Especialistas do mercado financeiro que acompanham o dia a dia do Banco Central veem com preocupação a maneira como o Poder Judiciário tem lidado com o caso do Banco Master.Decretada no dia 18 de novembro pela autarquia reguladora do sistema financeiro, a liquidação extrajudicial do Master se deu em meio a uma fraude de R$ 12 bilhões. Na tentativa de manter sua liquidez, a instituição criou carteiras de crédito e fundos falsos, sem lastro, e tentou revendê-los para manter seus cofres.Na última semana, o ministro Jhonatan de Jesus, do TCU (Tribunal de Contas da União), ordenou que o Banco Central apresente os fundamentos técnico-jurídicos da liquidação, questionando uma cronologia atípica do processo decisório.Ex-diretor de Política Monetária do BC e presidente do Conselho de Administração da JiveMauá, Luiz Fernando Figueiredo é enfático ao apontar que os questionamentos levantados são “fora de propósito”. Leia Mais Banco Central apresentará defesa sobre Master ao TCU na próxima semana Sem lista de credores, reembolsos do "caso Master" devem ficar para 2026 Ministro do TCU vê indícios de precipitação na liquidação do Master Figueiredo destaca que as decisões tomadas na autarquia não são monocráticas, dependendo da análise e do aval de diversas partes.Além do TCU, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a realização de uma acareação entre Daniel Vorcaro, dono do Banco Master; Paulo Henrique Costa, ex-presidente do BRB (Banco de Brasília); e Ailton de Aquino, diretor de Fiscalização do Banco Central.O confronto de versões visa esclarecer eventuais divergências sobre a fraude na operação de venda do Banco Master para o BRB.Olhando para a ampla apuração realizada e divulgada pelo BC, Figueiredo questiona que “não tem razão material” por trás da acareação e da maneira como ela foi constituída.“Não tem sentido chamar só o diretor de Fiscalização, ele é um voto de nove. Se fosse para ter acareação, deveria chamar os nove”, pontuou o ex-diretor ao CNN Money.“Por que a operação do BRB não aconteceu? Os ativos oferecidos eram fraude, fantasma, não existia. Por isso [a Polícia Federal] prendeu [Daniel Vorcaro e os envolvidos] e [o BC] liquidou [o Master].”O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu na quarta-feira (24) que Toffoli suspendesse a acareação. Gonet afirmou que realizar a acareação neste momento da investigação é “prematuro”. O ministro do Supremo demorou poucas horas para rejeitar o pedido da PGR.Figueiredo vê “razões políticas” por trás da interferência no caso, questionando outros casos de liquidação extrajudicial no passado e nenhum com a mesma carga por parte do judiciário.O que a liquidação extrajudicial do Banco Master significa para o investidor? | MORNING CALL“Tem coisas que são controversas, essa não tem a menor controvérsia. É incontestável”, enfatiza.Mas caso a liquidação do Master seja contestada e, eventualmente, revertida, fontes que trabalham com gestão de riscos corporativos ouvidas pela reportagem apontam que o cenário seria “extremamente preocupante”, levando a uma quebra de confiança no arcabouço regulatório do Brasil.A fonte sublinha o trabalho do BC como regulador autônomo, além do fato de dedicar uma “equipe enorme” e especializada no assunto, levando em conta muitas pessoas e análises.Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Investimentos, ressalta como uma reversão pode reverberar mal no mercado.“Uma liquidação de um banco é algo muito importante, o Banco Central só decide fazer isso quando de fato ele tem todos os requisitos, enfim, não é algo trivial. E aí você ter uma liquidação de um banco e depois isso sendo revertido pode trazer incerteza em relação ao sistema financeiro nacional”, conclui Kawauti.Quebra de bancos: como funciona a proteção do FGC aos clientes