A renda não só decide quantos serviços você assina, mas também o que você conhece e consome na internet. No Brasil, em 2024, apenas 43,4% dos domicílios com televisão tinham alguma assinatura de streaming, e a renda per capita desses lares era mais que o dobro da de quem não tinha acesso. É menos sobre gosto e mais sobre bolso: a “biblioteca cultural” de cada família é proporcional ao quanto sobra no fim do mês.Essa diferença fica evidente nos rankings de séries. Em 2024, títulos como Bebê Rena, Griselda e Rainha Charlotte dominaram o top 10 da Netflix no Brasil, enquanto em 2025 os recordistas são Round 6, Reacher e O Agente Noturno, todos com bilhões de minutos assistidos. O curioso é que, dentro da bolha de maior renda, muitos desses títulos parecem “irrelevantes” ou invisíveis. O problema não é desconhecimento cultural, mas o fato de que o acesso segmenta o que é considerado “relevante”.Leia mais: Como a renda define o que o Brasil assiste e escuta na internetA Netflix no Brasil é um retrato desse dilema. Dos cerca de 25 milhões de assinantes, 12 milhões estão no plano com anúncios — quase metade da base. Esse recorte mostra que há um enorme contingente de brasileiros que não consegue pagar o valor cheio, mas aceita anúncios para acessar o catálogo. É a prova de que, mesmo entre os que entram no clube do streaming, o filtro do preço ainda é o algoritmo invisível que define a experiência.Na música, a dinâmica é semelhante. Em 2024, o mercado fonográfico brasileiro movimentou mais de R$ 3,4 bilhões, sendo 87,6% vindos de streaming. Só no Spotify, artistas brasileiros geraram mais de R$ 1,6 bilhão em royalties, e 84% do Top 50 diário era composto por músicas nacionais. Ou seja, o que domina as paradas não é o nicho internacional que circula nas playlists da elite, mas o que reflete o gosto de massa: sertanejo, funk, rap, gospel.O YouTube fecha esse tripé como o grande “plano básico universal” do Brasil digital. Segundo pesquisa da Opinion Box, 81% dos brasileiros acessam a plataforma diariamente, 63% usam para ouvir música e 61% para aprender coisas do dia a dia. Nas classes D e E, em que 87% acessam a internet só pelo celular, ele funciona como central multimídia: TV, rádio, curso e entretenimento em um só aplicativo gratuito. É ali que se encontra a convergência de massa, enquanto múltiplas assinaturas ficam restritas a quem pode pagar.O resultado é um Brasil com duas internets. Uma, premium, que discute Succession, ouve podcasts de nicho e assina três ou quatro streamings ao mesmo tempo. Outra, gratuita ou subsidiada por anúncios, que maratona realities locais, escuta Henrique & Juliano, consome funk e gospel, e aprende via tutorial de YouTube. A linha que separa essas duas culturas não é o algoritmo da plataforma, mas a renda. É ela o filtro invisível que decide o que aparece na sua tela.The post Renda é o algoritmo invisível do Brasil appeared first on InfoMoney.