Após ser encomendada por Marcola, líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), a morte do então delegado-geral da Polícia Civil paulista, Ruy Ferraz Fontes, foi debatida em uma reunião, organizada na zona leste da capital paulista, em 10 de março de 2019.No centro dessa engenharia criminosa, destaca-se a figura de Nailton Vasconcelos Martins, o Irmão Molejo, que desempenhou um papel crucial na orquestração do encontro usado para disseminar as ordens de ataque. Ele compunha o Bonde dos 14, uma célula criminosa da facção que atua como uma espécie de conselho deliberativo, na zona leste.Ruy Ferraz foi assassinado na segunda-feira (15/9), após ser perseguido por atiradores na Praia Grande, litoral de São Paulo. Ele era jurado de morte pela facção desde o início dos anos 2000, após a transferência da cúpula do PCC para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).27 imagensFechar modal.1 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança2 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança3 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança4 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança5 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança6 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança7 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança8 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança9 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança10 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança11 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança12 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança13 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais14 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais15 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais16 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais17 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais18 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança19 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança20 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança21 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança22 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Câmera de segurança23 de 27A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesReprodução/Redes sociais24 de 27O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles25 de 27O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles26 de 27O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles27 de 27O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/MetrópolesUma das linhas da investigação, capitaneada pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), é a de que o assassinato tenha digitais do PCC. A suspeita se fortalece ainda por conta de uma carta, assinada pela Sintonia Final do PCC, na qual a execução do ex-delegado-geral e outros dois policiais civis foi determinada (leia íntegra do “salve” abaixo).Outra linha seguida para apurar a motivação do crime é a de que Ruy Ferraz tenha sido assassinado por conta de seu trabalho atual, como secretário da Administração de Praia Grande, onde teria conquistado desafetos.“Ordens do alto comando”A reunião promovida por Molejo, em março de 2019, realizou-se em um imóvel estrategicamente localizado no bairro Cidade Tiradentes, zona leste. O objetivo era claro: “Passar as ordens do alto comando da facção para organizar ataques a autoridades do Estado de São Paulo”.Nailton foi o responsável por reunir diversas lideranças da facção, conhecidas como “sintonias”, para arquitetar planos de retaliações e emboscadas contra os agentes públicos. As investigações mostram também que a escolha de Irmão Molejo não foi deliberada.A ordem para os atentados partiu de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso graças a ação de Ruy Ferraz Fontes, que também contribuiu para que o líder máximo da facção fosse transferido para um regime de cumprimento de pena mais duro no sistema prisional.Marcola teria ordenado a Décio Gouveia Luiz, o Decinho, para que assumisse um dos comandos da facção, após ambos cumprirem pena juntos. Em liberdade, Decinho repassou essas ordens aos demais membros da organização criminosa, incluindo Irmão Molejo, que então organizou a reunião.Na época, contudo, não há registro de que Ruy Ferraz tenha sido alvo de qualquer tentativa de assassinato. A polícia não descarta a hipótese de que a execução do ex-delegado, seis anos depois, tenha relação com esse planejamento da Sintonia dos 14.Como a carta veio à tonaA articulação da operação criminosa veio à tona com a prisão em flagrante de Sandro de Cássio, o Gardenal, em 12 de junho de 2019.Com ele policiais encontraram drogas, uma arma de fogo e, o mais relevante, uma carta manuscrita com ordens diretas para atacar autoridades da Polícia Civil de São Paulo. A apreensão do documento foi fundamental para a continuidade das investigações e a desarticulação de parte do plano.A carta de execução detalhava os alvos e os responsáveis pelas missões. O principal alvo, segundo as ordens, era o então Delegado-Geral de Polícia Ruy Ferraz Fontes. Ele ocupou o cargo, durante a gestão de João Doria, entre 2019 e 2022.Para executar a missão, a Sintonia Geral nomeou um grupo específico de “irmãos”. Os criminosos designados para matar Ruy Ferraz eram: Fernando Henrique dos Santos, o Koringa; Cleberson Paulo dos Santos, o Mimo; Jhonatan Alexandre Rodrigues, o Barata; Alan Donizeti dos Santos, o Terere e Marcos Ferreira de Souza, o Corintiano.A mensagem na carta era explícita: o não cumprimento da missão resultaria em “cobrança à altura, pagando com a própria vida”.Irmão MolejoAlém de organizar a reunião dos sintonias para os ataques, Molejo tinha outras responsabilidades de liderança no PCC.Ele foi identificado como o Sintonia Regional das FMs, cargo com o qual controlava 36 pontos de venda de drogas na zona leste paulistana.Já preso — por conta de uma recaptura em 1º de julho de 2019 — ele exercia liderança entre membros da facção encarcerados. Sua posição no Bonde dos 14 da Leste demonstra sua direta ligação e subordinação ao comando geral do PCC, solidificando seu papel como uma peça-chave na estrutura criminosa.O “salve” na íntegra*“Viemos através desse SALVE passar direção referente os trampos que foram passados a nossos irmãos do quadro disciplinar e ainda não foram concluídos.Em primeiro lugar deixar claro que toda as missões que foram passadas para nossos irmãos são de interesse da família e não de interesse individual.A sintonia geral vem cobrando o resultado dos trampos passados para nossos irmãos da zona leste e ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul) contra os vermes que vem prejudicando o andamento dos trabalhos da família FM ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema).Irmãos responsáveis: Lixo, Morto, Pita e Tito. Missão: Wagnão da DISE (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de São Bernardo do Campo.Disciplina Cidade Tiradentes Irmãos responsáveis: Koringa, Mimo, Barata, Terere, Corintiano. Missão: delegado Ruy Ferraz Fontes.Apoio dos 14 Irmão responsáveis: Oreia de Guaianazes, Jagunço Savoy, Irmão R, Casinha do Bonifácio. Missão: investigador Saulo do prédio.Em cima dessa caminhada a sintonia deixa ciente que se não for concluída cada missão, a cobrança com nossos irmãos será a altura pagando com a própria vida.Deixando claro que os interesses do comando estão à frente de qualquer outro.Está determinado que seja feito de bate pronto esses trampos.Um forte abraço a todos.Seguiremos incansavelmente.Sintonia Geral.”*fonte MPSPCientes da rotina da vítimaOs assassinos do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes conheciam a rotina da vítima. Isso fica demonstrado em um vídeo de uma câmera de monitoramento, instalada na Rua Arnaldo Vitulli, na qual os criminosos chegam com uma Hilux preta, às 18h02. O veículo fica estacionado, com as luzes apagadas, até as 18h16, momento em que o Fiat Argo de Ruy Ferraz desponta no início da via.Os faróis do carro dos criminosos são então ligados e, no instante em que o veículo do ex delegado-geral os ultrapassa, os ocupantes da Hilux passam a atirar ininterruptamente.Outra câmera, instalada na mesma rua de outro ângulo, mostra que o vidro do lado do motorista, onde Ruy estava, é estilhaçado por um dos dezenas de disparos, no momento em que a vítima faz a curva na Rua 1º de Janeiro. Leia também São Paulo Polícia investiga celular de ex-delegado executado no litoral São Paulo Justiça decreta prisão de acusados de ligação com morte de ex-delegado Mirelle Pinheiro 63 tiros de fuzil: blindagem não salvaria ex-delegado, diz Gakiya São Paulo Polícia faz operação contra envolvidos na execução de ex-delegado Nesse instante, iniciou-se uma perseguição, que percorreria cerca de 2,5 quilômetros, até a Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, na qual o carro de Ruy Ferraz colidiu contra dois ônibus e capotou.Os criminosos, durante o encalço ao ex-delegado-geral, atiraram constantemente contra ele, atingindo acidentalmente um casal, que estava em frente à casa de familiares.As duas vítimas, feridas sem gravidade, foram encaminhadas ao Hospital Irmão Dulce. Ambos foram submetidos a exames residuográficos, como consta em documento policial obtido pela reportagem.Executado diante de dezenas de testemunhasCom o Argo tombado, três atiradores desembarcaram da Hilux e executaram Ruy Ferraz, diante de dezenas de testemunhas. Em nenhum instante o delegado aposentado conseguiu usar sua pistola Glock 9 milímetros, que permaneceu dentro de uma bolsa. Ele morreu no local.Após o crime, os assassinos embarcaram na Hilux, que saiu do local em alta velocidade. Todos usavam coletes balísticos, encobriam os rostos com capuzes, portavam armas longas e agiram de forma tática e organizada. O carro foi localizado, em chamas, abandonado na Avenida Casemiro Domcev, a quase dois quilômetros de distância do local da execução. Dentro dele, uma arma teria sido abandonada.Registros da Polícia Civil indicam que os assassinos então teriam usado um Jeep Renegade, furtado de uma médica na capital paulista, para seguir fugindo. O carro foi localizado, com o motor ainda ligado, na Rua Gilberto Lopes, a 800 metros de distância onde a Hilux foi incendiada.O documento policial destaca que, após abandonar o Renegade, os criminosos seguiram a fuga a pé, por uma passarela. Perto do veículo, foi localizado um carregador de fuzil, outro de pistola, além de cápsulas deflagradas.Dois suspeitos já foi identificados, segundo o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia sido preso.Jurado de morte por MarcolaRuy Ferraz Fontes, de 64 anos, atuou por 40 anos na Polícia Civil e era especialista em Primeiro Comando da Capital (PCC). Durante a vida profissional, ficou conhecido pelo enfrentamento à facção, que o considerava como um dos seus maiores inimigos.Como já mencionado acima, ele foi jurado de morte por Marcola, em 2019, após o criminoso ser transferido para o RDD e, após isso, para o sistema penitenciário federal.5 imagensFechar modal.1 de 5Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloDivulgação/Alesp2 de 5Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloDivulgação/Prefeitura de Praia Grande3 de 5Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloDivulgação/Alesp4 de 5Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloReprodução/Prefeitura de Praia Grande5 de 5Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado da Polícia Civil de São PauloDivulgação/Polícia Civil“Um dos melhores Delegados-Gerais que conheci, Ruy foi executado covardemente hoje por criminosos, após uma trajetória marcada pelo combate firme e incessante ao PCC, impondo enormes prejuízos ao crime organizado”, destacou Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, diretora da Academia dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol do Brasil).Ruy Ferraz assumiu a Secretaria de Administração de Praia Grande em janeiro de 2023, permanecendo na gestão que se iniciou em 2025, até ser morto nessa segunda-feira.O corpo do ex-delegado-geral foi velado nesta terça-feira (16/9) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O sepultamento ocorreu durante a tarde, no Cemitério da Paz, no Morumbi, na zona sul da capital paulista.8 imagensFechar modal.1 de 8Corpo do delegado Ruy Ferraz Fontes chega à AlespValentina Moreira/ Metrópoles2 de 8Cemitério da Paz no Morumbi, onde o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes foi enterradoEnzo Marcus/Metrópoles3 de 8Cemitério da Paz no Morumbi, onde o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes foi enterradoEnzo Marcus/Metrópoles4 de 8Cemitério da Paz no Morumbi, onde o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes foi enterradoEnzo Marcus/Metrópoles5 de 8O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles6 de 8O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles7 de 8O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles8 de 8O velório do ex-delegado-geral da Polícia Civil Ruy Ferraz FontesValentina Moreira/Metrópoles