Apenas uma empresa ligada ao esquema de corrupção do setor de mineração movimentou R$ 4,3 bilhões em um período de cinco anos, entre 2019 e 2024. A companhia é apontada como o núcleo financeiro dos esquemas investigados pela Operação Rejeito, da Polícia Federal, que investiga o pagamentos milionários a servidores públicos por empresários com o objetivo de obter licenças ambientais fraudulentas.A operação cumpriu 22 mandados de prisão e outros 79 mandados de busca e apreensão, além do afastamento de servidores públicos. Entre os presos, está o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Trivellato Seabra Filho, suspeito de receber R$ 3 milhões em troca de beneficiar empresários no órgão contrariando pareceres técnicos. Como mostrou o Metrópoles, também foi preso Rodrigo de Melo Teixeira, ex-diretor da Polícia Federal. Leia também Fabio Serapião Ex-diretor da PF preso usou cargo para afetar empresa concorrente Fabio Serapião Ex-diretor da PF é preso em ação por corrupção no setor de mineração Fabio Serapião Delegado da PF receberia R$ 27 milhões em esquema em mineração Fabio Serapião PF prende diretor da ANM em ação contra crime ambiental e corrupção Segundo a Polícia Federal, o empresário Alan Cavalcante, dono de uma mineração que atuava na Serra do Curral, em Minas Gerais, era o cabeça do grupo de empresários que corrompia os servidores públicos. Em torno dele, havia uma teia de empresas usadas para lavagem de dinheiro, e também para mineração irregular.Uma delas era a Fleurs Global, que é uma unidade de tratamento de minerais. De acordo com as investigações, ela exerce “imensurável importância” para o grupo de Cavalcante. Ela teria movimentado a quantia bilionária e seria responsável pela “distribuição de recursos a empresas controladas direta ou indiretamente pelos seus membros”. Somente Cavalcante teria recebido R$ 110 milhões da empresa.A empresa também era o caixa da propina do esquema. De acordo com a PF, por exemplo, Danilo Vieira Junior, ex-secretário de Meio Ambiente de Nova Lima, recebeu R$ 734 mil da Fleurs Global enquanto estava no cargo. A própria operação da empresa, dizem os investigadores, foi feita a partir de renovações fraudulentas de Termos de Ajustamento de conduta e de articulações com órgãos ambientais pelos empresários.Em depoimento, o ex-superintendente da Superintendência Regional de Meio Ambiente de Minas Gerais, Daniel dos Santos Gonçalvez, afirmou que apontou, em relatórios, as irregularidades nas autorizações concedidas à empresa. “Pedi minha exoneração do cargo, não só pela multa, mas por entender que estaria diante deum verdadeiro esquema de corrupção. Hoje não tenho dúvidas de que esse esquema exista, afinal nunca fui incentivado às revisões e estava totalmente isolado nesses trabalhos”, disse.As investigações mostram que o ex-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente, Rodrigo Gonçalves Franco, avocou procedimentos para garantir que a Fleurs Global continuasse a operar, contrariando pareceres internos. Mensagens mostram ele ajustando um pagamento de R$ 500 mil em propinas com um braço de Cavalcante, em fevereiro de 2025.A estimativa é que as ações criminosas rendiam ao grupo ao menos R$ 1,5 bilhão, mas a PF destaca que foi identificado projetos em andamento vinculados à organização criminosa com potencial econômico superior a R$ 18 bilhões.“A organização criminosa teria atuado para neutralizar a ação do Estado, dificultando as investigações e monitorando autoridades. Além disso, utilizou diversos artifícios para lavar o dinheiro obtido com as práticas ilícitas”, afirma a PF.Procuradas, as defesas de Danilo Vieira, Rodrigo Teixeira, Alan Cavalcante e Rodrigo Franco não foram localizadas. O espaço está aberto.