Superquarta: mercado mira tom do Fed e do Copom mais do que as decisões de juros

Wait 5 sec.

Mais do que a decisão sobre as taxas de juros, o mercado financeiro está de olho no tom da declaração dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos nesta Superquarta. O motivo é claro: o comunicado das instituições deve revelar, nesta quarta-feira (17), as intenções futuras da política monetária, não apenas o que está sendo decidido agora.Especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmam que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) deve anunciar um corte inicial nos juros, acompanhado de uma comunicação descrita como dovish-cautelosa. Isso significa reconhecer algum alívio no mercado de trabalho e uma inflação mais benigna, mas ao mesmo tempo enfatizar que os próximos passos dependerão de dados futuros e que não haverá um cronograma antecipado de reduções.Nos EUA, a pressão por flexibilização aumentou depois que o número de pedidos de auxílio-desemprego atingiu o maior patamar em dois anos. O Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês) também revisou para baixo a criação de empregos até março, de 1,8 milhão para 911 mil.Esses sinais de desaquecimento contrastam com uma inflação ainda persistente e reforçam a visão de que a autoridade monetária prefere adotar uma comunicação cuidadosa, calibrando expectativas sem se comprometer com um ciclo definido de cortes.Por lá, a expectativa compartilhada por diversos bancos como Bank of America (BofA) e JPMorgan, é de um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.), ajustando a taxa para um intervalo de 4% a 4,25% ao ano.No Brasil, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom, órgão do Banco Central) mantenha a Selic em 15% ao ano. O discurso deve vir com tom de vigilância, mesmo após uma melhora nas projeções de inflação captadas pelo boletim Focus. A autoridade monetária reconhece a recente deflação e a queda do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), mas deve reforçar a necessidade de manter os juros elevados por mais tempo para garantir a ancoragem das expectativas.Bruna Centeno, economista da Blue3 Investimentos, diz que, na prática, o tom do comunicado pode mexer bastante com os mercados se vier diferente do que já está precificado. A Bolsa brasileira, por exemplo, acompanha com sucessivos recordes nas últimas sessões a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos, porque o investidor estrangeiro tende a direcionar recursos para economias que oferecem melhor retorno.“O risco é que, caso o Fed não corte os juros, haja um movimento contrário, já que o mercado trabalha com uma probabilidade de cerca de 90% de redução de 0,25 ponto percentual. Ou seja, parte do otimismo já está incorporada nos preços, e qualquer sinal mais cauteloso pode gerar correção imediata”, diz.Leia mais: Copom deve manter Selic e projeção de gestores aponta juro em 12,25% ao fim de 2026Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, se o Federal Reserve (Fed) adotar uma postura mais conservadora na decisão desta semana, há risco de correção no Ibovespa e em outras bolsas globais.A sinalização de um ritmo mais lento de flexibilização também pode provocar realização de lucros em mercados que vêm renovando máximas e reabrir o prêmio de risco. Para emergentes, conforme ele, o impacto tende a ser mais acentuado, devido à maior sensibilidade às condições financeiras internacionais.No caso brasileiro, o quadro interno adiciona pressão, de acordo com Thiago Costa Azevedo, sócio-fundador da Guardian Capital. Ele explica que além da vulnerabilidade aos fluxos globais, os dados econômicos locais trazem preocupação, com uma situação fiscal delicada e projeções que já apontam para risco de um “apagão fiscal” em 2027 (quando o orçamento poderia ficar totalmente engessado por despesas obrigatórias, sem espaço para investimentos), fator que pode reduzir o apetite de investidores estrangeiros pelo país.Pós-Superquarta: efeitos de juros sobre bolsas, commodities e fluxo de capitaisCortes de juros nos Estados Unidos tendem a beneficiar tanto as bolsas quanto as commodities, explicam os especialistas. A redução do custo de capital e a expectativa de um dólar mais fraco historicamente favorecem múltiplos de ações e preços de ativos em dólar, como ouro e metais industriais. Ainda assim, parte desse movimento já foi antecipada pelos mercados, que aguardam o tom do discurso de Jerome Powell para calibrar as projeções de 2025 e 2026.No mercado acionário, a perspectiva de juros menores pode ampliar o apetite por risco, sobretudo em setores mais descontados após anos de preferência global por renda fixa. Já nas commodities, diz Centeno, a expectativa é de maior demanda em um ambiente de liquidez mais frouxa e câmbio menos pressionado. O risco, no entanto, é que qualquer sinalização mais cautelosa ou cortes abaixo do esperado reverta o otimismo atual.“Essa alta costuma acontecer no curto prazo. Se, no médio e no longo prazo, não houver fundamentos econômicos e estruturais para manter a tendência de alta, apenas os juros não conseguem segurar”, avisa Azevedo.Por outro lado, a manutenção da Selic em 15% pelo Banco Central preserva o diferencial de juros, tornando o Brasil atrativo para o chamado carry trade, estratégia em que investidores captam recursos em países com juros mais baixos e aplicam em ativos locais de maior rendimento. Esse fluxo de capital, explica LIma, sustenta a demanda por renda fixa e ajuda a ancorar o câmbio. Com cortes de juros nos EUA, a tendência é de aumento da entrada de dólares, pressionando o câmbio para baixo no curto prazo.The post Superquarta: mercado mira tom do Fed e do Copom mais do que as decisões de juros appeared first on InfoMoney.