The Game of Leaders

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Quem será hoje o mais poderoso do mundo, se é que tal existe, talvez um presidente convencido de que a sua palavra pode deter o curso do vento, talvez um ditador que se julga eterno porque tem multidões forçadas a aplaudir-lhe os gestos, talvez um magnata que sonha comandar consciências porque detém fábricas de algoritmos e satélites que vigiam o céu, talvez um general que desenha fronteiras em mapas de guerra e pensa que a terra se dobra à força das suas botas, todos eles certos de segurar o futuro como quem aperta um pássaro frágil, e quanto mais apertam mais depressa ele lhes escapa, porque o poder não é prisão nem eternidade, é apenas pó, pó que se ergue, brilha um instante e depois assenta no mesmo chão onde todos, grandes ou pequenos, repousarão esquecidos.Heráclito disse que tudo flui e ainda assim construímos muralhas contra a corrente, Platão explicou que vivemos entre sombras e continuamos a confundir reflexos com luz, Nietzsche anunciou a morte de Deus e esqueceram-se de avisar que também morreriam os homens que se erguem como deuses, Aristóteles falou da vida boa mas quantos destes poderosos a conheceram, cercados de guardas e vaidade, reféns do medo e da solidão, incapazes de confiar, de amar, de dormir em paz, porque quem se julga dono do mundo é quase sempre escravo de si mesmo.Enquanto esses donos do mundo discursam em palcos dourados, prometem futuros que não podem cumprir e erguem bandeiras que o tempo há de rasgar, nesse mesmo instante uma mãe embala o filho e nele deposita um futuro maior do que qualquer tratado, um velho acende a lareira e conta uma história que sobreviverá mais do que a glória dos generais, dois jovens beijam-se pela primeira vez sem saber ainda o que é amar mas já amando, uma vizinha oferece pão quente e nesse gesto simples cabe mais eternidade do que em todos os discursos oficiais. É aí, nesses lugares invisíveis, que se guarda o poder verdadeiro, não no medo imposto mas no cuidado oferecido, não na glória passageira mas na ternura que resiste ao esquecimento.Camus disse que o homem deve imaginar Sísifo feliz, e talvez essa seja a lição que os poderosos nunca aprenderão, que a grandeza não é deter o mundo mas suportar o peso da pedra e ainda assim sorrir, viver sabendo que a pedra rolará de volta e, mesmo assim, continuar, amar apesar do fim, criar apesar do esquecimento, resistir apesar da morte. Saramago lembrava que a vida é apenas um sopro e nesse sopro cabe tudo, a miséria e o milagre, o abraço e a despedida, e daqui a cinquenta anos ninguém lembrará presidentes, ditadores, magnatas ou generais, todos terão sido fortes apenas no engano, porque no fim revelaram-se frágeis, tão frágeis como qualquer homem diante do tempo.Mas o que parecia ser o posfácio, depois da pandemia, revelou-se apenas o princípio de um novo capítulo. O mundo não regressou à harmonia, mergulhou em novas tensões: guerras que regressaram à Europa, democracias sitiadas pela polarização, a Terra ferida por incêndios e cheias, a solidão e a doença mental a multiplicarem-se, a inteligência artificial e a ciência quântica a prometerem emancipação mas também a ameaça de novas correntes.É neste tabuleiro que se joga o verdadeiro Game of Leaders. Não se trata apenas de política ou de poder, mas de escrever regras novas para um mundo que já não pode repetir os erros antigos. Regras para que a política reencontre a sua humanidade, para que a Terra não seja abandonada enquanto se conquista o espaço, para que as máquinas não nos façam esquecer que somos gente, para que o futuro seja casa da dignidade e não extensão da vaidade.Mais do que respostas prontas, precisamos da coragem de interromper o ruído, de travar o delírio dos que se julgam super-homens e de marcar posição, não por medo ou ideologia, mas por lucidez e humanidade. Chegou o momento de um golpe final de claridade: não para erguer muralhas, mas para abrir caminhos.Porque os que acreditam possuir tudo acabam donos do nada, e os que nada possuem mas foram insubstituíveis para alguém, esses guardam a única força que não se desfaz, a única eternidade que não se apaga, e essa eternidade pertence sempre aos que souberam amar.O conteúdo The Game of Leaders aparece primeiro em Revista Líder.