O Banco Safra elevou sua projeção para o Ibovespa (IBOV) e passou a ver o principal índice da bolsa brasileira em 198 mil pontos no fim de 2026, segundo relatório de equity research divulgado nesta semana.A estimativa reflete a expectativa de início do ciclo de corte de juros no Brasil, um cenário externo mais controlado e a continuidade do afrouxamento monetário nos Estados Unidos.Segundo os analistas, são esses os principais fatores que sustentam uma visão construtiva para o mercado acionário, apesar da maior volatilidade esperada com a proximidade das eleições.De acordo com o relatório, a nova projeção incorpora a redução das premissas para a taxa livre de risco, de 4,3% para 4,1%, e para o risco-país, de 2,7% para 2,4%.O banco também elevou levemente a estimativa de lucro por ação (LPA) do Ibovespa para 21.283 pontos em 2027.Aplicado a um múltiplo preço/lucro (P/L) alvo de 9,3 vezes, o resultado é o preço-alvo de 198 mil pontos, o que implica potencial de valorização de cerca de 23% em relação ao nível atual do índice.Bull market?Para os analistas do Safra, o desempenho recente da bolsa brasileira caracteriza um “bull market pouco celebrado”. Embora o Ibovespa tenha renovado máximas históricas ao longo de 2025, outros indicadores tradicionais de euforia não acompanharam esse movimento.O número de ofertas públicas permanece baixo, a liquidez da B3 não cresceu no mesmo ritmo da capitalização de mercado e o investidor local segue reticente em ampliar a alocação em ações, o que reforça a leitura de que ainda há espaço para valorização.No cenário internacional, o banco destaca a rotação de fluxo para mercados emergentes em 2025, em meio à desvalorização do dólar.Para 2026, a expectativa é de desaceleração moderada da economia global, com crescimento do PIB americano em torno de 2% e cortes adicionais de juros pelo Federal Reserve, levando a taxa básica para a faixa entre 3,25% e 3,50% ao ano até o fim de 2026.Esse ambiente tende a favorecer ativos de risco em países emergentes, como o Brasil.O Safra também reforça o papel do Ibovespa como proteção contra a inflação no longo prazo. Nos últimos dez anos, as empresas do índice registraram crescimento de receita de 191% e de lucro de 218%, bem acima do IPCA acumulado no período.Ainda assim, o múltiplo P/L futuro recuou, indicando que parte relevante da evolução dos fundamentos não foi totalmente precificada, o que mantém a bolsa relativamente barata em termos históricos.Para 2026, o banco avalia que o principal vetor de alta do Ibovespa será o crescimento dos lucros, estimado em 16,4%, responsável por mais de 70% do retorno projetado no cenário-base.A reprecificação de múltiplos deve ter contribuição menor, mas ainda positiva, com o P/L retornando para níveis próximos da média histórica.Impacto das eleições no IbovespaEm relação ao cenário político, o Safra observa que anos eleitorais costumam elevar a volatilidade, mas ressalta que, historicamente, a bolsa tende a se recuperar de forma relevante no período seguinte às eleições, especialmente quando há cortes de juros.Para 2026, a expectativa é de redução da Selic em cerca de 3,5 pontos percentuais, para 11,5% ao ano, o que reforça o viés positivo para as ações.O relatório também apresenta cenários alternativos. No cenário otimista, com juros mais baixos e crescimento mais forte, o Ibovespa poderia alcançar 254 mil pontos no fim de 2026.Já no cenário conservador, que considera deterioração do ambiente fiscal e juros mais elevados, o índice poderia recuar para 136 mil pontos.Para se posicionar diante desse ambiente, o Safra recomenda uma seleção de empresas que combinem qualidade de ativos e de gestão, alavancagem controlada e potencial de crescimento.No cenário-base, o banco destaca nomes como Gerdau (GGBR4), Rede D’or (RDOR3), Copel (CPLE3), Motiva (MOTV3) e Telefônica (VIVT3), além de manter exposição equilibrada entre empresas de dividendos e companhias com viés de crescimento.Entre os principais riscos mapeados pelo banco estão uma desaceleração mais forte da economia global, deterioração fiscal adicional no Brasil, piora do ambiente geopolítico, manutenção de uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos e eventuais mudanças tributárias que afetem negativamente as empresas listadas.