O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu do governo dos Estados Unidos autorização para viajar a Nova York, mas com restrições de circulação semelhantes às que já foram aplicadas a chanceleres iranianos em edições anteriores da Assembleia Geral da ONU. Padilha poderá se deslocar apenas entre o aeroporto, o hotel, a sede da ONU, a Missão Permanente do Brasil e a residência oficial do embaixador brasileiro, onde também ficará hospedado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida também vale para familiares do ministro.Na prática, isso impede que Padilha estenda a viagem a Washington, como pretendia, para participar de reunião da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O Itamaraty ainda avalia se apresentará recurso ao Departamento de Estado. O governo americano abriu a possibilidade de pedido de “isenção justificada”, mas exige antecedência mínima de dois dias úteis, prazo que inviabiliza a participação do ministro na comitiva de Lula, que embarca no próximo domingo (21).Restrições desse tipo não são inéditas. Em 2019 e 2023, os chanceleres iranianos Mohammad Javad Zarif e Hossein Amir-Abdollahian enfrentaram limitações semelhantes, podendo circular apenas por poucos quilômetros em torno da ONU e da missão de seu país. Autoridades de Cuba, Síria, Venezuela, Rússia, China e Coreia do Norte também já protestaram contra as regras.Os Estados Unidos alegam razões de segurança e sustentam que o acordo assinado em 1947 para sediar a ONU em Nova York não garante liberdade irrestrita de deslocamento, mas apenas o acesso às atividades oficiais da entidade. O Brasil, embora não seja membro da comissão da ONU que trata das relações com o país anfitrião, manifestou-se recentemente contra essas práticas.Diplomatas ouvidos em Brasília classificaram a decisão como uma provocação do governo Trump e um gesto de hostilidade contra um aliado ocidental. Segundo interlocutores, o caso é ainda mais sensível porque Padilha é associado ao programa Mais Médicos, que, em seus primeiros anos, enviava parte dos recursos para Cuba — ponto de atrito com setores conservadores dos EUA. Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! WhatsApp Para o governo brasileiro, a medida soma-se a outras dificuldades recentes, como a demora na concessão do visto ao ministro e o anúncio americano de restrições à delegação palestina. A leitura em Brasília é de que a decisão tem também um componente ideológico e político interno, em sintonia com a base eleitoral de Trump, especialmente entre cubano-americanos na Flórida.*Com informações do Estadão ConteúdoPublicado por Felipe Cerqueira Leia também EUA liberam visto de Padilha para acompanhar Lula em evento da ONU em Nova York 'Tô nem aí', diz ministro da Saúde sobre visto para os Estados Unidos