As forças russas continuam avançando lentamente no leste da Ucrânia e reivindicaram a tomada de novos vilarejos na região de Donetsk. As tropas marcaram uma progressão nos últimos dias em direção a Kostiantynivka, um ponto estratégico na rota para Kramatorsk – considerada a “capital” do Donbass ainda sob controle de Kiev. Cada vez mais moradores estão optando por fugir, alguns indo para um centro de registro de deslocados em Lozova, na região de Kharkiv.Em um centro de registro de deslocados na região de Dnipro, Irina faz questão de mostrar em seu celular o vídeo do que restou de sua casa, atingida por dois bombardeios com dois dias de intervalo. “Não há mais telhado, nem fogão, nem geladeira, não sobrou nada”, desabafa. “Quando os bombardeios se intensificam, começam incêndios. Mas não há mais bombeiros, nem ambulância”, relata. Leia também Mundo Rússia deporta e militariza crianças ucranianas, denuncia relatório Mirelle Pinheiro Ex-militar, brasileiro morre na linha de frente da guerra da Ucrânia Mundo Kremlin admite pausa em negociações de paz na Ucrânia Mundo Rússia abateu 221 drones ucranianos que atacaram regiões do país Irina e sua família hesitaram por muito tempo antes de fugir. “É a melhor decisão”, admite. “É preciso sair daqui para garantir a segurança, porque nenhum muro, nenhuma casa vai nos salvar”, constata.Pavel, de 33 anos, se preparava para passar a noite no centro de deslocados antes de seguir para o oeste do país. Ele também não queria deixar sua cidade, onde ainda trabalhava. Mas os ataques, que se tornaram incessantes, acabaram o convencendo a chamar uma equipe de evacuação.“É aterrorizante estar lá, com esses drones Shahed e FPV [que disparam contra a população]. É difícil, é assustador pensar que, numa bela manhã, sua vida pode acabar”, relata.Diante da crescente pressão militar, as autoridades locais decretaram, já em agosto de 2024, a evacuação obrigatória de mulheres e crianças de Kostiantynivka. Mas, segundo a administração militar de Donetsk, citada por diversos meios de comunicação ucranianos, cerca de 6 mil habitantes ainda residem na cidade.Associação ajudam na retirada dos moradoresNa mesma região, diante do micro-ônibus amarelo e branco da associação East-SOS, no estacionamento de uma pequena cidade, Evhen Pojanski e seu filho Vlad estudam o mapa do leste da Ucrânia. Eles transportam os moradores que desejam abandonar suas casas e, hoje, decidiram seguir por uma nova rota, um pouco mais distante da linha de frente.“Queremos tentar encontrar um novo itinerário que possamos usar nos próximos dias. Porque entendemos e sentimos que a rota atual será em breve atacada por drones”, afirmam os motoristas. “Os russos estão avançando em direção a essa estrada e temos a impressão de que eles se reorganizaram nas últimas semanas”, explicam.Vlad abre caminho, Evhen segue ao volante do micro-ônibus. O comboio avança rapidamente pelas estradas esburacadas, em meio a campos de girassóis ressecados. Após cerca de vinte minutos, chegam a uma aldeia pouco movimentada. A família a ser evacuada já espera em frente ao portão.“Vivemos toda a nossa vida aqui, mas é preciso partir”A pequena Vlada, de 3 anos, chora e se agarra à mãe. Com lágrimas nos olhos, Tetiana, uma vizinha, veio se despedir. “Não faz mais sentido ficar. Vivemos toda a nossa vida aqui, mas é preciso partir. Drones Shahed sobrevoam aqui todos os dias. Meu amigo, meu colega de classe, foi morto. Meu marido acaba de voltar da linha de frente e me disse: não adiante discutir, vamos embora imediatamente.”Em poucos minutos, Mykola, sua esposa, os quatro filhos e cerca de vinte sacolas cheias de roupas, cobertores e alimentos entram no micro-ônibus conduzido por Evhen. O veículo parte rapidamente em direção a uma zona mais distante da linha de frente. Pois mesmo que, na manhã da reportagem, os sons dos combates estivessem distantes, os moradores sabem que a situação pode mudar a qualquer momento.Leia mais em RFI, parceira do Metrópoles.