A história da viticultura australiana remonta ao final do século XVIII. Em 1788, com a chegada da Primeira Frota britânica a Sydney, o governador Arthur Phillip trouxe mudas de videiras da Cidade do Cabo (África do Sul) e da Europa para o recém-estabelecido assentamento em New South Wales. As primeiras tentativas de cultivo não tiveram sucesso devido ao clima úmido da região, mas logo viticultores perseverantes, como James Busby – considerado o “pai da viticultura australiana” – introduziram em 1831 uma coleção de mudas francesas e espanholas, que foram fundamentais para o desenvolvimento dos vinhedos no país. O contexto histórico era o da expansão colonial britânica, onde a produção de vinho visava tanto abastecer a população local como integrar a Austrália à cultura e economia europeias.A Austrália consolidou-se como um dos maiores exportadores de vinho do mundo, principalmente a partir da década de 1990, quando o estilo frutado, acessível e de excelente relação qualidade-preço conquistou mercados como Reino Unido, EstadosUnidos e China. Marcas como Penfolds, Jacob’s Creek e Yellow Tail tornaram-se ícones globais.A Austrália é hoje um dos maiores produtores de vinho do Novo Mundo, com regiões vitivinícolas espalhadas em diversos estados, cada uma com clima e terroir muito particulares. Neste diapasão, o país busca equilibrar a produção em larga escala com vinhos de alta gama, voltados à expressão do terroir e à sofisticação enológica. A diversidade climática e a inovação tecnológica fazem com que a Austrália seja vista como uma potência tanto em vinhos de consumo rápido quanto em rótulos de prestígio internacional.Uma das regiões mais tradicionais, famosa pela Shiraz intensa, encorpada, com notas de fruta madura, especiarias e taninos poderosos é Barossa Valley (South Australia). O clima quente favorece vinhos robustos, de grande longevidade. McLaren Vale (South Australia) é reconhecida também pela Shiraz, além de Grenache e Cabernet Sauvignon. O solo diversificado e a influência marítima proporcionam vinhos equilibrados, com frescor e intensidade aromática. Já Hunter Valley (New South Wales) é uma região histórica, onde se destacam os vinhos brancos de Semillon, com grande capacidade de envelhecimento, que evoluem de frescos e cítricos para complexos e melosos com o tempo.Por seu turno, Yarra Valley (Victoria) é uma região de clima mais fresco, referência na produção de Pinot Noir elegante, com taninos finos e aromas de frutas vermelhas, além de Chardonnay refinados. Margaret River (Western Australia) é uma das áreas mais prestigiadas, com solos ricos e clima temperado oceânico. É famosa por seus Cabernet Sauvignon de classe mundial,além de excelentes Chardonnay e Sauvignon Blanc.Finalmente, Coonawarra (South Australia) é a região reconhecida pelos solos de “terra rossa” sobre calcário, ideais para Cabernet Sauvignon estruturados, complexos e longevos. Os vinhos tintos de lá tem estilos que vão dos mais potentes (Barossa) até os mais elegantes e frescos (Yarra e Canberra). Já os brancos, especialmente da casta Semillon (Hunter Valley), Chardonnay (Margaret River, Yarra Valley) e Sauvignon Blanc estão entre os mais renomados, variando entre estilos frescos, minerais e versões com passagem por barrica, mais estruturadas.Curioso destacar que os produtores australianos são os que mais lançam mão das Screwcaps (tampas de rosca) em seus vinhos; o que, de forma alguma, interfere na qualidade dos mesmos. Também merece destaque o fato de um dos vinhos mais icônicos e procurados do mundo vir de lá, o Penfolds Grange, cuja garrafa chega a custar mais de 2.000 Euros no mercado internacional (este vinho é fechado com rolha de cortiça). A história do Penfolds Grange, segundo o site da vinícola, começou com uma viagem a Bordeaux em 1950, onde um vinho “capaz de permanecer vivo por no mínimo vinte anos” surgiu pela primeira vez na mente de Max Schubert. Ele criou seu primeiro Grange Hermitage experimental em 1951 – batizado em homenagem a “GrangeCottage”, a primeira casa australiana dos fundadores, Dr. Christopher e Mary Penfold. Este vinho deu início a uma nova maneira de pensar que eventualmente levaria a um estilo de vinho exclusivo, mas não antes de Grange ser desacreditado pelo conselho da Penfolds, forçando Max Schubert a continuar produzindo o vinho em segredo. Foi somente em 1960 que o conselho reconheceu o valor dos vinhos tintos envelhecidos de qualidade, com Grange triunfantemente reintegrado.As perspectivas para os vinhos australianos são positivas. O consumo mundial de vinhos premium cresce, e a Austrália tem ampliado seu portfólio com vinhos de terroir que competem em qualidade com rótulos da Europa. Ao mesmo tempo, enfrenta desafios como mudanças climáticas, custos de produção e barreiras comerciais em alguns mercados (como as tarifas impostas pela China nos últimos anos).Mesmo assim, a reputação dos vinhos australianos segue em alta: eles são modernos, versáteis, com grande aceitação internacional e devem manter participação relevante no cenário mundial, equilibrando vinhos acessíveis e rótulos de prestígio que expressam a riqueza de seus terroirs.Por aqui é fácil encontrar vinhos australianos e sugiro que os busquem, destacando, dentre eles, os tintos Château Tanunda Matthews Road Shiraz, Max s Penfolds Cabernet Sauvignon e o The Accomplice Second Heist – Shiraz, todos acessíveis e bemgastronômicos; de brancos sugiro Windy Peak Sauvignon Blanc, Vasse Felix Classic Dry White e o Angove Long Row Chardonnay, minerais e que devem ser bebidos bem refrescados. Salut! Leia também Conheça a história dos vinhos da Sicília e de suas uvas brancas