Selic em 15%, tarifaço e recorde na Bolsa marcam o ano na economia

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O ano de 2025 desafiou as previsões mais pessimistas. Enquanto o cenário externo impôs barreiras inéditas ao comércio nacional — com o “tarifaço” norte-americano testando a diplomacia e o caixa das exportadoras —, a economia doméstica viveu um ano de intenso aperto monetário. O mercado de trabalho, por sua vez, se mostrou resiliente e robusto, o que pressionou a inflação.O Brasil viu o desemprego cair a níveis históricos e a renda bater recordes, obrigando o Banco Central a uma postura de “vigilância extrema” nos juros para equilibrar a euforia do consumo. Selic em 15% e o combate à inflaçãoO ano começou com Gabriel Galípolo à frente da presidência do Banco Central. Indicado pelo presidente Lula, Galípolo teve o desafio de construir a autoridade necessária para conduzir a política monetária. A transição trouxe um tom de continuidade técnica, e Galípolo manteve o compromisso com a meta da inflação.A Selic chegou em 15% em junho e, desde então, não cedeu. Foi um ano de juro médio bastante restritivo, com setores da economia e o mercado analisando os indicadores para projetar quando começa o ciclo de cortes – e a janela de investimentos.Mas os dados da atividade econômica e os indicadores de inflação demoraram a ceder. O mercado de trabalho demonstrou força, a renda bateu recorde, e a inflação de serviços era a mais resistente. “Aprendemos a lição de que, em 2025, tivemos que ter juros a 15% para a política monetária surtir efeito, o que não é uma boa notícia, porque isso representa um juro real de praticamente 10% ao ano”, avalia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre. Para Eduardo Menicucci, professor associado da Fundação Dom Cabral, o “remédio” para o combate à inflação que o Banco Central adotou surtiu efeito, que é a queda da inflação, “mas os efeitos colaterais foram amargos”. Ele cita a queda da atividade econômica, com um Produto Interno Bruto (PIB) devendo fechar o ano abaixo da média histórica do Plano Real, que é de 2,22%; o aumento “exponencial” no número de pedidos de recuperações judiciais e um “desânimo” empresarial que já está sendo “precificado” para o ano que vem, já que a expectativa do mercado, expressa no relatório Focus, é de um crescimento em 2026 ainda menor do que em 2025, de 1,78%.O combate à inflação só não foi mais acirrado porque o Brasil foi beneficiado pela desvalorização do dólar e a exportação de deflação da China, que impactou o mundo todo. “A inflação deste ano foi beneficiada pela queda dos componentes expostos ao comércio internacional”, avalia Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central. Alimentos e produtos industriais ajudaram a trazer a inflação para baixo, enquanto serviços pressionaram, dado o mercado de trabalho aquecido.TarifaçoEm abril, o governo Donald Trump anunciou uma tarifa de importação de 10% sobre produtos brasileiros, o que deixou a economia em alerta sobre possíveis impactos na inflação e nas vendas dos setores afetados. Em agosto, Trump elevou a tarifa para 50%, escalando a disputa comercial e colocando teores políticos na decisão ao citar o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na carta de anúncio da nova taxação. A medida afetou 35% as exportações brasileiras, foi atenuada por uma lista de exceção, mas se tornou o primeiro grande desafio para a diplomacia econômica.Foram meses de tentativas de diálogo, sempre esbarrando na oposição dos EUA e em agendas desmarcadas. Os setores mais afetados passaram a negociar As ameaças, porém, não se concretizaram. Um mês depois do anúncio, a “hecatombe” não veio. A lista de exceções e a diversificação de mercados minimizaram o impacto das tarifas. Ao fim de setembro, Trump surpreendeu ao citar Lula em seu discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, dizendo que havia encontrado do presidente brasileiro e que eles tiveram uma “química excelente”. “Não tivemos muito tempo para conversar, talvez uns 20 segundos. Mas, por cerca de 39 segundos, tivemos uma excelente química. Ele me pareceu um homem muito agradável. Eu gostei dele, e só faço negócios com pessoas de quem gosto”, disse Trump.A partir desta reviravolta, os líderes se reuniram na Malásia em outubro e, em novembro, Trump anunciou a retirada das tarifas de 40% sobre os produtos brasileiros, incluindo café, carne e frutas, importantes para o agronegócio brasileiro. Agora, o Brasil segue negociando para garantir isenção total e estabilidade em setores como aço e alumínio, mas o susto – intensificado pela dificuldade de diálogo – já passou. Leia também: “Lula venceu”, afirma Financial Times após Trump recuar de tarifas sobre o Brasil“O tarifaço foi restritivo, mas forçou exportadores a procurarem outros mercados e o indicador de comércio exterior mostra isso” Claudio Monteiro Considera, pesquisador associado do FGV Ibre.A desvalorização do dólarApós começar o ano sob forte tensão, com a cotação superando a barreira dos R$ 6 em janeiro, o dólar comercial chega ao fim do ano com forte desvalorização, negociado na faixa de R$ 5,40.A trajetória de queda da moeda norte-americana é resultado de uma combinação de fatores, como a política comercial do governo Donald Trump, que implementou tarifas de importação para proteger a indústria local, a manutenção da taxa Selic em patamares elevados, e o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos.Analistas apontam que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos continua atraindo capital estrangeiro especulativo (operação conhecida como carry trade), que busca rentabilidade na renda fixa brasileira – com mais dólar entrando, menor a cotação da moeda em comparação ao real.Já o tarifaço fez com que as expectativas sobre o crescimento americano caíssem, forçando o Fed a cortar juro e evitar uma recessão, diminuindo a atratividade dos títulos do Tesouro americano em relação a mercados emergentes, beneficiando moedas como o real.Mercado de trabalho aquecidoEnquanto a indústria digeria as taxas externas, o mercado interno aquecia. O IBGE apontou uma queda sucessiva na taxa de desemprego, que recuou a 5,4% no trimestre encerrado em outubro, a menor de toda a série histórica iniciada em 2012, desafiando o limite do piso. Parte do recuo pode ser explicada pela menor taxa de participação no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, o Brasil registrou renda recorde: o rendimento real no trimestre encerrado em outubro foi de R$ 3.528, aumento de 3,9% comparado ao mesmo período do ano passado. O dado foi impulsionado pelo aumento do emprego formal (CLT), contrariando analistas que previam desaquecimento.O mercado de trabalho também passou por um paradoxo. Enquanto havia a criação de muitas vagas, as empresas afirmavam ter dificuldade de encontrar o funcionário ideal devido à falta de mão de obra qualificada e a concorrência com a Gig Economy, impulsionada pela “pejotização” e “uberização” dos contratos de trabalho temporários. E, quando encontravam, enfrentavam a falta de engajamento, que chegou ao menor patamar em 2025.Isenção do IR para quem ganha até R$ 5 milO Congresso acelerou a regulamentação da Reforma Tributária. O foco se voltou para as leis complementares e a definição da “alíquota de transição” do IBS e CBS, com empresas começando a correr contra o tempo para adaptar seus sistemas ao split payment (pagamento dividido) previsto para começar afase de testes em 2026.O debate tributário também trouxe números superlativos: a regulamentação da Reforma Tributária trouxe à tona a possível taxação de até 250% para cigarros e 46% para bebidas alcoólicas, além da duplicação da carga tributária sobre aluguéis residenciais, gerando apreensão no setor imobiliário.Em outubro, o Senado aprovou o segundo grande projeto de regulamentação da tributária, travando batalhas sobre a gestão do Comitê Gestor do IBS e as isenções para setores específicos. O texto trouxe as regras para ITCMD e ITBI que impactaram diretamente o planejamento sucessório de famílias de alta renda.Atividade econômica ‘andou de lado’A atividade econômica em 2025 viveu um cenário de desaceleração suave, enfrentando a resistência do consumo das famílias. No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4%, impulsionado pelo agro, que teve alta de 12,2% no período. Serviços também cresceu nos três primeiros meses do ano, 0,3%, e a indústria recuou 0,1%.No segundo trimestre, o PIB desacelerou a 0,4%, acima das expectativas, com serviços e consumo atingindo patamares recordes. A fotografia mostrou um país reduzindo a marcha devido ao juro alto, o tarifaço e a queda de investimentos.No terceiro trimestre, o PIB continuou desacelerando, a 0,1%, percentual abaixo do esperado, sustentado pelo agro, petróleo e gás, e com estagnação no consumo das famílias e serviços.Segundo o Itaú, a economia andou “relativamente de lado” em 2025, com uma projeção de crescimento do PIB de 2,2% para o ano consolidado. Já o UBS adota uma estimativa ligeiramente mais conservadora, de 1,8%, e destaca a estagnação na segunda metade do ano: “Espera-se que a economia apresente crescimento do PIB próximo de zero no segundo semestre de 2025”. O Bradesco, por sua vez, projeta uma expansão de 2,0%.Bolsa bate recordeO mercado financeiro viu, em 2025, a Bolsa batendo recorde, em um rali acirrado no segundo semestre que culminou com o rompimento da barreira inédita de 164 mil pontos em dezembro.O principal combustível para o recorde veio de fora, com o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, o que provocou uma rotação global de capital: investidores internacionais, buscando retornos maiores do que os oferecidos pelos títulos do Tesouro americano, voltaram a olhar para emergentes.Com os juros altos no Brasil, a Bolsa deixou de ser atrativa para os investidores locais, mas o diferencial de juro em relação aos EUA atraiu esse capital estrangeiro.The post Selic em 15%, tarifaço e recorde na Bolsa marcam o ano na economia appeared first on InfoMoney.