Um ano depois da promulgação da Lei 14.902/24 (apelidada de “taxa das blusinhas“) o varejo brasileiro voltou a ganhar fôlego e criou 1,2 milhão de vagas de emprego.Apesar disso, a igualdade tributária segue uma utopia varejista — e a preocupação do setor é que a taxa menor do Brasil ante a de outros mercados coloque o consumidor verde-amarelo de volta à mira chinesa.Esta é a avaliação de Edmundo Lima, presidente da Abvtex(Associação Brasileira do Varejo Têxtil), ao CNN Money, baseada em informações da PMC (Pesquisa Mensal de Comércio), publicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).As informações abrangem os primeiros 11 meses de vigência da medida, dado que os números de julho ainda não foram divulgados pelo instituto. Leia Mais Lojas Renner vê 2º semestre mais difícil, mas 2026 melhor, diz CFO Fim de uma era: "Taxa da blusinha" afeta americanos e comércio global Digital acelera crescimento e fortalece margens no varejo Saldo positivoPara refrescar a memória: a partir de agosto de 2024, sites estrangeiros de vendas como Shein, Shopee e Aliexpress passaram a pagar impostos no Brasil (neste caso, o ICMS estadual, de 20%, e o imposto de importação federal, também de 20%) em todas as compras.Seguro dizer que a medida não entrou para o hall das mais celebradas. De acordo com uma pesquisa de março, feita pela AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, 64% dos entrevistados consideraram a taxa das blusinhas o maior erro da administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).Tirando o baque na popularidade, o saldo foi positivo para o governo. Os dados do IBGE mostram que a arrecadação federal cresceu oito vezes com o fim da isenção do imposto. Nos 12 meses antes dela, foram R$ 371 milhões recolhidos. O valor saltou a R$ 2,993 bilhões.O maior advogado (e beneficiado) pela tarifa foi, naturalmente, o varejo brasileiro. No período, houve um crescimento real de 5,47% no setor têxtil e de moda (o mais atingido pela concorrência com plataformas internacionais).No recorte temporal, o comércio brasileiro também criou 194 mil empregos diretos e outros 1 milhão de empregos indiretos. Os trabalhadores do setor, por sua vez, receberam um incremento salarial total de R$ 1,6 bilhão.“Pré-tarifa, o segmento estava vivendo um decréscimo de postos de trabalho e enfraquecimento da economia setorial. Depois dela, especialmente na moda, construção e eletrodomésticos, vemos uma abertura e investimento em novas vagas”, avalia Edmundo, da Abvtex.Dados da associação confirmam o movimento: sem revelar nomes, Lima diz que uma pesquisa feita neste ano com cinco empresas do setor com capital aberto mostrou a previsão de investimento na ordem de R$ 2,8 milhões ainda em 2025, entre abertura de lojas e expansão de suas atividades econômicas.EUA isentar tarifas mostra dependência de importações, diz especialista | Money NewsPedra no sapatoO presidente da Abvetx é enfático ao celebrar o cenário. Apesar disso, defende ao CNN Money que a medida não garantiu a isonomia tributária e concorrência leal com as empresas de fora.Lima explica: enquanto as plataformas pagam, em média, 45% de imposto (a variação depende do ICMS de cada estado), a indústria e varejo brasileiro enfrentam uma carga tributária de 90% sobre seus produtos.“As empresas nacionais enfrentam maior peso e complexidade tributária, mesmo depois de termos sensibilizado o governo à causa”, diz.Inicialmente, o pleito da associação era a redução na carga econômica nacional. Por “desafios no equilíbrio do orçamento federal”, contudo, o empresário explica que a categoria tem advogado por uma equiparação das tarifas, subindo as internacionais também a 90%.O Brasil foi um dos pioneiros na tributação. Depois dele, México, Chile e Equador anunciaram tarifas sobre importações; a Comissão Europeia começou a estudar a cobrança de uma taxa de 2 euros sobre vendas do tipo; e os Estados Unidos eliminou seu “de minimis”, que permitia a entrada nos Estados Unidos de mercadorias no valor de US$ 800 ou menos sem tarifas.Contudo, a discrepância entre a tributação nacional e internacional pode levar a China a redirecionar o volume de produtos ao Brasil, por ainda considerar a taxa “conveniente” quando comparado a outros mercados.“Não queremos protecionismo ou fechamento de mercado. Defendemos a igualdade de condições”, finaliza.Brasileiros têm 70,5% da renda comprometida com contas, diz Serasa