Uma coincidência estatisticamente impossível entregou à Polícia Federal (PF) a maior fraude já descoberta no Concurso Nacional Unificado (CNU). Gabaritos absolutamente idênticos, entre candidatos aprovados para o cargo de auditor fiscal do trabalho em 2024, mostraram um padrão que só poderia ter sido produzido por coordenação criminosa.A apuração começou após uma denúncia anônima contra Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar de Patos (PB) com extenso histórico criminal. Ao requisitar os gabaritos à banca organizadora, a PF encontrou a evidência definitiva: Wanderlan acertou 59 das 60 questões no turno da manhã; o irmão dele, Valmir Limeira de Souza, fez a prova no turno da tarde e obteve o mesmo resultado. Ambos erraram exatamente as mesmas questões. Leia também Mirelle Pinheiro Perícia aponta falsificação em vodca ingerida por Hungria no DF Mirelle Pinheiro Perícia na vodca ingerida por Hungria traz reviravolta ao caso A sobrinha dos dois, Larissa de Oliveira Neves, residente em São Paulo mas que viajou até Patos para realizar a prova, também repetiu o padrão, errando apenas uma questão adicional em relação aos tios. O fenômeno se repetiu em outros nomes aprovados no mesmo cargo.Segundo a PF, a chance de coincidência fortuita entre tantos candidatos é “estatisticamente nula”. O Ministério Público Federal destacou em manifestação que a “coincidência extravagante, ocorrida justamente entre parentes próximos, reforça de forma quase absoluta a suspeita de fraude”.Viagem planejadaO deslocamento de Larissa para Patos foi considerado prova de planejamento. Embora pudesse realizar o exame em São Paulo, ela comprou passagens aéreas específicas para o município paraibano em maio de 2024, quando o concurso estava inicialmente marcado, e novamente em agosto, após o adiamento do certame.A concentração geográfica dos suspeitos em Patos e Pernambuco chamou atenção da PF. Para os investigadores, a proximidade física era necessária para que o esquema operasse, indicando possível transmissão de respostas em tempo real.A Polícia Federal já solicitou à banca organizadora análise estatística nacional para dimensionar o tamanho da fraude e verificar se outros núcleos criminosos utilizaram o mesmo método. A suspeita é de que a quadrilha não tenha agido isoladamente.