Especialistas não cansam de dizer que a próxima pandemia não é uma questão de “se”, mas “quando” e muitos acreditam que isso não deve demorar muito para acontecer. Um dos possíveis causadores dessa emergência mundial de saúde é o vírus da gripe aviária H5N1, que foi muito falado no último ano devido ao surto no rebanho leiteiro dos EUA.Leia tambémNova diretriz: Pacientes com sobrepeso ou obesidade devem ter risco cardíaco avaliadoDocumento assinado por 5 sociedades médicas do Brasil foca na saúde cardiovascular de pacientes adultos com excesso de pesoMounjaro em comprimido? Pílulas para perda de peso podem estar disponíveis em breveEstudos apresentados recentemente apontam perda de peso de, em média 16 a 20%, com comprimidos para obesidadeAtualmente, quase todos os estados americanos têm focos da doença, seja em aves, gado leiteiro ou outros animais. Além disso, a doença também já é endêmica em animais em outros países das Américas. Diante disso, a médica virologista e infectologista Nacy Bellei, professora da Unifesp, afirma que nesse momento, “o foco e risco de uma nova pandemia vem principalmente das Américas e dos Estados Unidos”.— Você vê vários animais, não só aves, como mamíferos infectados, e o genótipo desse vírus se modificando rapidamente, de tal forma que num determinado animal, por exemplo, nos mamíferos marinhos, causa um tipo de quadro, nas aves, outro, e no gado, outro. Então a gente vê uma extensa modificação — diz a médica em um panorama sobre o que está por vir em relação à gripe sazonal e à gripe aviária, apresentado durante o 24º Congresso Brasileiro de Infectologia, realizado em Florianópolis.Em relação aos casos em humanos, desde 2022, foram registrados 70 casos em humanos nos EUA, a imensa maioria leve, tendo como principal sintoma a conjuntivite. Segundo Bellei, muitas pessoas acreditam que isso seja um indicador que a infecção por H5N1 em humanos é leve, mas não é bem assim.Os vírus da gripe aviária se ligam preferencialmente a um tipo de receptor de ácido siálico predominante em aves, enquanto os vírus da gripe sazonal humana se ligam a outro tipo de receptor de ácido siálico predominante no trato respiratório humano. No olho humano, o receptor “das aves” é o mais frequentemente encontrado. Esse receptor também está muito presente na glândula mamária das vacas. Então isso explicaria por que o vírus está causando infecções oculares em humanos que contraíram a infecção após o contato com o gado leiteiro.Isso significa também que não sabemos se o H5N1 vai se adaptar aos humanos e o que vai causar, em termos de sintomas e de transmissão, quando isso acontecer. No entanto, segundo Bellei, temos o cenário ideal para aumentar o risco potencial de uma nova pandemia.E qual é esse cenário? A possibilidade de adaptação do vírus H5N1 ao organismo humano, associado à ampla circulação do influenza em uma população humana pouco imunizada.Para começar, já está bem claro que o H5N1 é um vírus endêmico entre animais na região das Américas e não apenas entre aves, mas também entre mamíferos.— A gente tem que lembrar que a grande maioria das pandemias não foi um vírus aviário direto. Era um vírus de origem aviaria, que fez uma combinação com outro influenza, de outro animal. Geralmente foram os suínos, porque eles têm os dois tipos de receptores (presentes em aves e em humanos) e convivem com a espécie humana. Então o suíno pode ser uma fonte para a espécie humana — explica Bellei. — E o grande problema é que não fazemos vigilância em suíno — completa.Além disso, esse ano houve grande circulação do influenza, causador da gripe, entre humanos. Dados do boletim Infogripe, da Fiocruz, mostram que 52% das mortes por síndrome respiratória aguda grave (Srag) confirmadas este ano foram causadas pelo influenza A. Por outro lado, a taxa de vacinação de gripe entre idosos, um dos grupos mais suscetíveis a quadro graves da doença, teve o menor índice dos últimos seis anos, atingindo apenas 42% de cobertura.— O risco para a espécie humana, pelo CDC e pelas agências internacionais, ainda é considerado baixo, mas não é zero. E o comportamento do vírus está endêmico. A possibilidade de rearranjo genético com suínos, com a ampla circulação de influência na população humana, pouco imunizada, porque temos uma baixa aderência de vacinação, é o cenário ideal para aumentar o risco potencial de uma nova pandemia — avalia Bellei.A boa notícia é que existem alguns estudos que indicam que uma infecção prévia pelo H1N1 (vírus causador da gripe) ou ainda ter tomado a vacina de gripe pode conferir algum grau de proteção contra o H5N1. Além disso, já existem vacinas prontas e aprovadas contra o vírus.As vacinas contra o H5N1 estão disponíveis e em uso em algumas regiões para grupos de alto risco, como avicultores, a fim de prevenir a infecção pela gripe aviária. Além das vacinas tradicionais, estão em desenvolvimento vacinas de mRNA contra o H5N1, que permitem atualizações mais rápidas caso haja mudança na cepa do vírus.The post Risco de nova pandemia nesse momento vem principalmente das Américas, diz virologista appeared first on InfoMoney.