Em entrevista ao programa Meet the Press, da NBC, que foi ao ar neste domingo (14/9), o governador de Utah, Spencer Cox, falou sobre a influência das redes sociais na morte do ativista conservador Charlie Kirk. Segundo Cox, as plataformas são um “câncer” que alimentam discursos extremistas.Em outra entrevista à CNN, Cox contou que Tyler Robinson, de 22 anos, suposto autor do crime e preso na quinta-feira (11/9) em Utah, tinha uma “ideologia de esquerda” e vivia com uma companheira trans, “um homem em processo de transição para se tornar mulher”, explicou Cox. Leia também Mundo Em mensagem a parceiro, suspeito da morte de Kirk confessa crime. Leia Mundo Suspeito de matar Charlie Kirk é acusado e pode pegar pena de morte Mundo EUA: militares podem ser punidos por zombarem da morte de Kirk Mundo Postagens sobre morte de Charlie Kirk geram demissões nos EUA e Brasil Ele acrescentou que essa pessoa “não tinha ideia do que estava acontecendo” e tem cooperado com os investigadores, ao contrário do suposto atirador, que se recusa a dar detalhes. De acordo com o governador, os investigadores até agora não encontraram evidências da influência da companheira de Robinson no assassinato.“Isso é o que estamos tentando determinar agora mesmo. É fácil tirar conclusões precipitadas, mas quero ser cauteloso”, declarou. Robinson será formalmente acusado nesta terça-feira (16/9).Na NBC, o governador ainda comentou as reações de Donald Trump, que responsabilizou a “esquerda radical”. O governador disse ter conversado com o presidente, reconhecendo que ele está “irritado e tem direito de estar”, assim como muitos americanos.Durante a coletiva em que anunciou a captura do suspeito, Cox disse que chegou a rezar para que o atirador fosse alguém de fora do país, ou ao menos de fora do estado, mas que infelizmente ficou claro que o “inimigo” era interno.O assassinato de Charlie Kirk, um dos principais ativistas conservadores dos Estados Unidos e aliado próximo de Donald Trump, expôs ainda mais a divisão política nos EUA.Kirk, de 31 anos, era cofundador da organização Turning Point USA, grupo de direita que ganhou destaque entre jovens republicanos. Ele foi baleado enquanto discursava em um evento em Orem, uma cidade universitária no estado de Utah, na região oeste do país.Tyler James Robinson, de 22 anos, foi denunciado pelo próprio pai, que viu as imagens de vigilância liberadas pelo FBI e achou o suspeito parecido com o filho. Ele então conversou com o filho e insistiu para que ele se entregasse.Funeral terá presença do presidenteO funeral de Charlie Kirk está marcado para o próximo domingo (21/9), no estádio State Farm, em Glendale, no Arizona, uma arena com capacidade para 60 mil pessoas, normalmente usada em jogos da liga de futebol americano da NFL, e deve reunir milhares de apoiadores.O presidente Donald Trump já confirmou presença e tomou a decisão após conversar com a viúva de Kirk, Erika, que pediu que ele participasse da cerimônia. Trump afirmou sentir-se na obrigação de atender ao pedido e chamou Kirk de “lenda americana”.Erika, bastante emocionada, apareceu em um vídeo divulgado no fim de semana, ao lado do corpo do marido, repetindo várias vezes “Eu te amo”. Ela também mostrou a medalha presidencial da Liberdade, concedida a Kirk por Trump.A viúva também fez um pronunciamento nas redes sociais recentemente dizendo que “A voz do marido permanecerá.”Assassinato de Charlie Kirk divide e comove o paísO clima político nos Estados Unidos é de grande tensão. As reações à morte de Charlie Kirk refletem um país ainda mais polarizado e lembram os atentados contra Donald Trump no ano passado.Antes mesmo da prisão do suspeito, figuras da direita já apontavam o episódio como parte de um ataque mais amplo da esquerda contra o conservadorismo.Stephen Miller, assessor da Casa Branca, disse que o país perdeu “um de seus maiores campeões” e que é hora de derrotar o “mal” que tirou Kirk do mundo. A ativista Laura Loomer pediu uma ofensiva total do governo contra grupos de esquerda, e o bilionário Elon Musk escreveu que “a esquerda é o partido do assassinato”.Donald Trump, por sua vez, culpou o discurso de ódio de adversários políticos e disse que a violência é resultado de anos de ‘demonização’ contra conservadores.Já os democratas reagiram com mais cautela. O ex-presidente Barack Obama afirmou que esse tipo de violência não tem lugar em uma democracia. Já a ex-deputada Gabby Giffords, sobrevivente de um atentado em 2012, reforçou que diferenças políticas não podem ser resolvidas com armas. Houve também críticas diretas a Trump, como a do governador de Illinois, JB Pritzker, que acusou o presidente de alimentar a retórica de violência no país.Esse clima de radicalização também chegou ao Brasil. O vice-secretário de Estado americano, Christopher Landau, anunciou no sábado que ordenou a revogação do visto de um médico brasileiro que comemorou a morte de Charlie Kirk nas redes sociais.O neurocirurgião Ricardo Barbosa escreveu no Instagram uma mensagem em tom de deboche, elogiando a mira do atirador. Landau afirmou esperar que autoridades brasileiras também investiguem o caso.Episódio reacendeu debate sobre armas e violência políticaDe acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, quase 47 mil pessoas morreram vítimas de armas de fogo em 2023 nos Estados Unidos, o terceiro número mais alto já registrado no país.Há dois anos, o Congresso aprovou a primeira grande lei de controle de armas em três décadas, endurecendo regras de verificação de antecedentes, mas o impacto sobre a violência armada foi mínimo.Pesquisas também mostram o risco de uma escalada política. Um levantamento da Reuters/Ipsos, feito no ano passado, apontou que uma pequena parcela de americanos — 6% — considera aceitável que membros do seu partido político usem intimidação ou ameaças para alcançar objetivos políticos.Ao mesmo tempo, vigílias e atos em homenagem ao ativista vêm acontecendo em várias partes do país, inclusive em Nova York. Na última sexta-feira (12), a Associação de Jovens Republicanos organizou uma vigília que, mesmo com alguma presença feminina, reuniu um público majoritariamente formado por jovens homens brancos, um retrato simbólico da base conservadora que Kirk ajudou a mobilizar.Leia mais em RFI, parceira do Metrópoles.