Do papel à inovação: a revolução da Inteligência Artificial no Direito

Wait 5 sec.

StartupiDo papel à inovação: a revolução da Inteligência Artificial no Direito* Por Fabricio VisibeliA Inteligência Artificial (IA) está transformando de forma silenciosa, e profunda, a rotina dos profissionais do Direito. Petições, transcrições e análises de grandes volumes de documentos jurídicos estão deixando de ser tarefas manuais e repetitivas para se tornar processos automatizados e orientados por dados.Mais do que uma simples troca de ferramentas, a IA está redesenhando a dinâmica operacional dos escritórios e departamentos jurídicos, liberando tempo para aquilo que é essencial: a interpretação, a estratégia e a decisão.Ao contrário do senso comum, essa mudança não tem provocado a eliminação direta de postos de trabalho, mas sim uma reconfiguração das funções. O novo modelo de trabalho tende a ser dividido entre:IA: triagem, síntese, formatação e acompanhamento de processos.Advogado: interpretação, argumentação, negociação e decisão.Quando todas essas etapas passam a ser executadas de forma integrada em uma plataforma única de automação jurídica, o fluxo de trabalho deixa de ser fragmentado e ganha coerência. O processo torna-se contínuo: começa no recebimento das demandas, segue para a organização dos documentos, avança para a geração de minutas e se estende ao acompanhamento processual e à análise de dados, tudo conectado em um mesmo ambiente. Essa orquestração não apenas reduz retrabalho e padroniza entregas, como também aumenta a previsibilidade para o gestor jurídico, permitindo que as equipes direcionem tempo e energia para atividades estratégicas de maior impacto.O Brasil como epicentro da transformaçãoEmbora essas ferramentas estejam sendo adotadas em todo o mundo, é no Brasil que a revolução promete ser mais intensa. O país concentra cerca de 80 milhões de processos em tramitação, distribuídos entre as múltiplas esferas da Justiça: Federal, Estadual, do Trabalho, Eleitoral, Militar (Federal e Estadual) e o TJDFT. Nenhum outro sistema jurídico no planeta apresenta essa complexidade.A situação se agrava com o labirinto tributário nacional, responsável por aproximadamente 30 milhões de ações ainda pendentes. Trata-se de um ambiente que combina alto volume, baixa produtividade e grandes oportunidades de ganho com automação inteligente.As quatro tecnologias que estão moldando o novo Direito1. Modelos de Linguagem (LLMs)Muito além de assistentes de texto, os grandes modelos de linguagem já são capazes de redigir petições completas com base em contexto jurídico, sempre sob a supervisão de um advogado. Essas ferramentas padronizam a linguagem técnica entre profissionais, garantem conformidade com normas processuais específicas e reduzem o tempo gasto na produção de peças.Além da redação, esses modelos funcionam como motores centrais de padronização e controle: organizam informações vindas de diferentes fontes, conectam dados de sistemas processuais, geram minutas coerentes com o histórico do caso e armazenam versões automaticamente. Assim, os LLMs deixam de atuar apenas como assistentes de texto e passam a integrar a própria infraestrutura do fluxo jurídico, tornando o trabalho mais confiável, contínuo e inteligente. 2. Transcrição e Reconhecimento de VozApesar de parecerem banais, as tecnologias de speech-to-text oferecem ganhos expressivos de produtividade. Audiências, sustentações orais e diligências podem ser transcritas automaticamente, liberando advogados juniores de tarefas manuais. Além disso, atas, memoriais e reuniões com clientes passam a ser documentadas com precisão e economia de tempo. 3. Jurimetria e Legal AnalyticsEssa é, talvez, a frente mais sofisticada, e também a mais controversa. A jurimetria aplica estatística e aprendizado de máquina para identificar padrões de decisão em tribunais, câmaras e relatorias, orientando estratégias jurídicas com base em dados reais. Em vez de depender apenas da intuição, o advogado passa a contar com insights preditivos sobre tendências jurisprudenciais, aumentando a chance de êxito processual. Quando combinada com a automação operacional, a jurimetria deixa de ser apenas um painel estatístico e passa a influenciar diretamente o fluxo de trabalho: modelos preditivos podem sugerir estratégias, priorizar casos, indicar riscos e até acionar automaticamente etapas específicas do processo. Assim, a análise de dados passa a orientar a alocação de tempo e recursos, ampliando a eficiência e elevando a assertividade das decisões dentro do departamento jurídico. 4. Automação Robótica de Processos (RPA) + IAA combinação entre RPA e IA é vital para escritórios de qualquer porte, especialmente os menores, que precisam evitar o desperdício de horas com tarefas burocráticas. Essas ferramentas monitoram prazos, fazem protocolos, acompanham andamentos e enviam notificações automáticas. Sistemas mais avançados já conseguem distinguir movimentações relevantes (como abertura de prazo) de meros expedientes, disparando alertas inteligentes e gerando minutas pré-preenchidas para revisão.À medida que a automação jurídica evolui, cresce também a necessidade de governança digital. Plataformas que centralizam fluxos e dados permitem auditorias completas, registro de versões, rastreabilidade de atividades e controle granular de acesso, elementos essenciais para departamentos jurídicos que precisam reduzir riscos operacionais, fortalecer o compliance e garantir que a automação funcione de forma segura, transparente e alinhada às políticas internas. Riscos e responsabilidadesO uso intensivo dessas tecnologias traz desafios que não podem ser ignorados. Entre eles:Alucinações e erros de inferência, que exigem verificação humana rigorosa;Proteção de dados e sigilo profissional, amparados pela LGPD e pelo Código de Ética da OAB;Dependência excessiva da automação, com risco de perda da criatividade e da autoria intelectual.Em última instância, a responsabilidade pelo conteúdo jurídico permanece humana e intransferível.Supervisão e estratégia continuam centraisA IA é, acima de tudo, uma ferramenta de ampliação de capacidades. Seu uso exige planejamento, avaliação de custos e alinhamento ético.O que muda não é o propósito do trabalho jurídico, mas a arquitetura operacional que o sustenta. Quando todas as etapas são integradas em um único ambiente, do intake à definição da estratégia final, o advogado passa a atuar com mais clareza, velocidade e controle sobre cada fase do processo. A inteligência artificial deixa de ser um acessório pontual e passa a funcionar como uma infraestrutura invisível, capaz de potencializar a interpretação, fortalecer a argumentação e conferir mais precisão às decisões. É essa mudança estrutural, e não apenas tecnológica, que está redefinindo o desempenho jurídico no dia a dia.Com menos esforço operacional e mais tempo para pensar estrategicamente, o advogado se reencontra com a essência de sua profissão: interpretar, argumentar e decidir com inteligência – agora, também com o apoio da inteligência artificial.*Fabricio Visibeli é Partner R&D (Research and Development) na CBYK, empresa de serviços multidisciplinaresAproveite e junte-se ao nosso canal no WhatsApp para receber conteúdos exclusivos em primeira mão. Clique aqui para participar. Startupi | Jornalismo para quem lidera inovação!O post Do papel à inovação: a revolução da Inteligência Artificial no Direito aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Convidado Especial