Crítica: Segunda temporada de Fallout chega mais radioativa do que nunca

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As adaptações de games para o cinema e TV nunca estiveram tão em alta quanto agora, mas nem sempre isso significa algo bom. Enquanto produções como Minecraft e Until Dawn entregaram filmes de games com qualidade duvidosa, o Prime Video acertou a mão com a série de Fallout.Após uma primeira temporada premiada no Game Awards, e esnobada no Emmy, a série retorna para o seu segundo ano nesta quinta-feira (16), e entrega uma experiência que deve agradar os fãs com base na coesão e coerência. A Bethesda e o Prime Video dobraram a aposta em pontos interessantes da série, respondendo perguntas e trazendo novas dúvidas.O melhor de tudo, no entanto, é o tempo de produção: o streaming conseguiu entregar um trabalho de qualidade em um ano, algo raro para produções “blockbuster”, evitando o "Efeito Stranger Things" e expectativas exacerbadas. Ainda assim, o retorno aos ermos ainda possui pontos que poderiam ser melhores.Após conferir seis dos oito episódio da nova temporada, confira nossa crítica da segunda temporada de Fallout.O retorno aos ermos de New VegasA segunda temporada de Fallout não conta com surpresas em sua estrutura: o público acompanha novamente o trio de protagonistas Maximus, Ghoul e Lucy nos Estados Unidos que foram devastados por uma guerra nuclear. Entre flashbacks, abrigos subterrâneos e brigas com armaduras, vamos descobrindo o que levou os humanos até ali, e o que o futuro reserva para todos.O grande destaque da nova temporada fica para a ambientação. Além de termos novos desdobramentos no passado, todos os caminhos no apocalipse levam para New Vegas, cidade que aparece em um dos jogos da franquia. Confesso que esperava ver mais da cidade como um "personagem" dentro da narrativa, mas isso é compensado, justamente, por um novo personagem da história.Robert House traz novas tecnologias para o mundo de Fallout.A principal adição ao elenco fica para Robert House, interpretado por Justin Theroux, que é um magnata conhecido pelos jogadores de Fallout: New Vegas. A série nos apresenta o passado do executivo e sua relação com a VaultTec, além de trazer a história para o presente e conectar seus atos com o Ghoul (Walton Goggins) e Hank MacLean (Kyle MacLachlan).A chegada do personagem garante mais profundidade para a história dos bilionários do mundo de Fallout, mostrando suas ações tanto antes quanto depois da guerra. Além disso, temos ganchos para explorar o passado e o futuro de formas que não foram vistas nem mesmo nos games, mostrando que a série é praticamente um “Fallout 5”.Série traz mais respostas (e dúvidas) sobre o fim do mundoOs seis primeiros capítulos da segunda temporada de Fallout vão e voltam no tempo de maneira natural, trazendo respostas aguardadas por quem saiu sedento da primeira temporada. A produção aborda não apenas o bombardeio que levou o mundo para o apocalipse, mas os conflitos que ocorreram após o mundo voltar a se reerguer.O passado do Ghoul ganha mais destaque na nova temporada.As dúvidas do passado são centralizadas, principalmente, em Cooper Howard, que futuramente se torna o Ghoul, lidando com o envolvimento de sua esposa, Barb, nos planos nucleares da VaultTec. Aqui, a narrativa traz um certo tempero de espionagem, garantindo uma quebra interessante nos momentos de ação.A história também conta com respostas sobre o destino bombástico de Shady Sands, cidade onde Maximus nasceu e Lucy morou na infância. Além de trazer respostas, a série consegue amarrar muito bem os diferentes núcleos de personagens, garantindo coesão narrativa e expandindo conceitos que não eram explorados no jogo.Além disso, as pontes com os games também seguem se expandindo. O destaque fica para adição dos Deathclaws, monstros que aparecem nos games e ganham importância na história da série.As facções do mundo dos jogos de Fallout também estão de volta, mostrando a destruição humana dos ermos. A principal adição da segunda temporada fica para a Legião, com soldados inspirados em Roma e Macaulay Culkin fazendo seu retorno em um papel irreverente.Evolução dos personagens é destaqueAlém de expandir o mundo de Fallout, a série também se destaca por fazer o que toda nova temporada precisa: aprofundar seus personagens. A produção mostra perfeitamente as mudanças de seus três protagonistas e como o mundo ao seu redor afeta cada um deles.Mesmo tentando manter seu espírito inocente, Lucy está mais sanguinária após alguns rolês ao lado do Ghoul. É interessante notar como a personagem chega a ser chata e burra em alguns momentos, e isso muda no decorrer dose episódios com a realidade batendo na porta da protagonista.Por outro lado, o Ghoul acaba demonstrando mais traços de humanidade enquanto luta para manter a sanidade após mais de 200 anos de apocalipse. Seja no passado ou no presente, com ou sem maquiagem, Walton Goggins entrega uma baita atuação.O trio de protagonistas evoluiu muito durante os novos episódios.O crescimento de Maximus também é evidente durante os seis primeiros episódios. Após os eventos da primeira temporada, agora vemos o soldado mais ativamente fora da armadura, agindo por conta própria e se questionando sobre usa fé na Irmandade do Aço, que se prepara para uma grande guerra.Desenvolvimento dos VaultsQuem também ganha mais palco na série é Norm MacLean, interpretado por Moisés Arias, que está lidando com os mistérios por trás da conexão dos Vaults 31,32 e 33. Os abrigos também são tema de questões de política interna com seus moradores.O problema é que, no escopo geral da série, o investimento nas questões dos Vaults parece meio deslocado, já que os assuntos do exterior são bem mais interessantes.  A série deixa aberturas para responder questões importante sobre o abrigo 33 nos episódios finais da segunda temporada. No entanto, toda a questão organizacional dos abrigos, ao meu ver, pega mais tempo do que necessário na trama.Vale a pena?Os deslizes pontuais não diminuem os acertos da segunda temporada de Fallout, como a combinação certeira de humor, drama e momentos de puro sangue e ação. No saldo final, a experiência é bem divertida e, acima de tudo, dentro das expectativas.A segunda temporada de Fallout não é um evento grandioso ou extremamente marcante, e nem precisa ser. Os novos episódios acertam, justamente, em expandir o universo da produção e, acima de tudo, evoluir seus personagens.Enquanto ainda existem pontas soltas para serem resolvidas, a tendência é que a narrativa caminhe para o lugar certo no final da segunda temporada e na já confirmada terceira parte. Com isso em mente, se você curtiu o início da série e estava com saudade dos ermos, com certeza vai se divertir com o retorno de Lucy e seus parceiros.Por outro lado, se você não gostou de Fallout lá em 2024 e esperava que os novos episódios mudassem a sua mente, sinto te dizer que esse não é o caso. Assim como no mundo dos games, a segunda temporada de Fallout acerta justamente em apostar no básico: ser uma sequência decente, coesa e cativante.