Engie avalia transferência da Jirau e reacende debate sobre diluição e alavancagem

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A Engie (EGIE3) anunciou a criação de um comitê de partes relacionadas para avaliar a transferência da participação de 40% de sua controladora na usina hidrelétrica (UHE) Jirau para a companhia. Às 10h10, as ações da companhia elétrica subiam 0,92%, a R$ 30,73.Embora os termos e a estrutura da transação ainda não estejam definidos, a empresa menciona que uma das estruturas em discussão é a transferência da participação acionária em troca de novas ações, o que acionaria a extensão aos acionistas minoritários para subscrever novas ações ao mesmo preço definido na potencial relação de troca (oferta de direitos de preferência).Leia tambémIbovespa Hoje Ao Vivo: Confira o que movimenta Bolsa, Dólar e Juros nesta segundaÍndices futuros dos EUA avançam juntos A XP Investimentos afirma que o anúncio já era amplamente esperado pelo mercado, uma vez que a usina de Jirau reduziu de forma significativa suas incertezas operacionais e financeiras e passou a gerar fluxo de caixa livre positivo. Esse movimento diminui as assimetrias e os riscos entre a Engie e o ativo.Segundo a XP, considerando um Ke real (custo do capital próprio ajustado pela inflação) de 10%, o valor estimado de Jirau seria de R$ 13,7 bilhões ao fim de 2025. Esse montante poderia resultar em uma potencial oferta de direitos aos acionistas minoritários de aproximadamente R$ 2,5 bilhões. Embora os termos e a estrutura da operação ainda não estejam definidos, a casa destaca que a relação de troca (proporção entre ativos ou ações envolvidos na operação) será determinante para avaliar a atratividade do negócio.A XP vê de forma positiva o aumento da exposição da Engie a ativos hidrelétricos com PPAs de longo prazo (contratos de compra e venda de energia com prazo estendido, que reduzem a volatilidade de receitas). A instituição também ressalta que uma eventual oferta de direitos ocorre em um momento em que a companhia poderia realizar outra alocação potencialmente geradora de valor, como o pré-pagamento da dívida UBP (unidade de negócios ou veículo específico de dívida) de cerca de R$ 5 bilhões, com desconto aproximado de 50%, o que exigiria um desembolso de cerca de R$ 2,5 bilhões.De acordo com a análise, essa estratégia permitiria à Engie manter a alavancagem praticamente inalterada, ao mesmo tempo em que segue comprometida com seu plano de investimentos e com o payout mínimo de 55% (percentual do lucro distribuído aos acionistas na forma de dividendos).Na avaliação do Morgan Stanley, a transação em potencial pode ter impactos mistos sobre a Engie. Do lado positivo, o banco destaca que a operação está alinhada à estratégia de crescimento em geração limpa da companhia, aumenta a duração do papel, amplia a visibilidade de fluxo de caixa por meio de PPAs de longo prazo e fortalece a plataforma hidrelétrica da empresa, ao adicionar cerca de 18% à energia assegurada e aproximadamente 12% ao EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).Por outro lado, segundo o Morgan Stanley, a depender da avaliação do ativo e da estrutura do negócio, a transação pode exigir uma captação de recursos via emissão de ações para preservar o perfil de crédito da Engie e evitar um período prolongado de alavancagem elevada, pressão sobre o rating de crédito e possíveis restrições ao pagamento de dividendos. Na visão do banco, esse cenário introduz risco de diluição para os acionistas minoritários.Em uma análise preliminar, assumindo uma estrutura majoritariamente em caixa, ainda não definida, e múltiplos de preço sobre valor patrimonial (P/VPA) entre aproximadamente 0,9 vez e 1,4 vez, o Morgan Stanley estima que a transação poderia movimentar entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões, considerando uma participação de 40%. Já o Itaú BBA chegou a um valor patrimonial líquido de aproximadamente R$ 4,6 bilhões para a participação de 40% na UHE no final de 2025. O banco também projeta um EV/EBITDA (valor da firma/lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de cerca de 9,6 vezes para 2025.Segundo o Itaú BBA, a Jirau poderia representar uma adição significativa ao ativo hidrelétrico da Engie, embora com potenciais implicações de alavancagem, dependendo da estrutura final.Três caminhos possíveisNo primeiro cenário, o JPMorgan considera uma combinação de troca de ações com captação primária de recursos. Nesse formato, a controladora transferiria sua participação de 40% em Jirau para a Engie Brasil, enquanto os acionistas minoritários subscreveriam novas ações em uma oferta primária, com os recursos destinados à gestão do passivo relacionado à concessão da UBP.No segundo cenário, a Engie Brasil adquiriria a participação da controladora por meio de pagamento em caixa. De acordo com as estimativas do banco, essa estrutura poderia exigir um desembolso entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões. Para manter a dívida líquida/EBITDA abaixo de 3,5 vezes ao final de 2026, o JPMorgan estima que a companhia precisaria levantar entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões em recursos primários.No terceiro cenário, a transferência de Jirau ocorreria exclusivamente por meio de troca de ações, sem captação primária, ou seja, sem a subscrição de novas ações pelos acionistas minoritários.Recomendação neutraA XP Investimentos mantém recomendação neutra para Engie, com preço-alvo de R$ 29,10, pois a companhia segue negociando a uma taxa interna de retorno (TIR) real pouco atrativa de 7,2%. “A empresa historicamente entrega fielmente sua proposta estratégica, uma combinação de crescimento seletivo e um portfólio defensivo que proporciona alta distribuição de dividendos e baixa volatilidade nos lucros”, comentam analistas. “Assim como outros players, o crescimento da EGIE em renováveis aumentou a volatilidade dos resultados, e o maior ciclo de investimentos da história da empresa reduziu o payout para o mínimo guiado de 55%.” Com o interesse em continuar buscando oportunidades no segmento de transmissão e uma alavancagem ainda acima do nível considerado recorrente (entre 2,0x e 2,5x), a XP vê os próximos anos como um período de continuidade de payouts e yields mais baixos, enquanto a empresa segue focada em crescimento.O BBA também manteve classificação neutra e preço-alvo de R$ 31,80.O Morgan Stanley, por sua vez, reiterou classificação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), com preço-alvo de R$ 28,57. O JPMorgan também manteve recomendação de venda e preço-alvo de R$ 28.The post Engie avalia transferência da Jirau e reacende debate sobre diluição e alavancagem appeared first on InfoMoney.