Gordura no fígado: Anvisa aprova uso do Wegovy para tratar a condição

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O Wegovy, a versão aprovada para tratamento da obesidade do Ozempic, atua principalmente para controle de peso em pacientes com comorbidades. No entanto, cada vez mais estudos têm associado seu uso a outros benefícios para a saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de reconhecer mais um deles: a reversão da inflamação hepática causada pelo excesso de gordura no fígado e a melhora dos níveis de fibrose.De acordo com a fabricante do remédio, a Anvisa aprovou a ampliação da indicação do Wegovy nesta segunda-feira (15/12). Com isso, o medicamento da Novo Nordisk poderá ser utilizado no tratamento da gordura no fígado com inflamação associada à disfunção metabólica, condição conhecida pela sigla MASH, em adultos com fibrose hepática de moderada a avançada, mas sem cirrose. Leia também SaúdeNovo Nordisk pede à Anvisa aval para dose mais alta de Wegovy: 7,2 mg SaúdeOzempic, Wegovy e Mounjaro podem reduzir vontade de beber, diz estudo SaúdeMounjaro e Wegovy em pílula? Resultados positivos animam farmacêuticas SaúdeAnvisa proíbe fabricação e venda de Ozempic e Wegovy manipulados MASH e os riscos de complicação do figadoA gordura no fígado pode se acumular por excesso de consumo de álcool ou por padrões alimentares e de atividade física pouco saudáveis, como tem ocorrido em uma crescente pelo mundo. A esteatose hepática, nome científico do quadro, acomete pelo menos 30% da população global e está diretamente ligada ao sobrepeso e à obesidade: oito em cada dez pessoas com excesso de peso convivem com o problema.Além de aumentar o risco cardiovascular, a esteatose pode evoluir para quadros de inflamação (MASH), condição potencialmente grave que pode levar por sua vez à cirrose ou ao câncer de fígado. Em quadros amis graves, a única alternativa terapêutica é o transplante hepático. Mais de 250 milhões de pessoas no mundo vivem com MASH, e o número de pacientes em estágios avançados da doença deve dobrar até 2030.O risco de progressão para doenças hepáticas avançadas, incluindo câncer de fígado, além do aumento da probabilidade de infarto, AVC e morte cardiovascular, é maior em pessoas com MASH do que na população geral. A proporção de casos de câncer de fígado associados à MASH, por exemplo, segundo estudo da The Lancet publicado em novembro, deverá aumentar de 8% em 2022 para 11% em 2050.“Antigamente, acreditava-se que o câncer de fígado ocorria principalmente em pacientes com hepatite viral ou doença hepática relacionada ao álcool. No entanto, hoje, as crescentes taxas de obesidade são um fator de risco crescente para o câncer de fígado, principalmente devido ao aumento de casos de excesso de gordura ao redor do fígado”, diz Ramon Andrade de Mello, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil, em São Paulo.O novo tratamentoA aprovação da Anvisa baseia-se nos resultados do estudo Essence, de fase 3, a última obrigatória para a aprovação de um medicamento, publicado em abril de 2025. Nele, 1,2 mil participantes foram randomizados em uma proporção de 2:1 para receber semaglutida 2,4 mg ou placebo, além do tratamento padrão, ao longo de 240 semanas. A análise demonstrou que o Wegovy foi superior ao placebo na reversão do processo inflamatório do fígado e na melhora da fibrose hepática. Os dados clínicos indicaram que, após 72 semanas:• 63% dos pacientes tratados com Wegovy alcançaram a reversão completa da MASH, em comparação com 34,3% no grupo placebo que foi orientado apenas a melhorar práticas alimentares e exercício.• 37% dos pacientes tratados com Wegovy apresentaram melhora no estágio da fibrose hepática, ou seja, da formação de tecido cicatricial no órgão, contra 22,4% no grupo placebo.• 33% dos pacientes obtiveram os dois benefícios simultaneamente, com reversão da inflamação e melhora do grau de fibrose.“A aprovação de hoje é um marco no tratamento da gordura no fígado no Brasil, uma doença silenciosa e grave, diretamente ligada à epidemia de obesidade”, afirma a endocrinologista Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil.“Ter uma terapia que demonstrou não apenas reverter a inflamação em mais de 60% dos pacientes, mas também melhorar a fibrose hepática, representa um avanço capaz de mudar o curso da doença. Este resultado reforça o compromisso de ir além do tratamento da obesidade, abordando as comorbidades de forma integral e oferecendo uma nova perspectiva de vida e saúde para os pacientes”, conclui a médica.Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!