O mercado financeiro brasileiro vive um momento de otimismo palpável, com o Ibovespa consolidando uma trajetória de alta que o levou a patamares recordes. Longe de ser um pico de euforia, esse movimento é visto por gestores e bancos de investimento como o prelúdio de um ciclo ainda mais robusto em 2026. A tese central é clara: a combinação de fundamentos sólidos, valuations atrativos e a esperada queda estrutural da taxa Selic pavimentam o caminho para que o principal índice da bolsa brasileira atinja a marca inédita, se tudo ocorrer como previsto, de 200 mil pontos.Apesar da valorização expressiva em 2025, o mercado ainda negocia com múltiplos descontados. O indicador de Preço sobre Lucro (P/L) agregado se mantém abaixo da média histórica, sugerindo que o crescimento dos lucros corporativos não foi totalmente precificado. Este descompasso, somado à perspectiva de um custo de capital menor, é o principal catalisador para o otimismo. Grandes casas de análise, como Morgan Stanley e JP Morgan, já revisaram suas projeções, indicando um cenário-base que varia entre 185 mil e 200 mil pontos para o final de 2026.“A Bolsa de Valores brasileira permanece em patamares de preço atrativos e, mais do que isso, apresenta um catalisador fundamental: a esperada aceleração no crescimento dos lucros corporativos para 2026”, afirma Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos.Veja mais: Fluxo global impulsiona Ibovespa em 2025, apesar dos juros, diz trader da ClearE também: Os 8 “cisnes negros” que podem abalar os mercados globais em 2026, segundo Saxo BankO otimismo é reforçado pela resiliência do mercado, que tem atraído capital estrangeiro mesmo na ausência de um ciclo robusto de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs). O fluxo de recursos internacionais, que impulsionou a alta recente, sinaliza a reabilitação do Brasil no radar global, consolidando a visão de que os ativos locais oferecem um potencial de reavaliação de múltiplos superior a outros mercados emergentes.O Efeito Selic e a Virada do Investidor LocalA expectativa de que a taxa Selic continue em trajetória de queda em 2026 é o pilar que sustenta a transição do mercado. A redução dos juros não apenas diminui a despesa financeira das empresas endividadas, mas também atua como um poderoso motor de crescimento econômico ao facilitar a concessão de crédito. Esse cenário é crucial para a expansão dos lucros e a consequente valorização das ações.A mudança no ambiente de juros também deve provocar uma realocação de capital do investidor local. Historicamente conservador e focado na renda fixa, o brasileiro começa a reavaliar a atratividade das ações. Embora a alta de 2025 tenha sido liderada pelo capital externo, a maturidade do mercado em 2026 dependerá da adesão doméstica.“O perfil do investidor brasileiro ainda não é predominantemente focado em ações. Contudo, a queda dos juros torna a renda fixa menos atrativa, forçando uma migração de capital para a renda variável, o que deve dar um novo impulso ao Ibovespa em 2026”, comenta Sara Delfim, sócia e fundadora da Dahlia Capital.A visão de que o mercado está em um ciclo de alta sustentável é amplamente compartilhada. A pesquisa com gestores multimercados revela que 98% esperam um cenário positivo para a bolsa em 2026, com posições compradas elevadas. Este consenso reflete a convicção de que os fundamentos macroeconômicos e a dinâmica de lucros corporativos estão alinhados para um crescimento contínuo.Bolsa em 2026: por que ainda há espaço para ganhar mesmo após rali históricoSetores em Foco: Onde o Crescimento Vai AcelerarA queda dos juros é o principal guia para a seleção setorial em 2026. Os setores que se beneficiam diretamente do aumento do crédito e do consumo doméstico são os mais promissores. A redução do custo de capital permite que os bancos acelerem a concessão de crédito, injetando liquidez na economia e impulsionando a demanda.“Na medida em que a taxa de juros cai e os bancos retomam a concessão de crédito, a economia é impulsionada. Isso significa que as pessoas terão mais acesso a recursos para consumo e investimento”, explica Sara, destacando o papel central do setor financeiro e dos cíclicos domésticos.Os setores cíclicos domésticos, como varejo e construtoras (home builders), estão no centro das recomendações, pois são altamente sensíveis à queda dos juros e ao aumento do poder de compra. Além disso, o setor bancário é visto como um investimento estratégico, pois se beneficia da aceleração na concessão de crédito. A diversificação das carteiras recomendadas também inclui o setor elétrico, que, embora menos impactado pela queda de juros, é considerado atrativo por negociar a múltiplos baixos e pagar dividendos consistentes.“É um erro pensar que o investidor com baixa exposição em ações perdeu o momento de alta. Pelo contrário, ainda enxergamos um potencial de valorização bastante interessante para os próximos períodos, especialmente nos setores que se beneficiarão da queda de juros e do crescimento dos lucros”, garante Ferreira.A expectativa de crescimento agregado dos lucros das empresas que compõem essas carteiras varia entre 20% e 30% em 2026, um indicativo da força fundamental que deve sustentar a valorização do Ibovespa.O Cenário Global e a Gestão de RiscoO contexto global, que foi favorável em 2025, deve manter um ambiente de suporte para os ativos emergentes em 2026. A expectativa de um dólar fraco no cenário internacional e a busca por diversificação por parte dos investidores globais continuam a direcionar o fluxo de capital para o Brasil.Em relação às commodities, a visão do mercado é de cautela, mas com a percepção de que o pessimismo atual pode estar exagerado. A manutenção de alguma exposição a empresas de commodities, como petróleo e minério de ferro, é justificada, especialmente para investidores de longo prazo.“Empresas de commodities, mesmo em um cenário global cauteloso, são cruciais para o investidor de longo prazo focado em renda, pois geram um caixa robusto e distribuem dividendos consistentes”, argumenta Ferreira, ressaltando a importância desses ativos como geradores de caixa.A gestão de risco, em um cenário que sempre apresenta incertezas políticas e fiscais, é fundamental. O ano de 2026, com suas nuances eleitorais, exige uma abordagem ativa e adaptável.“É fundamental reconhecer que nunca teremos todos os elementos favoráveis ao mesmo tempo. A estratégia deve ser calibrar a carteira, ajustando a exposição de forma defensiva ou agressiva à medida que a convicção nas teses de investimento se consolida”, conclui Sara.The post Ibovespa 2026: O salto final? Por que a bolsa brasileira pode bater 200 mil pontos appeared first on InfoMoney.