Entenda o possível sinal de vida encontrado em Marte pela NASA

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Todas as sextas-feiras, ao vivo, a partir das 21h (pelo horário de Brasília), vai ao ar o Programa Olhar Espacial, no canal do Olhar Digital no YouTube. O episódio da última sexta-feira (12) – que você confere aqui – repercutiu os possíveis indícios de vida passada descobertos em Marte pela NASA, noticiados pelo Olhar Digital na quarta-feira (10).A especialista em astrobiologia Ana Carolina Souza Ramos de Carvalho detalhou a descoberta, mostrando como os pesquisadores chegaram à hipótese de que o material encontrado pode indicar organismos no passado do Planeta Vermelho. Graduada em Ciências Biológicas Modalidade Médica, ela tem pós-doutorado em Biotecnologia pela Universidade de São Paulo (USP).Ana Carolina Souza Ramos de Carvalho foi a entrevistada do Olhar Espacial da última sexta-feira (12). (Imagem: arquivo pessoal)Pesquisadores associam material encontrado em Marte a organismos vivosNa última semana, a NASA concedeu uma entrevista coletiva para divulgar os resultados da análise de uma amostra coletada em julho de 2024 pelo rover Perseverance na Cratera Jezero, no hemisfério norte de Marte. Essa é uma região que ele vem explorando desde 2021, quando pousou no planeta, e é considerada uma das mais promissoras para a busca de vida extraterrestre.O rover encontrou um conjunto de minerais na borda oeste dessa formação, um local que os astrônomos acreditam ter sido o vale de um rio há bilhões de anos. Segundo a pesquisadora, esse é um lugar com maior acumulo de matéria orgânica, levada pelo fluxo de água até ali, o que aumenta as chances de sinais biológicos.25ª amostra coletada pelo rover Perseverance em Marte, em julho de 2024, batizada de Cânion Safira. (Imagem: NASA/JPL-Caltech/ASU)Os materiais descobertos estão na formação Bright Angel (o Anjo Brilhante), na rocha “Cânion Safira”. Cientistas apresentaram a descrição dessas amostras em um artigo publicado na revista científica Nature, no mesmo dia do anúncio. O estudo revela que os minerais estão em rochas ricas em argila e são provavelmente vivianita e greguita, que na Terra estão frequentemente ligadas à atividade de organismos vivos.“Esse material é interessante porque ele vem da ligação da matéria orgânica com o ferro daquele ambiente. Muita das vezes, têm até uma cor azulada”, comentou a pesquisadora.Cratera onde material está é local promissor, segundo pesquisadoraA especialista ressaltou que a vivianita pode ter servido como alimento para os possíveis organismos que viveram ali. Prováveis sinais de reações de oxirredução, destacados pelos pesquisadores no estudo, podem ser a prova disso. Essa reação envolve a transferência de um elétron de um átomo para outro, o que resulta na liberação de energia que será utilizada pelo organismo.“Os autores também argumentam que, para ocorrer a formação desse mineral, teria de haver condições que Marte não tem, principalmente uma temperatura elevada. Ou seja, eles reforçam que esse achado pode ser sim um sinal de vida pretérita no Planeta Vermelho”, explicou Carvalho.O rover Perseverance percorria o antigo canal do rio Neretva Vallis quando capturou esta visão de uma área de interesse científico chamada “Bright Angel” (a região em tons claros visa ao fundo, à direita), em 6 de junho de 2024. (Imagem: NASA/JPL-Caltech)Na mesma região dos minerais, há um afloramento rochoso chamado Cataratas de Cheyava, que chamou a atenção dos autores do artigo por ter manchas pontilhadas. A equipe da pesquisa sugere que essas marcas se assemelham a fósseis de microrganismos subterrâneos. “A descoberta nos mostra que esse lugar tem um potencial grande para encontrarmos vida. Creio que é necessário mais missões, com novas técnicas, que olhem com mais detalhe essa região, para podermos encontrar outras evidências”, disse a bióloga.Escala da NASA auxilia pesquisadores na busca por sinais de vida extraterrestreAlém dos minerais encontrados pelo Perseverance, astrônomos já detectaram outros sinais químicos de possível vida, como a fosfina em Vênus em 2020. Para avaliar essas descobertas, a NASA criou a escala CoLD (Confiança de Detecção de Vida), apresentada em um artigo publicado na Nature em 2021.Segundo Marcelo Zurita, astrônomo e apresentador do Olhar Espacial, a CoLD define uma regra para que a comunidade científica possa chegar a resultados mais concretos, evitando notificações precipitadas. Para ele, a atual descoberta, embora animadora, ainda está nas fases iniciais.A escala contém sete níveis:Detectar possível sinal: cientistas relatam indícios prováveis de uma assinatura de vida.Descartar contaminação: a equipe garante que a detecção não foi influenciada por contaminação dos instrumentos da Terra.Certificar-se de que a biologia é possível: o grupo demonstra que esse sinal de vida também é encontrado em ambientes terrestres similares.Descartar não biologia: os cientistas conferem se o tipo do sinal tem uma possível origem não biológica, e provam que essa não é a explicação para a origem do material.Encontrar sinal independente adicional: pesquisadores encontram outros dados que complementem o sinal original.Descartar outra hipótese: a equipe elimina possíveis explicações que talvez não foram consideradas no começo mas que surgiram com debate ou investigação posterior.Confirmação independente: grupos diferentes de pesquisadores confirmam o achado em uma missão independente.Ilustração da escala ColD, criada por pesquisadores da NASA para auxiliar o estudo de sinais de vida em outros planetas. (Imagem: NASA/Aaron Gronstal)Para a astrobióloga, essas etapas não levam a uma conclusão absoluta. “Mesmo se os pesquisadores chegarem ao final dessa escala, ainda teremos questionamentos sobre se esse material é uma evidência de organismos vivos. Como é algo distante do que vemos no cotidiano, será difícil provar para todos que aquilo é vida”, comentou.NASA enfrenta desafio para trazer as amostrasApós encontrar esses minerais com possíveis sinais de vida em Marte, a NASA se depara com um antigo desafio: trazer essas amostras para a Terra. Segundo estimativas da agência, uma missão de retorno seria complexa e custaria mais de US$10 bilhões.“Essa quantia é maior do que se gastou para produzir o James Webb. É um investimento muito alto para um momento em que a verba para os projetos da NASA está sendo cortada”, comentou Zurita.Para a especialista, trazer esse material ao nosso planeta é essencial para que a pesquisa prossiga. Porém, o esforço pode não levar ao resultado esperado. “Talvez a gente nem confirme a presença de vida em Marte, mas pelo menos ganhamos mais evidências”, disse Carvalho.Representação artística do rover Perseverance, da NASA, que explora Marte desde 2021. (Imagem: NanoStockk / IstockPhoto)Leia mais:Helicóptero da NASA bate novo recorde durante 62º voo em MarteMarte: 8 curiosidades sobre o planeta vital para exploração espacialComo enviar seu nome para Marte na missão de 2026Por enquanto, ela acredita que outras missões na mesma região podem ser a chave para aprofundar o estudo. Segundo a pesquisadora, quando um organismo surge em um local, seu metabolismo muda o perfil da região e favorece o crescimento de outros seres.“Sempre vai existir uma coexistência de organismos. Se houve vida em Marte, não foi uma vida única. Podemos encontrar novas evidências de que ali houve um microbioma inteiro”, concluiu a bióloga.O post Entenda o possível sinal de vida encontrado em Marte pela NASA apareceu primeiro em Olhar Digital.