47 milhões têm insegurança alimentar nos EUA; por que o país não resolve a fome?

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A fome, infelizmente, é tão americana quanto a torta de maçã: uma crise que revisitamos a cada ciclo orçamentário, mas nunca resolvemos.Com o recorde do fechamento do governo federal finalmente encerrado e o acesso ao Programa de Assistência Nutricional Suplementar (Snap, na sigla em inglês) deixando de estar à beira de uma disputa na Suprema Corte, milhões de americanos foram novamente pegos no fogo cruzado do jogo político. Leia também: Juiz obriga governo Trump a pagar integralmente programa de auxílio alimentarA rede de segurança alimentar do país — já em frangalhos — foi gravemente abusada.A fome, entretanto, não tem filiação partidária.Como aponta o senador republicano Josh Hawley no The New York Times, este não é um problema marginal. A fome afeta todos os cantos da vida americana. Quase 90% dos adultos nos EUA relatam que os preços dos alimentos são fonte de estresse doméstico, e aproximadamente um em cada sete americanos enfrenta insegurança alimentar todos os anos (uma cifra provavelmente muito subnotificada).Isso equivale a 47 milhões de americanos. E rumo às eleições de meio de mandato de 2026, com o Relatório de Segurança Alimentar Doméstica em pausa indefinida, o número real permanecerá desconhecido. Quando uma nação para de medir um problema, isso sinaliza indiferença — ou falta de vontade de enfrentá-lo.Resolver a fome nos Estados Unidos oferece uma rara oportunidade para legisladores conquistarem uma vitória em uma batalha de décadas — uma que é moralmente correta e economicamente sensata (sem mencionar o ganho de apoio público e impacto em futuras eleições). Não agir não é apenas um fracasso de política pública, mas uma traição ao pacto fundador de respeitar e governar o povo desta nação.A visão de JeffersonThomas Jefferson, que idealizou uma democracia agrária como base da prosperidade americana, escreveu a George Washington: “A agricultura é nossa busca mais sábia, porque, no fim, ela contribuirá mais para a verdadeira riqueza, bons valores e felicidade.” Ele via prosperidade, virtude e felicidade como inseparáveis. No entanto, hoje, ao mesmo tempo em que os EUA dominaram a produção agrícola e se tornaram um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, falhamos em garantir que nossos próprios cidadãos compartilhem dessa abundância.Em termos humanos, isso é inconcebível. Em termos econômicos, é catastrófico.Todos os anos, a fome custa à economia americana mais de US$ 160 bilhões em despesas evitáveis de saúde, perda de produtividade e potencial desperdiçado. Crianças subnutridas têm desempenho escolar inferior, reduzindo seu potencial de renda futura. Adultos com insegurança alimentar mostram maiores taxas de doenças crônicas, depressão e absenteísmo no trabalho. Essas falhas se acumulam por gerações, classes econômicas e partidos políticos. Em qualquer outro contexto, uma ineficiência dessa magnitude seria tratada como emergência nacional. Quando se trata de fome, damos de ombros.Enquanto isso, o abismo entre salários e preços de alimentos continua aumentando. A inflação alimentar segue superando o crescimento da renda, e a fragilidade de programas federais como o Snap significa que milhões de americanos vivem a apenas um ciclo orçamentário de perder sua mais básica linha de sobrevivência. Não podemos continuar remendando um sistema que ampara pessoas quando caem, mas raramente as ajuda a se reerguer. A próxima evolução da rede de segurança americana precisa ser um trampolim — algo que impulsione as pessoas para cima sem torná-las dependentes de Washington.Isso não é teoria — outros países já fizeram isso. Em 1976, o Brasil lançou o Programa de Alimentação do Trabalhador, usando incentivos fiscais para estimular a participação do setor privado. O resultado foi uma força de trabalho mais saudável, mais produtiva, e redução da fome — tudo sem ampliar o tamanho do governo. A França, de forma semelhante, enfrentou o desperdício alimentar exigindo que supermercados destinassem alimentos excedentes a instituições de caridade, em vez de descartá-los.Cada exemplo mostra que a verdadeira limitação não é a falta de recursos — mas a falta de vontade política. O Congresso poderia seguir o mesmo caminho modernizando o código tributário para alinhar interesses públicos e privados.Assim como investimos em estradas, escolas, pontes e banda larga para fortalecer nossa economia, deveríamos investir na única coisa que todo cidadão precisa para funcionar: comida. Embora críticos defendam que a alimentação é responsabilidade individual, os dados mostram que ela é tanto infraestrutura pública quanto necessidade básica.Cada US$ 1 investido na redução da insegurança alimentar gera cerca de US$ 3 em atividade econômica por meio de melhores resultados de saúde, maior desempenho escolar e maior produtividade no trabalho. Em qualquer mercado racional, isso é retorno positivo — algo que, como nação capitalista, deveríamos apoiar.Nosso país, fundado na ideia de oportunidade e abundância conquistada, está sendo cada vez mais definido pelas indignidades diárias da escassez.A questão não é se temos recursos para acabar com a fome na América (temos), mas se vamos mobilizá-los. Isso exige visão clara, coragem política e, acima de tudo, apoio bipartidário para uma solução que dure mais do que um único ciclo orçamentário.Uma solução sistêmica poderia restaurar nossa vitalidade econômica ao mesmo tempo em que renovaria o sonho americano — garantindo que cada cidadão usufrua da prosperidade nacional, em vez de apenas observá-la à distância. E os legisladores americanos podem corrigir o rumo em meses, não anos.Afinal, Jefferson sabia que comida sustenta mais do que corpos; sustenta a própria república. Todos nós deveríamos recordar isso.As opiniões expressas nos artigos de opinião da Fortune.com representam apenas os pontos de vista de seus autores e não refletem necessariamente as opiniões e crenças da Fortune.2025 Fortune Media IP LimitedThe post 47 milhões têm insegurança alimentar nos EUA; por que o país não resolve a fome? appeared first on InfoMoney.