Época de Natal é só atropelo e confusão, mas, apesar disso, eu a amo

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Nesta época do Natal, as pessoas ficam desvairadas. Alguns entram e saem das vagas de estacionamento sem olhar. E ainda ficam bravos quando buzinam para alertá-los. Os semáforos, então, parecem ser lerdos demais para eles. Encaram o amarelo como se fosse verde. E, como não estão sozinhos nesse desvario, do outro lado o vermelho também vira amarelo e, às vezes, até verde. Não sei como não batem. Na verdade, até batem.Saem de casa quase sempre se esquecendo de objetos importantes. Os mais comuns são o celular e a chave do carro. Só se dão conta desse esquecimento na hora de tirar o veículo da garagem. A chave, porque sem ela não conseguem ligar o o carro. O celular, porque precisam acionar o Waze. Hoje é assim. Para ir até a casa da mãe, lugar que frequentaram a vida toda, precisam de orientação do GPS.Olham para o celular para não ver nadaFalando em celular, nessa época do ano as mensagens minguam. Aumentam os envios de desenhos e fotos de árvores de Natal com votos de um dia feliz junto à família. Mas quase ninguém os vê. Sabem que são encaminhadas sem nenhuma personalização. Vale a boa vontade de quem mandou, mas são apenas protocolares.Ora, se não há mensagem relevante, por que rolam as imagens de cima para baixo e de baixo para cima insistentemente? Veem a mesma postagem insignificante dezenas de vezes, mas continuam a procurar… nada. E, ao chegar à casa dos familiares ou, ao contrário, ao recebê-los em sua própria casa, não dá cinco minutos para que procurem um canto e continuem a não ver nada no aparelho.A semelhança com o Dia de Ação de GraçasHá momentos em que até riem de alguma piada repetida. Dessas reprisadas à exaustão. Mesmo assim, acham graça. Trocam a foto do perfil, acrescentam ali também uma competência que não fará nenhuma diferença no currículo. E só se dão conta de que estão isolados quando alguém os chama para ver um fato curioso qualquer.Vejo essas festas de final de ano mais ou menos como o Dia de Ação de Graças dos americanos. Quando dizem nos filmes que as pessoas vão comemorar essa data na casa de alguém, de cada dez episódios, pelo menos nove terminam em discussão. E o relacionamento, que já não era dos melhores, piora ainda mais. Isso não impede que, no ano seguinte, façam novas tentativas. Quase sempre para deteriorar o que já estava esgarçado.E os presentes de última hora? Muitos deixam para comprar a lembrancinha na véspera. Aí têm de aguentar. São filas quilométricas nos shopping centers. Quando conseguem estacionar, se “surpreendem” com as lojas abarrotadas. Tudo caro. Procuram, procuram, mas chegam à conclusão de que não muda nada. E vale o velho ditado: quem escolhe muito termina por ser escolhido.Mesmo assim, sou apaixonado pelo NatalMas, apesar desses atropelos, sou apaixonado pelo Natal. Gosto dessa muvuca. Houve época em que o centro velho de São Paulo efervescia. Ali estava o centro financeiro. O quadrilátero formado pelas ruas Boa Vista, Líbero Badaró, Direita e São Bento fervilhava. Alguns estendem esse perímetro até a Praça da República, o Largo São Francisco e a Praça da Sé, mas o centro financeiro forte mesmo concentrava-se naquelas quatro ruas.Eu ficava emocionado ao passar por ali no Natal. As lojas expondo seus produtos, os Papais Noéis tocando sino e brincando com as crianças. Todo mundo bem-vestido. Os homens de terno e gravata, alguns ainda resistiam às mudanças e usavam chapéu; as mulheres, normalmente com vestidos ou tailleurs. Eu subia e descia aquelas ruas, curtindo aqueles instantes de emoção.O centro velho O tempo passou. Hoje, embora deteriorado, sujo, perigoso, com quase todas as lojas fechadas, quando posso, ainda vou lá. Só por saudosismo, lembrando do que vivi. Saio com sentimento de frustração, mas, ao mesmo tempo, com as recordações revividas.Sempre me lembro de Valdir Troncoso Peres, o melhor orador da história do Direito do país. Ao receber o prêmio da Espada e da Balança, na Ordem dos Advogados de São Paulo, depois de mencionar todas as agruras da profissão, fez uma declaração emocionante: “Porque ela não me dá trégua. Porque ela me persegue. E, apesar de tudo, eu a amo.”Pois é. Xingo, censuro, critico, mas não vejo a hora de celebrar o nascimento de Cristo. São instantes importantes de reflexão, que simbolizam a união, o amor e a paz. Ah, e sempre com um presépio bem-montado, representando o local do nascimento do Filho de Deus. Como não gostar de uma data tão importante? Siga pelo Instagram: @polito. Leia também Trump não tem amigos ou inimigos; apenas conveniências