A economia brasileira tem dado sinais de desaceleração, como ocorreu com o PIB no terceiro trimestre, com variação de 0,1%. Agora, o IBCBr registrou retração de 0,2% em outubro sobre setembro, mesmo recuo do mês anterior. Mas esse movimento de perda de ritmo da atividade ainda mostra dados contraditórios. As vendas do varejo subiram 0,5% também em outubro. A primeira variação positiva mais significativa em vários meses, enquanto o setor de serviços, mesmo com desaceleração, ainda avançou 0,3% no mês. Diferente da composição do IBCBr, onde Serviços caíram 0,2%.Esses dados, na verdade, mostram fatores que estão rebatendo os esperados impactos da política monetária contracionista. Os juros mantidos elevados, por tempo prolongado, deveriam provocar perda de ritmo mais consistente da economia. É a estratégia para esfriar a demanda e, por aí, reduzir o espaço para aumentos de preços. A inflação também vem em queda, assim como as projeções. No relatório Focus, divulgado nesta segunda, a previsão do IPCA para 2025 caiu de 4,40% para 4,36%; e a de 2026 de 4,16% para 4,10%. Vão convergindo para o centro da meta inflacionária, que é 3%. Porém, essa convergência ainda parece muito gradual. A projeção média do mercado para a inflação de 2027 permaneceu em 3,8% e de 2028, em 3,5%.Claro que a tendência de perda de ritmo da atividade junto com a da inflação reforça a expectativa quanto a um corte da taxa Selic já no começo de 2026. O problema são os dados contraditórios. A expansão das vendas do comércio, dos Serviços (que ainda mostram resiliência dos aumentos de preços), a força do mercado de trabalho, programas de transferência de renda do governo são condições presentes, que reduzem o impacto da política monetária e podem manter o conservadorismo do Banco Central na condução dos juros.E 2026 vai ser um ano de eleições, em que, normalmente, há aumento de gastos públicos, maior instabilidade do mercado por fatores políticos (já tivemos uma amostra com a recente indicação de Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência). O dólar, mais volátil, pode afetar a evolução de vários preços. Logo no início do ano já haverá algum impacto na renda disponível para o consumo, com o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Enfim, mais dúvidas quanto à evolução da atividade e possíveis novas pressões de preços.O Copom, na ata a ser divulgada nesta terça, pode até amenizar o tom mais duro do comunicado da reunião da semana passada. Mas é bastante improvável que traga indicação mais segura quanto ao início dos cortes da Selic. E não se pode falar em falta de transparência. O Comitê do Banco Central tem sido muito transparente em relação às dúvidas quanto à desaceleração da economia e da inflação e o objetivo de fazer com que haja convergência maior das projeções de inflação para a meta. Diante disso, por enquanto. Só dá para prever gradualismo nos cortes dos juros.