O planeta arde sob pressões sem precedentes: conflitos, desigualdades, alterações climáticas e o avanço desenfreado das tecnologias desafiam a própria estabilidade da humanidade. Para António Guterres, Secretário-Geral da ONU, a 80ª sessão da Assembleia Geral não é uma oportunidade para protagonismos diplomáticos, mas um momento decisivo para encontrar soluções concretas. «A cimeira é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada, com todas as possibilidades de diálogo, mediação e busca de soluções».A sessão abriu oficialmente dia nove deste mês, em Nova Iorque, marcando o 80º aniversário da criação das Nações Unidas. A Semana de Alto Nível, ponto alto do calendário diplomático, decorre de 23 a 27 de setembro, com o debate geral a encerrar a 29 de setembro. Mais de 150 líderes mundiais, incluindo chefes de Estado e de governo, irão discursar na Assembleia e participar de eventos temáticos. Crises humanitárias e necessidade de pazEntre os conflitos mais urgentes, Guterres apontou Gaza, Ucrânia, Sudão e outros pontos de crise. Sobre Gaza, o antigo primeiro-ministro português comentou sobre relatórios de investigadores independentes. Estes documentos destacavam ações de Israel que poderiam configurar crimes graves, incluindo genocídio, embora tenha esclarecido que a determinação legal cabe ao Tribunal Internacional de Justiça, atualmente envolvido na situação na Faixa de Gaza. «O facto de não ter competência para determinar juridicamente o genocídio não significa que não considere horrível o que acontece em Gaza», afirmou.O Secretário-Geral reforçou a importância da conferência internacional sobre a implementação da solução de dois Estados, coordenada por França e Arábia Saudita, como caminho para uma paz duradoura no Oriente Médio. «É essencial reafirmar o direito do povo palestino à autodeterminação e que a solução de dois Estados seja a base da paz e da segurança para os dois povos», sublinhou.O rasto de destruição em Gaza Desafios climáticos, tecnológicos e direitos das mulheresA agenda de UNGA80 não deixa a crise climática para trás. Líderes mundiais vão apresentar novos planos nacionais de ação climática, conhecidos como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), visando manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 °C. Guterres descreveu o momento como «uma oportunidade histórica» para acelerar a mitigação, adaptação, financiamento e integridade da informação na luta contra a emergência climática.Outro tema central será a Inteligência Artificial (IA). Guterres alertou que, sem regulamentação internacional inclusiva e responsável, a IA poderá aprofundar desigualdades e afetar de forma desproporcional os mais vulneráveis. O Diálogo Global sobre Administração da IA, agendado para 25 de setembro, vai procurar estabelecer linhas éticas e de responsabilidade para a tecnologia. «Deve servir a toda a humanidade, não apenas aos mais fortes ou aos mais ricos», disse o Secretário Geral da ONU.A igualdade de género também integra a agenda da cimeira, que coincide com o 30º aniversário da Conferência de Pequim. Vão ser discutidos planos concretos para a inclusão das mulheres em processos de decisão, liberdade económica, combate à violência e justiça climática. O objetivo é reverter o retrocesso observado em alguns países, onde os direitos das mulheres enfrentam crescente resistência.O robô Ameca participou na Cimeira Global “AI for Good”, em Genebra, Suíça, em julho de 2023. Reformas e o futuro da ONUSob a presidência da ex-chanceler alemã Annalena Baerbock, que se tornou a quinta mulher na história a assumir o cargo de Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, a UNGA80 decorre sob o lema ‘Melhor Juntos’. Em declarações recentes, Baerbock sublinhou a urgência de transformar o envolvimento dos líderes mundiais em ação concreta e coordenada, lembrando que a ONU enfrenta uma encruzilhada decisiva.Segundo a presidente, os desafios que se colocam à organização vão muito para além dos conflitos armados. Entre eles destacam-se as alterações climáticas aceleradas, a desigualdade persistente entre países e dentro de sociedades, e o ritmo vertiginoso da inovação tecnológica, que exige respostas globais estruturadas e inclusivas.A reforma designada ONU80, liderada por Baerbock, pretende modernizar a estrutura da organização, tornando-a mais eficaz, transparente e capaz de cumprir as suas promessas aos 8 mil milhões de habitantes do planeta. A iniciativa abrange desde a melhoria dos processos internos e das tomadas de decisão até à otimização da cooperação internacional, preparando a ONU para enfrentar crises globais com mais agilidade.Annalena BaerbockEntre as prioridades da presidência de Baerbock destacam-se também o processo de seleção do próximo Secretário-Geral, previsto para 2026, e a implementação do Pacto para o Futuro, aprovado em 2024, que visa alinhar os esforços globais em torno de sustentabilidade, igualdade e desenvolvimento humano. Para a presidente da Assembleia Geral, estas medidas são essenciais para reforçar a relevância da ONU num mundo em constante transformação e para garantir que a organização continue a ser um farol de multilateralismo e cooperação internacional.Com mais de 150 reuniões bilaterais agendadas, Guterres planeia pressionar os líderes a dialogarem diretamente, reduzirem riscos e encontrarem soluções. Para o líder das Nações Unidas, a UNGA80 é um «momento de trabalho duro» em que todos o países, independentemente de tamanho ou poder, devem cooperar para enfrentar desafios globais.O conteúdo Guterres pede ação conjunta na ONU: «Este é o nosso momento de oportunidade» aparece primeiro em Revista Líder.