A captação não tem sido um problema para os fundos de crédito privado em 2025. Os investidores seguem procurando estratégias ligadas a debêntures e outros títulos de renda fixa enquanto os juros estão altos. No entanto, a demanda dos investidores entra no radar dos gestores como um ponto de atenção para o curto prazo, assim como os spreads dos títulos e o retorno no acumulado do ano.Em outubro, os fundos de crédito privado registraram captação líquida de R$ 19 bilhões, puxando o resultado positivo de R$ 13,9 bilhões de toda a indústria no mês. Mas o dinheiro pode começar a sair em breve. Leia também: Dividendos em 2026: o que muda para empresas e investidores?“Ainda estamos com um fluxo de entrada positivo, mas o ritmo já está desacelerando”, diz Luiz Christ, gestor de crédito privado da Principal Asset Management. “A mudança de sentido para um resgate é rápida”.A mudança pode vir neste fim de ano, quando os investidores olham para o rendimento das suas carteiras e refletem sobre o que faz sentido manter no portfólio. E 2025 não tem sido um ano de rendimento generoso dos fundos de crédito privado, o que pode colocá-los na mira dos mais impacientes.Christ diz ter um passivo “comportado”, mas demonstra preocupação com a indústria: “os fundos de crédito privado podem começar a performar muito abaixo do CDI e me assusta um pouco como a foto do ano vai fechar; se tivermos um ano relativamente ruim isso pode, eventualmente, acelerar o movimento de resgate”.Abertura de spreads A preocupação com resgates está diretamente ligada aos spreads. Os prêmios dos títulos privados andaram apertados ao longo de todo o ano, com empresas chegando entregar taxas menores do que as dos títulos públicos. Isto não deixou espaço para que os gestores comprassem com esperanças de um fechamento que traria valorização à carteira. Na verdade, o movimento atual é o contrário: os spreads passam por uma abertura, o que faz os papéis mais recentes perderem valor, impactando o resultado dos fundos em 2025.Fonte: XPAmbipar, Braskem e MP dos impostosOs recentes casos de estresse de crédito envolvendo Ambipar e Braskem podem ser considerados o pontapé inicial para uma reprecificação dos títulos. A leitura dos gestores é que a abertura de spreads iria acontecer mais cedo ou mais tarde e os eventos pontuais foram o gatilho para o início de um movimento técnico. “Depois de Braskem e Ambipar, o mercado deu uma chacoalhada e se ainda não iniciamos o movimento de correção, de fato, estamos próximos disso”, diz Luiz Christ.Para Clara Sodré, analista de fundos da XP, o noticiário político, que envolveu a queda da Medida Provisória que taxava ativos incentivados, teve “muito mais peso do que eventos pontuais no mercado” na recente abertura dos spreads. Ela argumenta que “pouquíssimos” fundos tinham exposição aos papéis de Braskem e Ambipar, casos que geraram mais repercussão negativa do que impacto real.Daniel Palaia, CIO de crédito da Asset 1, não interpreta o movimento recente como o início de uma forte reprecificação dos papéis. Para ele, uma abertura relevante dos spreads ainda depende de saída “relevante” do fluxo de investimento em fundos de crédito privado. “Há espaço para abertura dos spreads, mas não de forma generalizada e profunda; vemos espaço para uma abertura média geral de 30 a 50 bps”.Como resultado de meses de spreads apertados e recente abertura dos prêmios, os fundos estão evitando o mercado primário. “As emissões do primário têm vindo com duration longa e prêmios bastante modestos. É na volatilidade do secundário que acreditamos que é possível gerar alpha nesse momento do ciclo que estamos vivendo”, diz Palaia.Já Christ afirma que a Principal “quase não participou de emissões no mercado primário” nos últimos meses. Ele explica que o apetite dos gestores vem caindo, o que fez com que muitas emissões fossem pouco demandas e os papéis fossem rapidamente reprecificados no mercado secundário.Resgates: problema ou solução?Os especialistas entrevistados pelo InfoMoney classificam como inevitável um movimento de resgate num futuro breve. No entanto, diante do contexto de spreads apertados que incomodam os gestores há meses, o que geralmente é um problema pode se apresentar como solução. Afinal, a saída de investidores do crédito privado é vista como a peça que falta para montar o quebra-cabeça da alta dos spreads.O cenário atual tem prêmios apertados, mas uma demanda ainda forte. Seguindo uma das principais regras da economia, as empresas aproveitam o momento para emitir dívida com prêmios curtos porque ainda há compradores. Os resgates seriam, portanto, um movimento técnico necessário para destravar a alta dos spreads: eles fariam a demanda cair, o que força emissões com taxas mais interessantes. Leia também: IPOs vão voltar? Bolsa na máxima e juro em queda devem aumentar ofertas de açõesClara Sodré lembra que os resgates já são comuns nos últimos meses do ano em fundos de crédito privado. No entanto, os gestores já estão com as carteiras preparadas para esse movimento, avalia. “É mais um movimento de correção natural, não existe nenhuma preocupação em relação a fundamentos ou uma distorção no mercado oriunda de fluxo”. O nível de caixa dos fundos atualmente mostra o ponto de Sodré sobre os gestores já estarem preparados para eventuais resgates: na Asset 1, o fundo high grade está com 50% do patrimônio alocado em títulos de alta liquidez, enquanto a estratégia de infraestrutura tem 25% de caixa, acima dos 15% de costume; na Principal, o nível de caixa tem variado entre 30% e 35%, enquanto o normal é de cerca de 10%. Apesar de servir como uma proteção contra uma onda de resgates, o principal motivo do caixa elevado não está no fluxo. Os gestores dizem que estão esperando oportunidades para comprar papéis melhores do que os oferecidos pelo mercado atualmente. Daniel Palaia diz que se a abertura de até 50 bps dos spreads se concretizar “iremos às compras novamente”. Por enquanto, as operações estão em compasso de espera. Luiz Christ também deixa claro que espera abertura dos prêmios no curto prazo: “a ideia é usar esse caixa para comprar papéis com desconto”. Onde investir no crédito privado agora? Para Sodré, o momento ainda exige cautela e seletividade. “Recomendamos não fazer grandes movimentos”. Além disso, a especialista diz que a diversificação é importante para atravessar o momento atual. O crédito estruturado, que tem dívidas de diferentes perfis e empresas, está no topo das preferências da analista da XP. Para ela, estratégias como os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) “ainda têm gordura e terão boa performance nesse cenário de incertezas que estamos acompanhando”. Depois, Sodré cita os fundos de debêntures incentivadas não hedgeados, que não usam ativos para se defender de oscilações. “Eles vão aproveitar um movimento de fechamento de juros, têm mais volatilidade, mas estou falando de opções para diversificar o retorno”. A especialista conclui dizendo que, com a estabilização dos spreads e queda da Selic ainda para patamares elevados, “o crédito privado vai continuar sendo um ambiente seguro para os investidores”.The post Crédito privado: mesmo com forte captação, fundos ainda têm três preocupações em 2025 appeared first on InfoMoney.