Entre o rali da IA e o medo de bolha: o cenário que pode sacudir Wall Street em 2026

Wait 5 sec.

O mercado acionário dos Estados Unidos deve permanecer sob forte tensão em 2026, à medida que investidores ficam divididos entre o medo de perder o rali impulsionado pela inteligência artificial (IA) e a preocupação de que o movimento seja uma bolha prestes a estourar.Grandes quedas seguidas de recuperações rápidas têm sido uma marca dos mercados nos últimos 18 meses. Essa dinâmica deve continuar em direção a 2026, com alguns estrategistas antecipando que a IA siga o clássico ciclo de expansão e colapso observado em revoluções tecnológicas anteriores.Tecnologia concentra riscos e influencia o mercadoAs empresas de tecnologia no centro do boom de investimentos em IA exercem influência desproporcional. Embora a divergência entre esse grupo e o restante do S&P 500 tenha ajudado a conter a volatilidade realizada em 2025 — já que os ganhos em tecnologia compensaram perdas em outros setores — investidores permanecem atentos a tropeços em ações de fabricantes de chips, que poderiam se espalhar pelo mercado.Nesse cenário, indicadores de volatilidade como o índice VIX, da Cboe, tenderiam a disparar.“2025 tem sido, em geral, um ano de rotação e liderança estreita, e não de um movimento amplo de ‘risk-on’ ou ‘risk-off’”, afirmou Kieran Diamond, estrategista de derivativos do UBS. “Isso ajudou a empurrar a correlação implícita para mínimas históricas, o que deixa o VIX vulnerável a picos desproporcionais sempre que fatores macroeconômicos voltam a dominar.”Bolha ou oportunidade perdida?A magnitude da alta dos preços das ações fez com que o temor de uma bolha se tornasse a principal preocupação entre gestores de fundos, segundo uma pesquisa recente do Bank of America. Ao mesmo tempo, persiste o risco clássico de ficar de fora caso o rali ainda tenha espaço para avançar — punindo quem reduzir exposição cedo demais.Estrategistas avaliam que a volatilidade das ações deve ser sustentada em 2026 principalmente porque bolhas tendem a se tornar mais instáveis à medida que crescem. Com isso, investidores devem esperar quedas pontuais superiores a 10%, seguidas de recuperações em ritmo recorde, conforme o mercado conclui que a bolha ainda não estourou.Estratégias para ganhar com a volatilidadePara estrategistas do UBS, a incerteza sobre a continuidade ou o colapso do boom de IA torna estratégica a posse de contratos que se beneficiam de maior volatilidade no Nasdaq 100, índice com forte peso de tecnologia. Maxwell Grinacoff, chefe de pesquisa de derivativos de ações nos EUA do banco suíço, afirma que apostas em volatilidade nesse índice tendem a performar melhor em ambos os cenários.Segundo ele, essas operações podem ser estruturadas de forma neutra em relação à direção do mercado, por meio de estratégias como straddles ou swaps negociados no mercado de balcão.“Comprar volatilidade do Nasdaq 100 e vender volatilidade do S&P 500 é minha operação de maior convicção para o próximo ano”, disse Grinacoff.Períodos de calmaria e novos picosAinda assim, podem existir períodos mais longos de tranquilidade entre momentos de forte estresse. Estrategistas do JPMorgan avaliam que a volatilidade está sendo puxada, de um lado, por fatores técnicos e fundamentais que a comprimem, e, de outro, por fatores macroeconômicos que sustentam níveis acima da média.Para 2026, eles projetam que o nível mediano do VIX fique em torno de 16 a 17 pontos, embora momentos de aversão ao risco possam provocar fortes disparadas do índice.Outro fator técnico relevante para o preço das opções é o desequilíbrio nos fluxos de investimento, que tende a acentuar a inclinação da curva de volatilidade em 2026, segundo Antoine Porcheret, chefe de estruturação institucional para Reino Unido, Europa, Oriente Médio e África do Citigroup.“No curto prazo da curva, há muita oferta vinda tanto de investidores de varejo quanto institucionais, com forte crescimento de estratégias quantitativas e de carrego de volatilidade”, afirmou. “No longo prazo, os fluxos de hedge mantêm a volatilidade elevada, o que sugere uma curva mais inclinada.”Dispersão: trade popular, mas mais disputadoA estratégia de dispersão — que aposta em maior volatilidade das ações individuais e movimentos menores dos índices — deve ser especialmente popular no início do ano. Alguns fundos, no entanto, já assumem a posição oposta, argumentando que a estratégia se tornou excessivamente congestionada.“Dispersão é hoje uma operação extremamente popular e superlotada”, afirmou Benn Eifert, sócio-diretor e co-CIO da QVR Advisors. “Nós estamos posicionados na dispersão reversa.”Para extrair retornos, gestores precisarão ser mais criativos, segundo Alexis Maubourguet, CIO da Adapt Investment Managers. “A dispersão é uma estratégia conhecida e grande parte do alfa já desapareceu”, disse. “A vantagem agora está na implementação, na escolha dos ativos e, sobretudo, no timing.”Volatilidade mais alta no horizonteAlguns analistas acreditam que o fluxo contínuo de capital para estratégias de dispersão manterá a volatilidade das ações individuais elevada em relação aos índices.“A maioria dos pacotes de dispersão vence em janeiro, o que deve levar hedge funds a recompor posições em cestas personalizadas, sustentando o prêmio de volatilidade das ações”, afirmou Porcheret.A maior incógnita para os investidores é o momento exato de eventuais movimentos bruscos. Estrategistas do Société Générale apresentaram um modelo de regime de volatilidade baseado em fundamentos, que alterna dinamicamente entre posições compradas e vendidas em volatilidade.O modelo indica maior volatilidade em 2026. Embora o setor corporativo dos EUA apresente baixa alavancagem, os estrategistas avaliam que a economia está à beira de um novo ciclo de realavancagem impulsionado pela IA, o que deve elevar tanto os spreads de crédito quanto a volatilidade das ações.No fim das contas, a proteção contra riscos extremos será crucial em 2026.“O FOMO dos investidores, narrativas conflitantes sobre IA e o governo dos EUA como fonte de volatilidade criam um ambiente favorável para negociar volatilidade”, afirmou Tanvir Sandhu, estrategista-chefe global de derivativos da Bloomberg Intelligence. “Estar preparado tanto para os cenários extremos negativos quanto positivos será essencial no próximo ano.”© 2025 Bloomberg L.P.The post Entre o rali da IA e o medo de bolha: o cenário que pode sacudir Wall Street em 2026 appeared first on InfoMoney.