Caso Master: por que ainda caímos na promessa do retorno excepcional?

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A intervenção do Banco Central no Banco Master expõe muito mais do que uma fraude bilionária. Expõe uma vulnerabilidade estrutural do mercado: a facilidade com que promessas de retorno excepcional continuam encontrando espaço mesmo em um ambiente regulado e supostamente maduro. Os investidores que compraram carteiras e produtos ligados ao Master não foram imprudentes nem movidos por ganância. Foram parte de uma engrenagem que apresentou operações como sólidas, rentáveis e chanceladas por uma instituição regulada. Houve confiança, não imprudência. E confiança é justamente o terreno onde a má governança prospera.O caso revela como a engenharia do engano funciona: carteiras com retornos muito acima da média, narrativas de expansão e operações estruturadas vendidas como oportunidades únicas. A fraude não se sustenta apenas na intenção de quem a comete, mas na aparência de legitimidade que envolve emissores, intermediários, consultores e o próprio ecossistema financeiro. Foi essa aparência que deu conforto aos investidores e que, agora, mostra sua fragilidade.Leia tambémDinheiro, jato, relógios e bebidas de luxo: o que a PF apreendeu no caso MasterPolícia Federal estima que as fraudes constatadas na operação podem ter movimentado cerca de R$ 12 bilhõesIsso não significa que o investidor tenha alguma parcela de culpa. Ao contrário: ele foi a ponta menos informada da cadeia. A assimetria de informação é evidente quando se observa que lastros inexistentes ou fabricados passaram despercebidos por quem deveria verificar, auditar e questionar. A falha está na origem, nos controles internos que não funcionaram, na ausência de segregação efetiva de funções, na concentração de poder decisório e na comunicação que vendia solidez enquanto escondia risco e muito mais. O investidor confiou em estruturas que deveriam protegê-lo, e não expô-lo.Ainda assim, o episódio deixa, mais uma vez, uma lição incômoda para o mercado: retornos que destoam demais do resto do sistema sempre deveriam acender um sinal de alerta. Em um ambiente onde episódios assim se repetem, a cultura de análise de risco precisa avançar.A governança existe justamente para evitar que o investidor descubra o risco quando já é tarde demais. Ela é a camada que transforma crescimento em perenidade, produto em confiança e retorno em consequência, não argumento. No caso Master, a governança falhou. E quando ela falha, todos os elos da cadeia são afetados. O prejuízo não atinge apenas quem investiu, mas também a credibilidade do mercado que permitiu que a fraude se prolongasse. O episódio deve ser lido como um alerta sobre instituições que ofereceram menos transparência, menos controle e menos responsabilidade.É importante lembrar que o investidor passa por situações como essa em mercados altamente regulados, como o bancário, onde a existência do FGC costuma transmitir uma falsa sensação de “seguro”. O FGC protege depósitos, mas não elimina o risco de liquidação, de operações mal estruturadas ou de perdas em produtos que não estão cobertos. E se isso acontece em um setor com supervisão diária, ocorre em dimensão ainda maior em outros mercados — regulados ou não — onde a transparência é menor e a fiscalização, mais distante. Por isso, o investidor precisa manter uma postura ativa: estudar, questionar, buscar informação qualificada e, sobretudo, ouvir opiniões realmente independentes. No fim, proteger-se é um exercício contínuo e não pode depender apenas da promessa de retorno ou da aparência de segurança.The post Caso Master: por que ainda caímos na promessa do retorno excepcional? appeared first on InfoMoney.