Natalia Piper estava ocupada tocando seu negócio de empreiteira geral em Los Angeles quando, em junho, uma mensagem aleatória apareceu no WhatsApp.“Alguém me ordenou postar uma avaliação negativa sobre o seu negócio”, dizia a mensagem, vinda de um número de telefone do Paquistão. “Recebi a ordem de postar 20 avaliações.”Assustada, Piper respondeu perguntando quem havia feito o pedido. Só de responder, ela já caiu em um golpe que tem como alvo pequenas empresas ao redor do mundo.Golpistas estão extorquindo empresas por centenas de dólares cada, ameaçando postar avaliações falsas negativas no Google Maps — ou postando essas avaliações e depois exigindo pagamento para removê-las, segundo relatos de várias empresas e dados de um órgão fiscalizador do setor.Leia também: Golpes virtuais atingem 1/3 dos brasileiros e envolvem R$ 112 bi em 1 anoLeia também: Golpes com reconhecimento facial: como acontecem e como se protegerOs criminosos miram pequenos negócios que dependem muito das avaliações online para atrair clientes — como empresas de mudança, de telhados e de conserto de eletrodomésticos. Avaliações negativas podem derrubar a nota da empresa e prejudicar sua reputação na internet, o que pode custar milhares em receita perdida. Além disso, essas avaliações são difíceis de remover do Google depois de publicadas.Piper já havia pago US$ 150 para outra pessoa, que usava um número de Bangladesh, para remover avaliações negativas que haviam sido postadas. Depois, a pessoa do Paquistão entrou em contato, e ela pagou US$ 100 para remover as avaliações. Semanas depois, mais 10 avaliações falsas apareceram no perfil dela. Dessa vez, ela não pagou, e o Google (GOGL34) acabou removendo as avaliações após ela denunciá-las.Piper contou que, antes das avaliações falsas serem removidas, a nota do seu negócio, Build Solutions, no Google havia caído de 5.0 para 3.6 estrelas.“Demorei oito anos para construir minha reputação no mercado, e um cara pode destruí-la em um dia”, disse ela em entrevista.Embora muitos consumidores vejam as avaliações online como uma fonte valiosa para orientar suas compras, as notas na internet são frequentemente manipuladas. Empresas como Google e Amazon removem centenas de milhões de avaliações falsas por ano, mas muitas ainda passam despercebidas.Os golpistas aproveitam esse sistema falho há anos. E as ferramentas de inteligência artificial só aumentaram o problema, permitindo que eles criem avaliações falsas realistas em grande escala.“Existe um submundo inteiro por trás do que você vê online, que as pessoas simplesmente não conhecem”, disse Kay Dean, ex-investigadora criminal federal que acompanha esses golpes há meses com o Fake Review Watch, um órgão fiscalizador que ela criou para monitorar o mercado de avaliações falsas. Ela identificou mais de 150 empresas no mundo todo que foram alvo de avaliações negativas falsas.Órgãos fiscalizadores e empresas culpam principalmente o Google e outros sites de avaliação por não fazerem o suficiente, argumentando que as decisões de moderação são opacas e que poucas ferramentas existem para que as empresas controlem sua reputação online.“Essas empresas estão sendo extorquidas, e o Google não está fazendo o suficiente para impedir isso”, afirmou Dean.A Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) criou uma nova regra em 2024 para combater avaliações falsas, mas ela é focada principalmente em empresas que compram avaliações positivas falsas para si mesmas. A regulamentação não impôs novas exigências para plataformas de avaliação como Google, Yelp ou Amazon, que, sob a lei federal conhecida como Seção 230, têm ampla proteção sobre o conteúdo publicado em seus sites.Em comunicado por e-mail, um porta-voz da FTC disse que “as avaliações devem refletir a opinião honesta do avaliador” e que os responsáveis por avaliações falsas podem enfrentar “penalidades civis de mais de US$ 53 mil por ocorrência”. A FTC às vezes trabalha com outros governos para deter golpistas estrangeiros ou encaminha casos ao Departamento de Justiça.O Google permite que empresas denunciem avaliações falsas, mas não oferece um canal para que os donos de negócios falem diretamente com alguém da empresa.Piper disse que tentou contato com o Google por vários meios, até mesmo pelo departamento de publicidade, onde ela investe milhares para promover seu negócio no buscador. Ela afirmou que não recebeu ajuda.“Enquanto essas avaliações não sumirem, você não recebe ligações, e nenhum cliente quer contratar você”, disse.Em comunicado por e-mail, um porta-voz do Google afirmou que a empresa remove “a grande maioria dos conteúdos fraudulentos antes mesmo que sejam vistos” e que já restringiu mais de 900 mil contas que violaram repetidamente suas políticas.“Não toleramos golpes no Google Maps e tomamos várias medidas contra eles, incluindo remoção de conteúdo, suspensão de contas e ações judiciais”, disse o porta-voz. Ela acrescentou que o Google planeja lançar uma ferramenta para que empresas possam denunciar quando forem alvo de golpistas, mas não deu mais detalhes.Piper contou que remover seu número de celular das páginas do negócio impediu que novos golpistas a contatassem pelo WhatsApp, o que acabou com o golpe. Ela aconselhou outras empresas da sua rede a fazerem o mesmo.Uma das contas que postou avaliações falsas negativas para o negócio de Piper fez o mesmo com mais de 30 outras empresas, segundo dados coletados por Dean. Entre elas, uma empresa de drywall em Covington, Washington, e um chaveiro na Suíça.Uma das contas falsas que mirou Piper também atacou Nick Betourney, que dirige uma empresa de mudanças em Lawrenceville, Geórgia.Betourney passou anos divulgando seu negócio e tentando conseguir avaliações genuínas para a Budget Moving Services, empresa que fundou há seis anos. Com o tempo, conseguiu uma nota 5 estrelas no Google Maps.Mas, no dia 11 de agosto, recebeu uma mensagem no WhatsApp dizendo que alguém havia encomendado 20 avaliações falsas de 1 estrela para sua página.“Eles estão atrás de negócios menores, basicamente, que são empresas de serviço que não recebem tantas avaliações quanto um restaurante ou um Walmart”, disse Betourney em entrevista. Ele denunciou as avaliações, e o Google as removeu rapidamente. Mas no dia seguinte, cinco avaliações falsas de 1 estrela apareceram novamente.“Não era só que ‘o serviço foi ruim'”, contou. “Eram coisas absurdas, como que eles tinham quebrado uma caixa, que os carregadores ‘intencionalmente pegaram uma caixa e a esmagaram no chão na minha frente’.”A pessoa que contatou Betourney usava o nome Rashid Ghallu no perfil do WhatsApp e um número do Paquistão. Quando contatado pelo The New York Times, ele disse que seu negócio é escrever avaliações falsas no Google Maps, cobrando US$ 100 por 20 avaliações. Negou extorquir empresas com avaliações negativas, dizendo que recebe contratos de clientes não especificados para postar avaliações negativas e que entra em contato com as empresas antes para oferecer a opção de pagar.Padrões como os observados por Dean — em que contas falsas bombardeiam várias empresas em lugares diferentes com avaliações negativas em poucos dias ou semanas — deveriam ser fáceis para o Google identificar e remover, disse ela. Mas as avaliações geralmente ficam online até que as empresas as denunciem individualmente.“É um oceano de desinformação”, disse ela, “e as pessoas realmente não têm tempo ou capacidade para separar o que é real do que é falso”.c.2025 The New York Times CompanyThe post A nova ameaça contra pequenas empresas: pague ou seja inundado com más avaliações appeared first on InfoMoney.