O mais recente esforço do presidente Donald Trump para reformular o sistema de imigração legal dos Estados Unidos — aumentando a taxa anual para solicitantes do visto H-1B de US$ 215 para US$ 100 mil — pode representar um grande golpe para algumas indústrias americanas que dependem de trabalhadores estrangeiros qualificados.Durante uma assinatura na Casa Branca na sexta-feira (19), Trump argumentou que a América precisa de “ótimos trabalhadores” e que a nova taxa imposta “praticamente garante que é isso que vai acontecer”. Autoridades do governo também afirmaram que a alta taxa incentivaria as empresas a contratar trabalhadores americanos.“A empresa precisa decidir… a pessoa é valiosa o suficiente para justificar um pagamento de US$ 100 mil por ano ao governo, ou deve voltar para casa e contratar um americano?”, disse o Secretário do Comércio Howard Lutnick durante a assinatura. “Esse é o objetivo da imigração: contratar americanos e garantir que as pessoas que estão vindo são as melhores entre as melhores.”Dos 85 mil vistos H-1B concedidos anualmente, outros 20 mil são reservados para pessoas com diplomas avançados de instituições de ensino superior americanas.Mas os aliados de Trump têm se dividido sobre como lidar com o programa de vistos.Vivek Ramaswamy e Elon Musk, escolhidos por Trump para liderar o Departamento de Eficiência Governamental, defenderam empresas que utilizam o visto de trabalho e dependem de trabalhadores estrangeiros para operar. Steve Bannon, um dos principais estrategistas do primeiro mandato de Trump, criticou os vistos H-1B em seu podcast “War Room” em dezembro de 2024, chamando-os de “golpe” dos titãs do Vale do Silício, que estão “tomando empregos americanos e trazendo o que essencialmente se tornam servos por salários mais baixos.”Veja o que a nova política significa para empresas e trabalhadores.Como os portadores de visto serão afetados?A taxa de US$ 100 mil para o visto, que entra em vigor no domingo à 00h01 (horário da costa leste), será aplicada apenas a novas solicitações de H-1B, segundo a Casa Branca. A regra expira um ano depois, em 21 de setembro de 2026, a menos que seja prorrogada.“Esta NÃO é uma taxa anual, é uma taxa única que se aplica apenas à petição”, publicou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, no X no sábado, acrescentando que não se aplica a renovações ou portadores atuais do visto.Google e Meta, empresa controladora do Facebook e Instagram, orientaram portadores de visto a reconsiderarem planos de viagens internacionais e cogitarem retornar aos Estados Unidos até sábado à noite, se necessário, segundo e-mails obtidos pela CNN.No entanto, Leavitt esclareceu na tarde de sábado que os atuais portadores de visto H-1B que estão fora dos Estados Unidos não serão cobrados em US$ 100 mil para reentrar no país.Quais setores serão afetados?A maioria das petições H-1B aprovadas durante o ano fiscal de 2024 — que se estendeu de 1º de outubro de 2023 a 30 de setembro de 2024 — foi para funções relacionadas à computação (64%), segundo relatório do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS).A segunda maior ocupação foi na área de arquitetura, engenharia e agrimensura (10%). O terceiro lugar em petições aprovadas foi para empregos relacionados à educação (6%), de acordo com o USCIS.O “maior setor industrial detalhado” para vistos H-1B aprovados estava relacionado à programação personalizada de computadores (25%). Serviços profissionais, científicos e técnicos foi o principal setor entre os empregadores (48%), enquanto a manufatura (11%) foi o segundo mais popular.Quais empresas podem ser mais afetadas?De acordo com o banco de dados do USCIS, a Amazon é a maior patrocinadora de vistos H-1B. O gigante do varejo online obteve aprovação para mais de 9 mil vistos H-1B durante o ano fiscal de 2024.Gigantes da tecnologia também dependem do programa H-1B, com o Google patrocinando 5.364 vistos H-1B aprovados no ano fiscal de 2024, seguido pela Meta (4.844), Microsoft (4.725) e Apple (3.873).O que isso significa para a competição por empregos?Pequenas empresas e startups têm maior probabilidade de hesitar diante dessa taxa de US$ 100 mil do que empresas como Amazon, Meta, Apple e Alphabet, a empresa controladora do Google.As quatro empresas têm uma capitalização combinada de aproximadamente US$ 11,1 trilhões. Leia Mais Acordo com Efta abre mercado rico, mas não alivia tarifaço de Trump Tarifaço: Dispositivos médicos mudam de rota para Europa e América Latina Tarifaço afeta mais de 10 mil empregos no setor madeireiro, alerta setor A taxa também poderia significar que trabalhadores nascidos no exterior seriam impedidos de ocupar cargos de entrada, já que o custo de US$ 100 mil seria um fardo muito grande para pagar por um trabalhador com salário mais baixo.Recém-formados, que estão enfrentando o pior mercado para novos graduados desde a pandemia de Covid-19, poderiam se beneficiar das vagas de emprego se elas permanecerem nos Estados Unidos. Essa é uma notícia particularmente boa para graduados em ciência da computação e áreas relacionadas à tecnologia, que estão entrando no mercado em meio a ondas de demissões e oportunidades em queda.O que as empresas farão?Durante sua campanha em 2016, Trump acusou empresas americanas de usarem vistos H-1B “com o propósito explícito de substituir trabalhadores americanos por mão de obra mais barata.”No entanto, o USCIS informou que, entre os pedidos de H-1B aprovados, a compensação anual média era de US$ 120 mil. As empresas provavelmente continuarão oferecendo salários mais altos para atrair os melhores talentos estrangeiros. Porém, as restrições podem fazer com que as empresas transfiram suas iniciativas de contratação para países como Índia, China e Canadá, segundo o Conselho Americano de Imigração.Como os candidatos a emprego são afetados?Impor limites aos portadores de vistos H-1B não garante que americanos serão contratados nos setores afetados. Quando a imigração diminuiu durante a pandemia e após a proibição temporária de alguns vistos de imigrantes pela primeira administração Trump, isso levou a um número recorde de vagas de emprego.Economistas alertaram na época que a escassez de trabalhadores não poderia ser resolvida sem aumentar a imigração.“As empresas estão tendo que recusar trabalho porque simplesmente não conseguem encontrar trabalhadores para fazê-lo”, disse Neil Bradley, diretor de políticas da Câmara de Comércio dos EUA, à CNN em 2021.A política pode enfrentar obstáculos legais?A nova taxa sobre vistos provavelmente será contestada nos tribunais americanos.“Para ser claro, o presidente não tem absolutamente nenhuma autoridade legal para impor uma taxa de US$ 100 mil sobre vistos”, afirmou Aaron Reichlin-Melnick, pesquisador sênior do Conselho Americano de Imigração, no X. “A única autoridade que o Congresso já concedeu ao poder executivo neste caso é cobrar taxas para recuperar o custo do processamento da solicitação.”Fundos sustentáveis crescem 48% em ano de COP30, diz pesquisa