Às sextas-feiras, Montclair, em Nova Jersey, ganha uma rotina peculiar: em vez de filas de carros, são grupos de crianças e pais que aparecem nas ruas, todos de bicicleta, seguindo para a escola em pequenos pelotões. Mochilas nas costas, capacetes ajustados e vizinhos que acenam das janelas compõem o cenário que já se tornou parte da paisagem local — um hábito que começou discreto e hoje mobiliza centenas de pessoas.O que nasceu há três anos como um test-drive entre cinco famílias rapidamente se transformou. “Tudo começou porque, em grupo pequeno, não nos sentíamos seguros”, conta a organizadora Jessica Tillyer. Pedalar sozinha com os filhos parecia arriscado e solitário. Em um coletivo, havia proteção e companhia. Hoje, até 400 pessoas seguem juntas para a escola. Para a aluna do segundo ano, Gigi Drucker, a lógica é simples: “A melhor maneira de ir para a escola é de bicicleta”, porque envolve exercício e “é mais saudável para o planeta”.O fenômeno ultrapassou Montclair. A Bike Bus World estima que mais de 400 rotas semelhantes existam hoje em diversos países, da Europa, da Austrália e da Índia. Sam Balto, cofundador da organização e criador do famoso ônibus-bicicleta de Portland, Oregon, diz que o crescimento tem explicação: “crianças e famílias anseiam por comunidade, atividade física e contato com a natureza”. Leia também: 1.Bike Parada Não Rola: projeto recolhe bicicletas abandonadas 2.Sistema transforma bicicleta comum em elétrica em 3 minutos Para Montclair, fazer o sistema funcionar exigiu testes e ajustes. Antes do primeiro passeio oficial, os organizadores mapearam ruas e definiram um trajeto seguro. “Levamos um tempo para definir uma rota com a qual ficássemos satisfeitos”, explica Andrew Hawkins. A comunicação também foi crucial: anúncios em redes sociais e grupos escolares deram origem a um chat que envia lembretes, avisos e fotos — e que, segundo o pai Gene Gykoff, alegra as crianças logo cedo. Seu filho, diz, fica “mais animado para sair da cama para pegar o ônibus com bicicletas do que para o ônibus escolar normal”.Os trajetos atendem escolas de ensino fundamental e médio, com foco nos mais jovens, que se adaptam bem ao ritmo de cerca de dez quilômetros por hora. “Não há corridas no ônibus de bicicletas”, reforça Hawkins, embora, às vezes, o grupo seja dividido para permitir que os mais velhos avancem sem deixar ninguém para trás. O inverno representa o grande desafio. Chuva, frio e escuridão exigem preparo: coletes refletores, luzes, luvas e ferramentas para emergências. As saídas só são canceladas quando há risco real. Ainda assim, as crianças costumam se adaptar melhor do que os adultos. “Elas querem estar ao ar livre com seus amigos”, diz Balto. “Se você vai fazer isso em qualquer clima, faça com consistência.”Mesmo com toda a logística, o conselho de quem já organiza o ônibus-bicicleta é simples: começar. “Se você for consistente — uma vez por semana, uma vez por mês, uma vez por estação — isso vai crescer”, afirma Balto. Tillyer reforça: “Não peçam permissão. Não se preocupem com o que será necessário. Encontrem um pequeno grupo de pessoas, subam nas bicicletas e vão pedalar para a escola.” O resultado transcende o deslocamento: é uma lembrança semanal de que a comunidade pode transformar a rotina. As crianças chegam mais despertas, os pais mais conectados e as ruas ganham o som suave das rodas no lugar do barulho dos motores. The post O dia em que a comunidade pedala junto para a escola appeared first on CicloVivo.