Marco França celebra carreira entre atuação e música: “Ressignificado”

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Festejando 35 anos de carreira, o ator, músico e compositor potiguar Marco França vive um momento plural em sua trajetória artística. Atualmente em Guerreiros do Sol, do Globoplay, o famoso não apenas atua, mas também assina canções que compõem a trilha da produção. Ele também integra o elenco do filme Homem com H, sobre a vida de Ney Matogrosso, interpretando o maestro Levino.Em entrevista à coluna Fábia Oliveira, ao falar sobre sua carreira, Marco relembra momentos decisivos: “Acredito que a minha vinda pra São Paulo é um divisor de águas nessa trajetória. Aqui pude experimentar uma realidade como artista autônomo, já que todas as minhas vivências anteriores estavam ligadas a fazeres coletivos. Tudo foi ressignificado desde então”. Leia também Fábia Oliveira Luiz Carlos Vasconcelos revela bastidor marcante de Guerreiros do Sol Fábia Oliveira Exclusivo: Globoplay toma medida sobre documentário das Paquitas Fábia Oliveira Sindicato detona GloboPlay por uso de inteligência artificial Fábia Oliveira “Um cara bom que mata gente”, conta Alexandre Nero sobre Miguel Inácio O ator também comentou sobre a experiência de unir atuação e música em Guerreiros do Sol: “Como há poucos registros de forrós das décadas de 1920 e 1930, usamos como referência o disco As Cantigas de Lampião, interpretado pelo Volta Seca. Compor canções que dialogassem com as cenas foi algo muito orgânico para mim. É quase inevitável que meu lado músico transborde para outros papéis”, declarou.4 imagensFechar modal.1 de 4Marco FrançaFoto: Caio Oviedo2 de 4Marco FrançaFoto: Caio Oviedo3 de 4Marco FrançaFoto: Caio Oviedo4 de 4Marco FrançaFoto: Caio OviedoMarco França destacou, ainda, a relevância de produções com raízes nordestinas ganhando espaço no streaming: “O mercado começou a olhar com mais atenção pra gente, artistas do Nordeste. Somos plurais: sertão, cidade, litoral… urbanos, contemporâneos, com sotaques e jeitos diferentes”.Sobre sua participação em Homem com H, ele afirmou: “Que sorte a minha estrear nos longas contando a história de um artista tão incrível como Ney Matogrosso! No filme, faço o maestro Levino, que acolheu o Ney do jeito que ele é, deixando-o cantar com sua voz marcante. Ver o público abraçando o filme é emocionante demais”.O músico também prepara o lançamento de seu primeiro álbum autoral. Além disso, Marco França segue contribuindo para o teatro musical, como diretor musical de Rita Lee – Uma Autobiografia Musical, estrelado por Mel Lisboa, que já percorreu o país e conquistou público e crítica.Confira a entrevista completa com Marco França:São 35 anos de carreira artística! Que momentos foram mais transformadores nesse caminho como ator e músico?Acredito que a minha vinda pra São Paulo é um divisor de águas nessa trajetória. Aqui (SP) eu pude experimentar uma realidade como artista autônomo, já que todas as minhas vivências anteriores estavam ligadas de alguma forma a fazeres coletivos. E isso ampliou as minhas possibilidades de encontros para trabalhar com uma diversidade ainda maior de grupos e artistas. A partir dessa migração também comecei a fazer trabalhos de voz original e o meu início no audiovisual (TV e Cinema). Tudo foi ressignificado desde então.Você está em “Guerreiros do Sol” como ator e também com músicas suas na trilha. Como foi viver essa dualidade no projeto?Além de ator, eu também sou compositor, então já tenho o costume de pensar a música a partir dos personagens. Como há poucos registros de forrós das décadas de 1920 e 1930, usamos como referência o disco As Cantigas de Lampião, interpretado pelo Volta Seca — que, inclusive, foi um dos cangaceiros do bando. A partir disso, compor canções que dialogassem diretamente com as cenas foi algo que aconteceu de forma muito orgânica pra mim. E acredito que isso vai continuar acontecendo… Tenho certeza de que ainda vou encontrar outros personagens que, como o Fabiano, vão acabar me pedindo emprestado esse meu lado músico. É quase inevitável. Acho que isso é, sim, um diferencial no meu trabalho: essa mistura entre ator, músico e compositor que acaba transbordando de um papel pro outro.Qual é a importância de ter produções com raízes nordestinas ganhando destaque no streaming?Acho que o mercado começou a olhar com mais atenção pra gente, artistas do Nordeste — quem somos, o que produzimos. E somos plurais: somos o pessoal do sertão, da cidade, do litoral… somos urbanos, contemporâneos, com sotaques e jeitos diferentes. Um povo muito diverso. Lá em Natal, onde nasci, sempre foi mais fácil fazer música e teatro, era o que estava mais ao alcance. Já o audiovisual, principalmente lá no começo da minha trajetória como ator, há uns 25 anos, era bem mais distante, com poucas oportunidades. Mas o bichinho do cinema e da TV sempre me mordeu — esse desejo de explorar outras linguagens sempre caminhou comigo.Fale um pouco sobre seu papel como o maestro Levino no filme Homem com H. Como foi mergulhar no universo de Ney Matogrosso?Que fase linda tá vivendo o cinema brasileiro! E olha, que sorte a minha estrear nos longas com HOMEM COM H , contando a história de um artista tão incrível e único como o Ney Matogrosso! No filme, eu faço o maestro Levino, um pernambucano super importante na vida do Ney. Foi ele quem teve a sensibilidade de acolher o Ney do jeito que ele é e sempre foi deixando ele cantar com aquela voz marcante e cheia de personalidade, mesmo dentro de um coral — que, muitas vezes, costuma ser um espaço mais rígido, onde tudo tende a ser padronizado, sobretudo nos anos 1960. E o mais bonito é que essa cena só tá no filme porque o próprio Ney fez questão dela, de tão significativa que foi pra ele. Ver como o público abraçou o filme, lotando as salas pelo Brasil todo e agora já podendo ser visto no streaming é emocionante demais!Existe uma relação especial entre a música que você faz e a ousadia que Ney representa?Acredito que todo artista precisa pensar e ser um pouco fora daquilo que se espera dele. Nossa função é provocar o pensamento crítico, um olhar mais subversivo e questionador diante do mundo. E o Ney quando surge derruba portas e paradigmas com toda sua elegância e genialidade. Ele performa a transgressão com muita naturalidade sendo quem ele é, simplesmente existindo. Busco ser um por cento assim quando coloco minha arte no mundo. O Ney certamente é uma grande inspiração pra mim. O disco dos Secos e Molhados foi uma das minhas principais referências musicais na minha adolescência.Está vindo aí seu primeiro álbum de canções autorais. Existe uma faixa do novo trabalho que tenha um significado especial para você? Por quê?Difícil eleger uma, porque elas são registros de momentos únicos. Seja pelo que está dizendo, pelo momento em que foi composta, gravada ou pelas pessoas que estão tocando naquela faixa. Mas destaco a canção “Quase tudo quase nada” que foi composta em parceria com o ator, diretor e dramaturgo Henrique Fontes na época em que estávamos montando o espetáculo Muito Barulho por Quase Nada (2003), uma adaptação da obra “quase” homônima de Shakespeare com o Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare de Natal (RN) que fiz parte durante 15 anos e que foi muito importante na minha formação como artista. Essa canção foi a música tema desta peça que foi a minha primeira como ator e diretor musical e marca o início da minha profissionalização no teatro.Sua contribuição ao teatro musical é gigante. Como é assinar a direção musical de um sucesso como Rita Lee – uma autobiografia musical?Ah, ter estado ao lado do Marcinho Guimarães na direção musical desse sucesso que é Rita Lee – Uma Autobiografia Musical foi incrível! Um presentão mesmo receber esse convite do meu amigo e diretor Márcio Macena. Imagina: poder mergulhar num repertório tão poderoso como o da Rita… não tem como dar errado! O espetáculo já chegou chegando — estreou com todos os ingressos esgotados e, o que era pra ser só uma temporada de três meses, acabou ficando mais de um ano em cartaz no mesmo teatro. Agora, está viajando pelo país, e é lindo ver o carinho do público em cada cidade. Claro que tem muitos fatores que explicam esse sucesso todo. A Mel, por exemplo, tá brilhante como Rita.Tem hora que a gente se pega pensando: ‘Gente, é ela ali no palco?!’. Mas, no fim das contas, a verdade é que a grande estrela por trás de tudo isso é a própria Rita Lee. Esse fenômeno, essa bruxona maravilhosa, que segue encantando e inspirando todo mundo.Você fez sua estreia na TV em Mar do Sertão há pouco tempo. Por que demorou tanto para esse espaço se abrir?Olha, com certeza Fubá Mimoso foi um divisor de águas pra mim como ator — especialmente no audiovisual, porque foi ali que pisei nas telinhas pela primeira vez para o grande público. Um marco, sem dúvida! A verdade é que minha trajetória sempre foi muito mais ligada à música e ao teatro, e tudo foi acontecendo de forma bem natural, sem grandes planejamentos. Já o audiovisual… é um outro rolê. Tem muitas variáveis envolvidas pra conseguir realizar um trabalho, seja em cinema, série ou TV.E tem outro ponto importante nisso tudo: essa abertura pra artistas fora do eixo Rio-São Paulo ainda é bem recente. Vindo de Natal, que foi onde cresci e me formei como artista, eu sentia que o acesso era mais limitado. Mas, ao mesmo tempo, acredito muito que as coisas chegam quando precisam chegar. E fico feliz que esse momento tenha vindo há pouco tempo.Como artista nordestino, que mudanças você enxerga, ou espera, no mercado audiovisual brasileiro?Espero sinceramente que um dia deixemos de precisar falar sobre isso. E acho que só vai acontecer quando as pessoas que dão a palavra final numa escolha de elenco, por exemplo, entenderem que assim como atores sudestinos podem fazer personagens com outros sotaques que não são os seus de origem, nós atores do nordeste, que tem 9 estados bem diferentes um do outro incluindo assim e considerando a sua diversidade na prosódia também podemos fazer personagens sudestinos. Quando eu for lembrado simplesmente como “um ator” independente de onde eu venha e que isso não seja um impedimento para pensar em mim como tipos ou personagens outros que não sejam a partir do arquétipo ou da fantasia do imaginário de um nordeste inventado, aí sim estaremos num outro momento mais equilibrado no que diz respeito às oportunidades de bons trabalhos.Se você pudesse resumir esses 35 anos em um verso ou uma música, qual seria?Sem dúvidas “Caçador de mim” de Milton Nascimento: “ Nada a temer senão o correr da luta. Nada a fazer senão esquecer o medo. Abrir o peito a força, numa procura. Fugir às armadilhas da mata escura. Longe se vai sonhando demais, mas onde se chega assim. Vou descobrir o que me faz sentir: Eu, caçador de mim”.