A cientista política Lara Mesquita disse que a saída do partido União Brasil do governo Lula, embora de grande repercussão, deve ter um impacto “mais simbólico do que efetivo” na governabilidade. Em entrevista à CNN, a professora da FGV (Fundação Getulio Vargas), destacou que o apoio do partido ao governo já era notoriamente limitado, o que mitigava a força do rompimento. “A gente tem que lembrar que o União Brasil já tinha um apoio fragmentado e parcial ao governo. Não por outra razão, o partido ocupava um ministério de peso menor, o Ministério do Turismo”, afirmou a cientista política. Mesquita argumenta que a importância do ministério era proporcional ao que o partido de fato entregava em termos de apoio político. “Ele [União Brasil] ganhou um ministério com peso proporcional ao que o partido entrega ao governo”, pontuou. Sinais de cautela e ação interna Na avaliação da professora, os próprios movimentos internos do partido sugerem que a saída não será imediata ou completa. Ela observa que a falta de urgência nas ações do partido reforça a tese do simbolismo. “Ele [ministro do Turismo, Celso Sabino] não está cumprindo o ultimato de 24 horas para deixar a pasta. Ele disse que só sairia na semana que vem”, observou. Além disso, a cientista política ressaltou que, se a saída fosse de fato efetiva, não haveria tentativas de manutenção de influência na estrutura governamental. “Tanto que o ministro do Turismo está tentando azeitar as coisas para que uma pessoa de sua confiança continue no controle do ministério”, explicou Mesquita. Leia Mais Saída do governo atrapalha plano eleitoral de Sabino Análise: Desembarque do União Brasil antecipa clima eleitoral Saída de Sabino do ministério abre articulação por sucessor no Turismo Ela também minimizou o pedido de antecipação do prazo, notando que a antecipação é de apenas 10 dias e “não é uma coisa extraordinária”. Lara Mesquita ainda sugere uma análise prudente da situação, especialmente sobre o futuro dos votos que o partido poderia fornecer ao Executivo. “Eu faria essa leitura com cautela. Acho que isso [formalização da saída] não vai ser completamente efetiva no sentido de que o partido não vai entregar mais nenhum voto ao governo”, disse. Para ela, um fator institucional crucial para a continuidade da relação é a presença de um membro da sigla em um posto estratégico. No caso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). “É sempre bom lembrar que o presidente do Senado é do União Brasil e ele tem bastante força dentro do partido até pelo cargo institucional que ele ocupa”, lembrou. Segundo a professora, Alcolumbre não tem sinalizado que abandonará o governo em “todas as suas agendas”.