Cientistas registraram pela primeira vez um comportamento inédito de lula em grandes profundidades do oceano, revelando novas pistas sobre estratégias extremas de camuflagem no ambiente abissal. As imagens foram captadas a 4.100 metros abaixo da superfície, no fundo do Oceano Pacífico, e mostram um cefalópode de espécie ainda não descrita adotando uma postura incomum: com a cabeça enterrada no sedimento e os tentáculos rígidos apontando para cima, semelhantes a hastes fincadas no solo marinho.O flagrante foi feito por um submersível operado remotamente durante uma expedição científica do projeto SMARTEX, iniciativa dedicada a estudar os impactos da mineração em águas profundas. A observação surpreendeu os pesquisadores por se tratar do primeiro registro desse tipo de comportamento em uma lula de mar profundo, ampliando o entendimento sobre como esses animais interagem com um ambiente considerado, até recentemente, pouco diverso.A observação surpreendeu os pesquisadores por se tratar do primeiro registro desse tipo de comportamento em uma lula (Imagem: Shutterstock AI)Lula tem comportamento inédito de camuflagem no fundo do marSegundo os cientistas, ainda não é possível afirmar com certeza a função exata da postura adotada pela lula. A principal hipótese é que o animal esteja utilizando o próprio sedimento como forma de camuflagem, misturando-se a elementos comuns do fundo oceânico, como hastes de esponjas ou tubos formados por vermes marinhos. Dessa forma, a lula poderia evitar a detecção por predadores em um ambiente onde a sobrevivência depende fortemente de estratégias furtivas.Outra possibilidade levantada é que a camuflagem funcione como uma armadilha. Ao permanecer parcialmente enterrada, a lula poderia atrair pequenos crustáceos ou outros organismos curiosos, que se aproximariam dos tentáculos expostos e acabariam capturados. Esse tipo de estratégia não é totalmente inesperado entre cefalópodes, grupo conhecido por sua capacidade de adaptação, inteligência e uso sofisticado de disfarces.Polvos e sépias, por exemplo, são famosos por mudar rapidamente de cor, textura e forma. Algumas lulas de oceano aberto também apresentam comportamentos de ocultação. Ainda assim, o ato de enterrar a cabeça no sedimento nunca havia sido documentado em cefalópodes de águas profundas.Assista ao momento, registrado pelos pesquisadores:O que a descoberta revela sobre o ecossistema abissalOs autores do estudo afirmam que o comportamento observado combina diferentes estratégias biológicas já conhecidas, mas raramente vistas em conjunto nesse grupo de animais. Entre os principais pontos destacados pelos pesquisadores estão:uso do sedimento como cobertura corporal;camuflagem por “mascaramento”, imitando objetos do ambiente;possível mimetismo agressivo, com finalidade de caça;adaptação comportamental inédita em cefalópodes abissais.O registro reforça a ideia de que o fundo do oceano está longe de ser um ambiente simples ou pobre em vida. Pelo contrário, a descoberta sugere que esses ecossistemas abrigam organismos altamente especializados, com comportamentos complexos que ainda escapam ao conhecimento científico.O registro reforça a ideia de que o fundo do oceano está longe de ser um ambiente simples (Imagem: MichaelStubblefield / iStock)O estudo também chama atenção para o fato de que a escassez de registros de lulas em regiões abissais pode não refletir baixa abundância, mas sim a eficácia de suas estratégias de camuflagem. Isso indica que a diversidade e a distribuição desses animais podem estar subestimadas, especialmente em áreas como a Zona Clarion-Clipperton, no nordeste do Pacífico, onde o projeto SMARTEX concentra suas pesquisas devido ao interesse crescente da indústria de mineração em águas profundas.Leia mais:Esses animais marinhos são vítimas de uma pandemia silenciosaPolvo-de-sete-braços é filmado nas profundezas pela 4ª vez em 40 anos5 animais que já demonstraram comportamento homossexual na naturezaPublicado na revista científica Ecology, o trabalho destaca como observações pontuais podem alterar significativamente a compreensão sobre a vida nas profundezas e reforça a necessidade de estudos mais detalhados antes de qualquer exploração em larga escala desses ambientes ainda pouco conhecidos.O post Lula é flagrada usando camuflagem inédita a 4.100 metros de profundidade apareceu primeiro em Olhar Digital.