A JBS (JBSS3), maior produtora global de carnes, está preparada para uma provável virada do ciclo pecuário no Brasil, disse Eduardo Pedroso, diretor-executivo de Originação da Friboi, nesta quarta-feira (17).Em entrevista a jornalistas durante evento em São Paulo, ele lembrou que nos últimos 24 meses houve um “aumento significativo” do desfrute do rebanho nacional bovinos, resultando em uma sobreoferta “muito grande”, permitindo maior processamento nas indústrias do Brasil.A movimentação contrária, por sua vez, poderia implicar em uma menor oferta de bovinos para abate após um período de maior produção.E há sinais de uma menor oferta no próximo ano no Brasil, maior exportador global da proteína, em momento em que outros países, como os Estados Unidos, enfrentam uma escassez de animais para abate.ESPECIAL COPOM: Acompanhe a decisão de juros no Brasil e nos EUA ao vivo a partir das 18:30, é só clicar aqui“Realmente a iminência da virada do ciclo pecuário vem com alguns desafios. No nosso caso, estamos nos preparando com parcerias, contratos e relacionamento muito próximo de pecuaristas (no Brasil), para que o nosso volume seja preservado”, disse Pedroso.Ele comentou que, cada vez mais, a JBS trabalha com contratos a termo no Brasil.“Antigamente, a gente comprava o boi quando ele estava gordo. Hoje a gente compra o boi muitas vezes na barriga da mãe, com meses ou anos de antecedência. Essa relação (com o pecuarista) evoluiu muito, o nível de profissionalização da relação da indústria e produtor está em outro patamar.”Após um crescimento esperado de cerca de 3% em 2025 ante 2024, seguido de um salto de mais de 16% entre 2023 e 2024, os abates de bovinos no Brasil deverão cair mais de 9% em 2026 na comparação com este ano, para 37,1 milhões de cabeças, segundo estimativa divulgada nesta quarta-feira pela consultoria Datagro.Ciclo do boi já alcançou pico de oferta e JBS monitora questãoA queda nos abates ocorreria após um forte movimento de abate de matrizes, que geralmente é seguido por retenção de fêmeas para a produção de bezerros.Mudanças como essas geralmente impactam os preços da arroba do boi gordo. O mercado atual está “equilibrado”, com as cotações oscilando entre R$ 330 e R$ 290, segundo dados da Datagro no evento promovido pela consultoria.O executivo da JBS lembrou que o ciclo pecuário é inerente à atividade, que registra movimentos de retenção de fêmeas em uma época do ciclo e outra de “liquidação” dos animais.Ele comentou que isso geralmente traz oscilação de preços, mas destacou também que a incorporação de tecnologias e manejos tem amenizado os efeitos do ciclo de baixa.“O que a gente observa de oportunidades com o advento da integração lavoura-pecuária, incorporação de tecnologia no campo, redução da idade de abate, incremento da produtividade…, os impactos do ciclo podem ser suavizados, e é isso que a gente imagina que deve acontecer”, afirmou ele, admitindo que o Brasil está “entrando em momento de provável retenção de matrizes.”Roberto Perosa, presidente da associação das indústrias de carne do Brasil, a Abiec, disse a jornalistas durante o evento que não acredita “em toda esta queda” projetada nos abates para o ano que vem.“Acho que o mercado continuará equilibrado, a previsão dos especialistas para este ano era de uma queda de abates, e estamos crescendo o abate.”Ele destacou fatores como os citados pelo executivo da JBS, incluindo a melhoria genética do rebanho, que resulta em mais produção.Perosa disse também não acreditar em queda no consumo interno de carne bovina no Brasil, citando que 2026 é ano eleitoral, com possíveis movimentos que fortaleçam a demanda.“Acho que vai ter este estímulo, com o pleno emprego e o aumento da renda da população, acho que o consumo de carne bovina pode se manter estável ou inclusive crescer no ano que vem.”