Os recordes consecutivos do Índice Bovespa e a esperada redução dos juros básicos pelo Banco Central devem estimular mais empresas a emitir ações na bolsa brasileira neste fim de ano e no começo do próximo. Redução de endividamento, reforço de caixa antes das eleições, venda de participações de grandes acionistas e até mesmo antecipação do pagamento de dividendos podem impulsionar as ofertas públicas de empresas que já estão no mercado, as chamadas ofertas subsequentes, ou “follow-ons”.Aberturas de capital, ou IPOs, que não aparecem no mercado brasileiro desde 2021, contudo, ainda podem levar algum tempo para voltar – talvez, até o fim do próximo ano – por conta da incerteza com a eleição presidencial. “A seca de aberturas de capital na bolsa brasileira está perto de acabar, mas é mais provável que isso ocorra no fim de 2026 ou em 2027”, afirma George Costa e Silva, responsável pela área de Mercados de Capitais de Renda Variável do Bradesco. Segundo ele, o banco analisa cinco ofertas subsequentes que podem sair ainda este ano ou no começo do ano que vem. Leia mais: Bolsa em máxima histórica: ainda dá para entrar – e ganhar?Ofertas em baixaAs ofertas de ações são importantes para o investidor ao aumentar o número de ações em circulação e trazer novos nomes para o mercado, o que não acontece no Brasil desde 2021. As operações que acontecem, nos últimos anos, têm se concentrado em empresas já negociadas e podem ser primárias, quando a companhia emite ações novas e levanta recursos para investir no negócio, e secundárias, quando um grande sócio vende parte das ações que possui. Neste ano, foram feitas nove ofertas públicas de ações, mesmo número do ano passado, mas o menor desde as cinco ofertas de 2018, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, a Anbima. As emissões recentes serviram, na maioria, para abater dívidas. Foi o caso da Cosan, que realizou duas ofertas apenas neste mês, captando no total R$ 10,5 bilhões. Mais de dois terços do total levantado este ano, de R$ 15 bilhões. O volume, ficou abaixo dos R$ 25 bilhões de 2024, mas esses números ainda podem crescer com algumas ofertas na reta final deste ano. Alta concentradaA bolsa está no maior nível de todos os tempos, mas a alta das ações ainda se concentra em alguns setores específicos, que têm atraído bastante fluxo de investimentos e que representam as maiores capitalizações da bolsa e do Índice Bovespa. São empresas que não precisam necessariamente emitir ações, caso do setor financeiro, de telecomunicações e energia. Indiretamente, porém, essa alta concentrada deve beneficiar as ofertas, já que grandes investidores, como as gestoras de recursos, têm esses papéis em carteira e os ganhos devem ser reaplicados no mercado de ações. “Em algum momento, esse dinheiro deve voltar ao sistema na forma de alocação de risco, em renda variável, no mercado de capitais”, afirma Costa e Silva. “O terreno para as ofertas está arado, a semente plantada, e daqui a pouco estaremos na fase de colher os frutos quando tivermos atividade maior e queda nos juros”, diz.Ajuda nisso o fato de o mercado de renda fixa já estar começando a ficar saturado, com queda das taxas do crédito privado, especialmente nos papéis incentivados, o que pode estimular uma rotação de renda fixa para renda variável. “Temos assets ganhando dinheiro com a bolsa, renda fixa menos atrativa, juros caindo, então devemos ter um movimento que impulsione o mercado de renda variável, provavelmente no começo do ano que vem” afirma Costa e Silva. Por conta da eleição, porém, a expectativa é que as ofertas se concentrem entre janeiro e maio de 2026.Leia também: Dividendos extraordinários: como as empresas podem driblar novo impostoMotivos para levantar recursosEntre os motivos para ofertar ações deve estar a necessidade de reduzir o endividamento, caso recente da Cosan, e que pode incluir outras empresas como as de consumo e varejo. Captações para investimento no negócio também devem ocorrer, apesar de 2026 ser um ano eleitoral. E mais: algumas empresas vão querer se preparar para oportunidades, especialmente nos setores de energia e infraestrutura. “Teremos alguns leilões nesses setores no ano que vem e algumas companhias vão buscar reforçar seu caixa para adequar sua estrutura de capital com renda variável e não só com renda fixa”, afirma Castelo Branco.Podem ocorrer também ofertas mais oportunísticas, de ações já em poder de grandes acionistas ou fundos de private equity que vão aproveitar a valorização recente da bolsa para realizar lucros vendendo um pouco de participação. Nesse caso, o dinheiro não vai para a empresa, mas para o bolso do sócio, que vai buscar então outras oportunidades. “São esses três temas, desalavancagem, investimento e ofertas secundárias para reciclar portfólio para estar com dinheiro antes de ano eleitoral”, diz Castelo Branco.Captação para dividendos Outro fator que pode aumentar as ofertas ainda neste ano é a tributação de dividendos aprovada no Congresso, com algumas empresas buscando antecipar-se à obrigatoriedade de retenção de 10% dos lucros distribuídos a partir de 2026. Castelo Branco acredita que haverá algumas ofertas primárias, de novas ações, para levantar recursos para pagar dividendos.Leia também: Dividendos: 20 empresas com chances de fazer grandes pagamentos antes de tributaçãoIPOs ainda devem demorarPara aberturas de capital, ou IPO, porém, a oportunidade terá de ser mais estrutural, não só pela queda dos juros. A decisão passa por uma definição do próximo governo e o que ele vai fazer no longo prazo com questões importantes como equilíbrio fiscal, gasto público, relação dívida PIB e os impactos macroeconômicos. “Os IPO vão depender de uma janela diferente, de uma visibilidade mais longa, que deve ocorrer depois das eleições, então devemos ver os IPOs mais para 2027 que para 2026”, diz Castelo Branco. O último grande movimento de aberturas de capital ocorreu em 2019, com a queda dos juros e o otimismo com a economia, o que fez o mercado de capitais brasileiro se reaquecer e as ofertas iniciais somarem 46 operações, quase batendo o recorde de 2007, de 64 IPOs.Exportação de mercado Uma exceção podem ser aberturas de capital no exterior. Empresas de setores que estão indo bem aqui e lá fora podem optar por um IPO nos Estados Unidos, por exemplo, caso de bancos e Fintechs. “Se bancos estão negociando com múltiplos altos lá fora, pode ser que, mesmo tendo um desconto grande, faça sentido o empresário seguir com um IPO de uma forma antecipada e não esperar a janela de 2027”, afirma Castelo Branco, lembrando que esse tema de exportação do mercado de capitais brasileiro já ocorreu em outros momentos com IPOs importantes nos Estados Unidos, casos da XP, PagSeguro e Stone. A última abertura de capital de uma empresa brasileira, inclusive, em 2021, foi do Nubank no exterior.Para este fim de ano, Castelo Branco está otimista, apesar da janela mais curta para os lançamentos, que têm de estar organizados antes do feriado de Thanksgiving nos Estados Unidos, ou seja, até dia 26 deste mês. “Este é o último mês para apertar o botão e ter uma oferta bem montada, pois dependemos da participação dos investidores estrangeiros e temos até dia 28 para colocar as ofertas na rua”, afirma. Depois, não tem mais nada, pois novas operações ocorreriam apenas no meio de dezembro e devem ficar para o ano que vem. The post IPOs vão voltar? Bolsa na máxima e juro em queda devem aumentar ofertas de ações appeared first on InfoMoney.