, a situação não surpreendeu os moradores de Belém, porém falhas no sistema de ar-condicionado tornaram o primeiro dia um suplício aos participantes.Povos indígenas protestamNo segundo dia de COP, o clima voltou a esquentar, mas por outro motivo: após a Marcha Global Saúde e Clima um grupo de manifestantes adentraram a Blue Zone, forçando a entrada na área de negociação controlada pela ONU e que é restrita a credenciados. O grupo era formado por movimentos sociais com a participação de alguns povos indígenas. Em nota, a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) se desvinculou do ato, mas ressaltou que “preza pela autonomia de todos os povos se manifestar democraticamente” e lembrou que apesar de não integrar as negociações oficiais, os povos indígenas “têm incidido há mais de dois anos para que suas demandas sejam incorporadas nas decisões sobre o enfrentamento à crise climática”.O episódio dividiu opiniões. Houve quem criticasse e quem pontuasse como absolutamente legítimo, afinal, se há espaço para gigantes do agro deveria haver também para os que comprovadamente são os maiores guardiões da floresta. Para a ONU foi a gota da água. A maior autoridade da ONU para o clima, Simon Stiell, enviou uma carta para autoridades brasileiras avisando que as falhas de segurança que permitiram a invasão da Zona Azul não eram aceitáveis. Ainda foi cobrado sobre problemas nos banheiros, ar condicionado e alagamentos.Menos acalorados, a semana foi recheada de protestos dentro e fora dos pavilhões. Na quinta-feira (13), grupos da sociedade civil e lideranças indígenas realizaram um protesto pacífico dentro da Conferência para denunciar a contínua expansão de projetos de petróleo e gás. Haviam participantes do Brasil, do Sul Global e de organizações e redes internacionais.Foto: Hugo DuchesneNa manhã seguinte, foi a vez dos Munduruku bloquearem o acesso da Zona Azul. O grupo liderado por Alessandra Munduruku denunciava os impactos de grandes obras no Tapajós, inclusive a Ferrogrão, e pedia, sobretudo, a revogação do decreto 12.600/2025, que inclui empreendimentos públicos federais do setor hidroviário no Programa Nacional de Desestatização e, na prática, abre caminho para concessões privadas dessas hidrovias. O grupo foi oficialmente recebido pela ministra Marina Silva e por André Corrêa do Lago, presidente da COP.O presidente da COP 30, André Correa do Lago conversa com indígenas da etnia Munduruku. Foto: Felipe Werneck/COP30“Houve um chamado do nosso presidente Lula para fazer a COP30 aqui especialmente para nos aproximarmos dos movimentos sociais da Amazônia. Sentimos muito pelos transtornos, mas acreditamos que é uma oportunidade para os delegados ouvirem diretamente os que estão na linha de frente dos impactos e da lacuna de justiça climática”, afirmou Ana Toni, CEO da COP30.Outro ato simbólico histórico foi a abertura da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP. A partir da Universidade Federal do Pará (UFPA) foi realizada a “barqueata”, que reuniu cerca de 200 embarcações – alguns viajaram por dias pelos rios amazônicos até chegar a Belém para mostrar que “a resposta” para a crise climática vem das margens. Entre os participantes, havia lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas e camponesas.Foto: Coletivo Apoena AudiovisualA profusão de manifestações reforçam a urgência de ouvir a sociedade civil, algo que não ocorreu nas últimas COPs, realizadas nos Emirados Árabes e Egito. A insatisfação diante das promessas vazias e da falta de ambição frente em um mundo que já sofre com os eventos climáticos extremos culminaram na Marcha Mundial pelo Clima, que levou cerca de 50 mil pessoas às ruas de Belém.A ação Funeral dos Combustíveis Fósseis reuniu povos originários de toda a América Latina, ativistas do mundo inteiro e mais de 100 organizaçõesAtrás das portasNa Zona Azul, um grande destaque foi o apoio do G77+China, que reúne mais de 100 países, inclusive o Brasil, à criação de um mecanismo global para a transição justa. A boa notícia foi reconhecida com o prêmio da CAN International: em vez de um Fóssil do Dia, o grupo ganhou o prêmio de “Luz” do Dia.Outro momento marcante na semana foi a Declaração sobre Integridade da Informação em Mudanças Climáticas, que estabelece compromissos internacionais conjuntos para enfrentar a desinformação climática e promover informação precisa e baseada em evidências sobre o tema. Apoiada por mais de 200 organizações da sociedade civil e lançada conjuntamente por dez países, o Brasil fez o primeiro aporte de US$ 1 milhão para apoiar projetos de pesquisa, jornalismo e checagem de fatos.Foto: Rafa Neddermeyer/COP30Na ausência de Trump na COP30 o governador da Califórnia, Gavin Newsom firmou acordos com o governo do Pará em diversas áreas. Junto a outros estados e cidades norte-americanas, destaques de sua passagem por Belém podem ser conferidos na matéria da Amazônia Vox: “Trump não está na COP30, mas os Estados Unidos estão”.Como nem tudo são flores. Um dos principais itens de negociação, a Meta Global de Adaptação (GGA) avançou pouco. O Laclima explica que este “trata-se de um conteúdo técnico e sofisticado sobre o qual várias delegações têm domínio limitado”. O texto atual, ainda segundo a organização, está longe de consenso, além de ser considerado confuso e difícil de negociar. Ainda sim, espera-se que o rascunho seja trabalhado e avance nesta semana.Outros destaques:A semana finalizou com a marca de 114 NDCs entregues. Junto à Arábia Saudita, a Índia é o único grande país do G20 que ainda não apresentou sua meta;A Colômbia afirmou que é o primeiro país amazônico a eliminar do bioma explorações fósseis e de mineração;Durante a Marcha pelo Clima, um grupo de ativistas vestidos de preto realizou o “funeral” dos combustíveis fósseis com caixões simbolizando o fim do petróleo e gás;Liderado pelo governo brasileiro, foi lançado o Plano de Ação em Saúde: o primeiro documento internacional voltado à adaptação dos sistemas de saúde às mudanças climáticas;A Declaração de Belém sobre Industrialização Verde Global foi lançada na COP. O documento propõe alinhar financiamento, tecnologia e políticas públicas para acelerar uma transição justa e inclusiva, estabelecendo um roteiro de ação para além da COP30;É esperado que o Brasil convoque um “mutirão” no início desta semana: uma grande sessão com ministros e chefes de delegação, com o objetivo de debater questões-chave.Confira a avaliação de especialistas dos impasses e avanços nas negociações na Agência Brasil.Marcha realizada nesta segunda (17). Foto: Hugo DuchesneEntre altos e baixos, a COP30 tem superado as previsões pessimistas. Se o saldo será realmente positivo, saberemos até o fim desta semana. O que é certo é que a semana já começou agitada com a marcha global “A Resposta Somos Nós” liderada pela Apib.Com informações de Instituto Talanoa e Boletim do ClimaInfoThe post COP30: a semana que colocou os holofotes mundiais em Belém appeared first on CicloVivo.