Nas PME portuguesas, o medo de admitir desconhecimento tem um preço alto: a estagnação. Enquanto o poder e as decisões estiverem concentrados em poucas mãos, as empresas continuarão a crescer até ao limite do ego de quem as lidera. Uma das maiores fragilidades do nosso tecido empresarial é precisamente essa — a incapacidade de dizer ‘não sei’.Durante décadas, construímos um modelo assente em fundadores e gestores que centralizam tudo: da compra de material à decisão estratégica, do marketing à gestão financeira. São pessoas de uma entrega admirável, que criaram empresas do zero, muitas vezes sem apoio nem formação formal. Mas o mesmo instinto que as fez crescer é, por vezes, o que as impede de evoluir. O problema não é a liderança forte — é a liderança solitária.Num mundo onde o conhecimento se fragmenta e especializa a cada dia, nenhuma organização pode depender apenas da intuição de uma pessoa. As empresas que sobrevivem são aquelas que aprendem a distribuir a inteligência: que sabem quando deixar o ego de lado e confiar em quem sabe mais. Dizer ‘não sei’ é o primeiro passo para isso.É o gesto que abre a porta a novas ideias, que legitima especialistas, que transforma colaboradores em decisores. Admitir não saber não é abdicar do controlo – é partilhar responsabilidade. E uma equipa que partilha responsabilidade é uma equipa que cresce, inova e reage mais rápido. Em Portugal, ainda há medo de delegar.Temos gestores que preferem adiar decisões a pedir ajuda. Empresas que mantêm processos antiquados porque ‘sempre se fez assim’. Negócios que não digitalizam, não comunicam, não planeiam — não por falta de vontade, mas por falta de confiança em quem poderia fazê-lo melhor. O resultado é previsível: equipas desmotivadas, inovação bloqueada e líderes esgotados.A coragem de dizer “não sei” é, no fundo, a coragem de admitir que o futuro não se constrói sozinho. As empresas que mais crescem são aquelas onde o saber é partilhado e o erro é permitido. Onde o líder não tem de ter sempre razão — tem de ter visão. E a visão nasce, quase sempre, da escuta. Porque enquanto o conhecimento estiver concentrado numa só pessoa, a empresa só crescerá até ao tamanho da sua sombra. E é por isso que, em tempos de mudança, a frase mais inteligente que um líder pode dizer continua a ser a mais simples de todas: «Não sei — mas quero aprender.»O conteúdo A coragem de dizer ‘não sei’ aparece primeiro em Revista Líder.