Há ideias que se instalam devagar, até se tornarem verdades absolutas. Uma delas diz que quem estuda mais ganha mais. É uma crença confortável e, por isso, tão difícil de questionar. A formação pode ser o motor da ascensão profissional, sim, mas nem sempre é um elevador automático. Às vezes é uma escada longa, íngreme, e com alguns degraus partidos.Ainda assim, desistir dela seria o maior erro, porque a formação continua a ser uma das forças mais poderosas para mudar o rumo de uma carreira. Só que o seu impacto não é automático nem garantido. Aprender não é uma aposta de curto prazo; é um investimento de longo alcance. E o retorno depende de um fator essencial, o que se faz com o conhecimento adquirido. De pouco serve acumular diplomas se o saber não se transforma em prática, inovação ou capacidade de gerar valor.É fácil culpar o sistema e, em parte, com razão. Muitas empresas pedem profissionais qualificados, mas tratam a formação como mera formalidade. Existem também trabalhadores que se reinventam e, no entanto, continuam presos a estruturas salariais que ignoram o mérito. Há, ainda, o discurso público que exalta o “capital humano”, enquanto paga como se ele fosse descartável.Mas é aqui que vale a pena fazer uma pausa. Porque, por muito injusto que o sistema seja, quem se forma mantém uma vantagem decisiva: a de continuar a ter lugar à mesa. Quem aprende mantém-se à tona, mesmo quando o mar se revolta. A formação pode não garantir um aumento imediato, mas garante futuro. E isso, convenhamos, já é uma forma de lucro. Cada nova competência amplia a capacidade de adaptação e isso, em tempos de incerteza, é poder.A ascensão da Inteligência Artificial só veio reforçar essa necessidade. Quando os algoritmos já escrevem, calculam e decidem, o valor do humano está no que a máquina não imita, ou seja, na curiosidade, na criatividade, no pensamento crítico, na empatia. A formação já não é apenas sobre “saber fazer”, é também sobre “saber pensar”. E é curioso perceber que, quanto mais a tecnologia avança, mais humana precisa de ser a formação.Note-se que existem responsabilidades partilhadas neste assunto. Não podemos continuar a fingir que basta formar pessoas se depois as organizações não reconhecem o esforço. Valorizar a formação implica recompensá-la, criar percursos de progressão, ligar o saber ao salário e à cultura organizacional. A formação é uma via de dois sentidos – quem investe em si próprio precisa de encontrar, do outro lado, uma estrutura que o saiba valorizar.Formar-se é, hoje, mais do que uma exigência profissional. É uma escolha de autonomia. É a recusa em ficar para trás num mundo que corre depressa demais. Por isso, sim, a formação pode ser um passo para o aumento salarial. Mas só quando o mercado tiver coragem de olhar para o conhecimento com o mesmo respeito com que olha para a rentabilidade. Pode não garantir de imediato um aumento de ordenado, mas garante algo mais valioso, a liberdade de continuar a escolher o próprio caminho.O conteúdo A formação ainda tem impacto salarial aparece primeiro em Revista Líder.