Suspeito de elo com PCC é apontado como doador secreto de CT do Deic

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O empresário do setor de combustíveis Gabriel Cepeda, investigado por suposta relação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), é apontado como responsável por custear a construção de um centro de treinamento (CT) de artes marciais na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), principal braço operacional da Polícia Civil de São Paulo.A doação teria ocorrido de forma secreta, sem termo publicado no Diário Oficial, conforme exige a lei. Nos últimos meses, por exemplo, a Secretaria da Seguraça Pública (SSP) publicou termos de doações de viaturas para a Polícia Militar e até da construção de um muro para uma delegacia na zona leste da capital.A informação sobre quem teria bancado o CT do Deic passou a circular na Polícia Civil logo após Gabriel Cepeda (à esquerda na foto de destaque) ser alvo da Operação Carbono Oculto, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) em 28 de agosto. A investigação mapeou como a rede Boxter de postos de combustível, da qual o empresário é sócio, seria utilizada para lavar dinheiro do PCC.A participação do investigado na construção do centro de treinamento do Deic foi anunciada em publicações feitas por um amigo do empresário que teria intermediado a relação com o Deic, o influenciador digital e ex-lutador de MMA Matheus Serafim (no canto superior direito da imagem em destaque).3 imagensFechar modal.1 de 32 de 3Matheus Serafim anuncia que CT do Deic está prontoReprodução3 de 3Há aproximadamente um mês, Cepeda e Serafim se reuniram com o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg (de terno cinza na foto de destaque), na sede do departamento. Na ocasião, o influenciador publicou uma foto em seu Instagram dizendo que o empresário “não mediu esforço” para construir a academia.“Agradecer meu grande amigo Gabriel Cepeda que ao meu pedido não mediu esforço para construir um dos maiores e mais bem equipados centro de treinamento da Polícia Civil – Deic. Obrigado irmão pela parceria de sempre, logo logo inauguração”, disse o ex-lutador.A publicação foi deletada após a Operação Carbono Oculto, que teve Cepeda como um dos alvos, mas seu link continua visível no Google, o que permitiu ao Metrópoles acessar o texto original por meio do código fonte da página.3 imagensFechar modal.1 de 3Código do fonte mostra texto original de postagem apagadaReprodução2 de 3Código do fonte mostra texto original de postagem apagadaReprodução3 de 3Link de postagem apagada permanece ativo no GoogleReproduçãoQuestionado pela reportagem, Matheus Serafim negou que Cepeda tenha feito a doação para o CT do Deic. Ele disse que mentiu na postagem, com o objetivo de “dar uma moral” ao amigo, a quem pretendia agradar.“Eu quis agradar ele. Essa é a verdade. Ele seria um grande parceiro meu, mesmo em relação às minhas pretensões políticas, nos projetos sociais que eu tenho. As coisas dependem muito de empresário”, afirmou o ex-lutador por telefone.“Isso não quer dizer que ele tinha algum envolvimento com a academia. Eu até tinha pretensões de querer que ele ajudasse, mas não aconteceu”, completou.Ao Metrópoles, Ronaldo Sayeg disse, que quando se reuniu com o dono da rede Boxter, a academia já estava em construção, a partir da doação de um outro empresário. O diretor do Deic disse que não poderia revelar quem foi o doador, alegando que isso poderia ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).Questionada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) também negou que Gabriel Cepeda esteja envolvido e disse que só poderia informar quem seria o responsável por custear a construção do CT do Deic via Lei de Acesso à Informação (LAI). O Metrópoles havia solicitado a informação por LAI em 4 de setembro. Até o momento não houve resposta.Segundo a SSP, a construção do centro de treinamento foi feita a partir de um espaço de depósito desativado, localizado ao lado da garagem do departamento. O objetivo seria o “bem-estar e a saúde física e mental dos policiai”.A academia, que ainda não foi inaugurada oficialmente, já funcionou em caráter experimental. A ideia é que o espaço possa ser “utilizado 24 horas por dia por todos os policiais do departamento”, além de familiares e prestadores de serviço terceirizado.Pelo menos desde o início de setembro, o centro de treinamento do Deic aparece registrado no site da Confederação Brasileira de Kickboxing. Entre os professores cadastrados está Murilo Monteiro da Silva Paoliello.“Pronto e funcionando”Em 28 de janeiro, primeiro mês de Ronaldo Sayeg à frente do Deic, Matheus Serafim anunciou em seu perfil no Instagram que “juntos” eles iriam montar um centro de treinamento no departamento.“Agenda com amigo Delegado Ronaldo Sayeg – Diretor Deic – Departamento Estadual de Investigações Criminais. Esporte e Segurança Pública andam lado a lado, vamos juntos montar um centro de treinamento no Deic. Tmj dr obrigado pela amizade e confiança”, escreveu Serafim.2 imagensFechar modal.1 de 2Viatura estacionada em frente à sede do DeicFoto: Ciete Silvério/Governo do Estado de SP2 de 2Viatura estacionada em frente à sede do DeicFoto: Ciete Silvério/Governo do Estado de SPPublicações feitas pelo influenciador em seu Instagram indicam que ele esteve no Deic em pelo menos três oportunidades ao longo do ano. No início deste mês, ele fez mais uma publicação sobre o tema, anunciando a conclusão da obra.Posando de braços cruzados em frente ao logo do novo CT do Deic, ele disse que o espaço estava “pronto e funcionando”. A publicação também foi apagada.“É com muito orgulho que olho para trás e vejo que fiz parte da construção do Centro de Treinamento do Deic da Polícia Civil. Contribuir para uma estrutura que fortalece a segurança pública e prepara profissionais tão dedicados é uma honra que levarei para a vida toda”, disse Serafim.“Cada etapa desse projeto foi marcada pelo compromisso, pelo esforço coletivo e pelo sentimento de estar colaborando com algo muito maior. Ver esse espaço pronto e funcionando é a certeza de que o trabalho valeu a pena”, acrescentou.Ao Metrópoles, Serafim disse que, na verdade, não teve participação direta na construção do centro de treinamento, ao contrário do que afirma nas postagens. Segundo ele, ao afirmar que “fez parte da construção”, quis dizer que apoiou o projeto colocando à disposição seus serviços de treinador de MMA.Ex-lutador na políticaEx-assessor do deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), Matheus Serafim pretende disputar uma vaga de deputado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2026 pelo PSD. No Instagram, ele posa para fotos com líderes de diferentes partidos e com autoridades policiais de importantes departamentos da Polícia Civil.As publicações indicam que, em pelo menos três oportunidades, Serafim levou o amigo Gabriel Cepeda para encontros com políticos. Em 11 de agosto, a dupla esteve com o presidente do PSD e secretário de Governo, Gilberto Kassab, no Palácio dos Bandeirantes.4 imagensFechar modal.1 de 42 de 43 de 44 de 4No mesmo dia, Serafim e Cepeda se reuniram com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O encontro teria se repetido em 18 de agosto, apenas 10 dias antes da Operação Carbono Oculto.No Instagram, o ex-lutador ainda aparece ao lado de autoridades como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesses casos, sem Gabriel Cepeda.Boxter e PCCA ligação entre a rede Boxter de postos de combustível e o Primeiro Comando da Capital (PCC) foi apontada pela primeira vez na Operação Rei do Crime, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 2020. Na ocasião, foram presos o pai de Gabriel Cepeda, Natalício Gonçalves Filho, e o irmão dele, Renan Cepeda.Na representação que deu origem à operação Carbono Oculto, em 28 de agosto deste ano, os promotores do Gaeco de São Paulo disseram que Renan Cepeda é “uma pessoa chave na organização criminosa”, mantendo sua influência na rede Boxter por meio de seu irmão.Gabriel Cepeda teria transferido a titularidade de pelo menos 24 postos de combustíveis para um laranja do grupo, sem declarar as vendas à Receita Federal. O laranja em questão, Luiz Felipe do Valle, teria 61 postos de combustível registrados em seu nome.Gabriel e Natalício Cepeda foram alvos de um mandado de busca e apreensão, em um apartamento na Vila Maria, na zona norte da capital. Mais de 150 mandados foram cumpridos.Na Carbono Oculto, os promotores avançaram sobre como o PCC sofisticou seus mecanismos para lavar o dinheiro do crime organizado. A investigação se debruçou sobre fintechs que oferecem “contas bolsão”, com proteção contra bloqueios judiciais, e também sobre uma rede de fundos de investimentos da Faria Lima constituídos em cadeia, como forma de blindar patrimônios e esconder a identidade do beneficiário final dos recursos.