Entre as primeiras músicas do show, Johan Edlund, vocalista, principal compositor e praticamente o homem-banda do Tiamat, tentou definir um rótulo para o som do grupo sueco. Com uma voz que parecia alguém recém despertado numa segunda-feira brava, ele citou estilos e chegou até a falar em “cry metal”.A referência aos refrãos emocionais que explodem após versos introspectivos é parte de uma sonoridade iniciada no metal extremo, mais de 30 anos atrás, e rumou em direção ao gótico. Em 1994, com o icônico disco “Wildhoney”, o Tiamat ajudou a definir sua variação mais pesada, sendo copiado à exaustão na sequência daquela década e reverenciado até hoje. Apesar de ser o álbum mais representado na apresentação no Carioca Club, o grupo sueco equilibrou suas diversas fases no palco durante pouco mais de uma hora e meia para um público diminuto.Mais de quinze anos se passaram desde a estreia do Tiamat no Brasil, ao lado dos portugueses do Moonspell em 2009, porém a atividade do grupo não foi das mais intensas. Nesse período, apenas um disco foi lançado: “The Scarred People” (2012), devidamente ignorado em sua segunda passagem pelo país.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxUma segunda-feira, na tradicional correria de dezembro, está longe de ser uma data atrativa para o público. Não surpreendeu, assim, o Carioca Club, em uma análise meramente visual, mal ter chegado a um terço de sua pista preenchida.No horário agendado para o início do show, as cortinas permaneciam cerradas. Edlund não fez questão alguma de criar uma atmosfera de ansiedade e foi saudar as pessoas que se amontoavam na beira do palco.Johan Edlund, vocalista do Tiamat, autografando itens de fãs em cima do próprio palco do Carioca Club, em São Paulo, antes do show começar. Vídeo de Gustavo Diakov. pic.twitter.com/oQFx3kRxKP— Igor Miranda (@igormirandasite) December 15, 2025Com a introspectiva, e convenhamos, um pouco modorrenta “Church of Tiamat”, do álbum “Skeleton Skeletron” (1999), o show começou atrasado em pouco mais de 15 minutos, mas já com toda a banda a postos no palco quando as cortinas se abriram. Edlund, numa postura meio caricata usando chapéu e óculos escuros, por vezes se agachava em frente aos monitores, como se lesse as letras, enquanto sua voz seguia meio sonolenta.Na bateria, atrás do cantor, seu fiel escudeiro Lars Sköld, com mais de trinta anos prestados ao Tiamat, ditava o ritmo da noite. Também na parte traseira, Per Wilberg, tecladista de passagem relevante pelo Opeth, ajudava na construção das atmosferas densas e sombrias típicas do grupo, que não fez uso de faixas pré-gravadas.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxDe um dos lados do vocalista, Gustaf Heim não só fazia aquelas típicas melodias pós-punk no baixo como ajudou até dando uns falsetes para reproduzir o vocal feminino de “Divided”, primeira das quatro faixas do disco “Prey” (2003) executadas na noite. Na outra lateral, nem parecia que Simon Johansson se juntou ao grupo há menos de quatro anos, tamanha sua desenvoltura na reprodução dos riffs e, principalmente, dos belos solos floydianos típicos dos melhores momentos da discografia do Tiamat.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxSem um trabalho novo para divulgar, era natural que o repertório fosse um apanhado da carreira do Tiamat. Ainda assim, a retrospectiva deixou de lado seus dois primeiros e mais pesados álbuns, “Sumerian Cry” (1990) — composto ainda nos tempos da Treblinka, uma das pioneiras no death metal sueco — e “The Astral Sleep” (1991).Na parte inicial da noite, porém, três faixas de “Clouds” (1992) foram executadas na sequência para despertar o público. Não o suficiente para abrir rodas acompanhando as passagens mais rápidas de “In a Dream” e da faixa-título do terceiro álbum do grupo, mas gritos, palmas e, no refrão da pesada “The Sleeping Beauty”, até uma ameaça de coro vieram da espaçada pista no Carioca Club.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxO telão ao fundo do palco, então, trocou o logo meio satânico do início da carreira do Tiamat pelas letras estilizadas com cara noventista e Edlund, deixando seu vocal mais agressivo de lado, retomou aquela voz meio sonolenta. Sem muito brilho, ainda que numa fluência agradável, o show alternou músicas bem cadenciadas com baladas de refrãos pretensamente catárticos e solos de extremo bom gosto reproduzidos por Simon Johansson — caso principalmente de “Phantasma De Luxe”, do álbum “A Deeper Kind of Slumber” (1997).Por momentos, como em “Love in Chains” — outra do álbum de 2003 —, Edlund fazia as vezes de barítono e o grupo soava como um Paradise Lost encabeçado pelo clássico vocalista do Sisters of Mercy, Andrew Eldritch. Em “Brighter than the Sun”, a outra faixa de “Skeleton Skeletron” na noite, faltou só mesmo a bateria eletrônica para não ser uma típica música da lendária banda inglesa de pós-punk.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxJá se passava da metade do show quando, finalmente, o som de passarinhos da faixa-título introdutória de “Wildhoney” foi executada no sistema de som do Carioca Club para uma suíte de quatro canções extraídas do clássico álbum de 1994. “Whatever that Hurts”, densa música que abre o disco, veio praticamente emendada à cadenciada “The Ar” e a postura do público mudou, com punhos no ar acompanhando os riffs mais pesados tocados no palco. A singela “Do You Dream of Me?” acalmou um pouco os ânimos, logo tensionados de novo pela melancólica e agressiva “Visionaire”, com seu belo solo de guitarra.Por mais que músicas como “Cold Seed”, a segunda de “A Deeper Kind of Slumber” (1997), e o refrão “sister-esco” de “Vote for Love”, única do álbum “Judas Christ” (2002), tenham devolvido uma pegada mais dançante à apresentação, nem Edlund fazendo coraçõezinhos com a mão para o público era capaz de tirar de uma sensação de marasmo.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxOs ruídos de “25th Floor” passaram meio despercebidos antes de a atmosférica “Gaia” fechar o show com o que de melhor e mais único o Tiamat fez em sua carreira. Enquanto Johansson encarnava seu David Gilmour interior nos solos finais da principal faixa de “Wildhoney”, Edlund se despediu do público com a mesma empolgação de quem chega em casa do trabalho numa segunda-feira.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxCom seus discos da primeira metade dos anos 90, o Tiamat ajudou a dar cara ao então nascente gothic metal, antes de, como quase toda a banda na metade final daquela década, expandir seu som além do metal. A apresentação do grupo no Carioca Club evidenciou a discrepância entre essas fases. Ainda assim, certamente o pequeno público presente já se divertiu bem menos numa quente segunda-feira à noite.Foto: Gustavo Diakov @xchicanoxTiamat — ao vivo em São PauloLocal: Carioca ClubData: 15 de dezembro de 2025Turnê: Latam Tour 2025Produção: Cacique EntertainmentRepertório:Church of TiamatIn a DreamCloudsThe Sleeping BeautyDividedWill They Come?CainLove in ChainsPhantasma De LuxeBrighter Than the Sun(Intro: Wildhoney)Whatever That HurtsThe ArDo You Dream of Me?VisionaireCold SeedWings of HeavenVote for Love(Intro: 25th Floor)GaiaFoto: Gustavo Diakov @xchicanoxQuer receber novidades sobre música direto em seu WhatsApp? Clique aqui!Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.O post Tiamat faz retrospectiva da carreira em show com cara de segunda-feira em SP apareceu primeiro em Igor Miranda.