Review: Baby Steps é o game mais bizarro e irritante de 2025

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Em 2017, o desenvolvedor Bennett Foddy, criador do icônico QWOP, tirou a paciência de milhares de jogadores de PC ao lançar Getting Over It, um game no qual um misterioso homem preso a um caldeirão precisava escalar uma montanha apenas com uma marreta. Mostrando que ainda tinha fôlego para ir além, ele se uniu a outros dois criadores talentosos, Gabe Cuzzillo e Maxi Boch, para mais uma vez testar os limites da sanidade dos jogadores.O resultado dessa parceria é Baby Steps, título publicado pela Devolver Digital que chega nesta terça-feira, 23 de setembro, ao PC e ao PS5. Eu tive a “oportunidade” de experimentar o jogo aqui no TecMundo — e garanto que ele atinge seu objetivo central com maestria: ser a experiência mais estranha e, acima de tudo, irritante de 2025.Viva a vida de um adulto disfuncional de 35 anosSe você já se apegou ao careca da marreta de Getting Over It, pode deixá-lo no passado, porque Bennett Foddy decidiu apresentar um novo protagonista, igualmente enigmático, mas com mais camadas de personalidade. Em Baby Steps, assumimos o papel de Nate, um adulto desempregado de 35 anos que vive no porão dos pais, tem pouquíssima vida social e passa os dias maratonando One Piece.A trama se inicia quando Nate é misteriosamente teleportado para uma ilha e precisa aprender a andar — literalmente — um passo de cada vez. Sem muitas explicações, o mundo apresenta NPCs bizarros, diálogos fora do comum e segredos que lembram o clima onírico e perturbador da obra anterior de Foddy.Com uma dublagem caricata e personagens que parecem saídos de um pesadelo pós-festa, Baby Steps exala estranheza. Esse tom surreal acaba abrindo brechas para diversas interpretações da narrativa, incluindo possíveis metáforas sobre depressão, isolamento, ansiedade e o vazio existencial da vida adulta.No fim das contas, a história principal pouco importa. Afinal, durante todo o sofrimento do gameplay, eventualmente sua cabeça vai tentar preencher os vazios e dar motivos para você seguir a estressante jornada de ser um adulto disfuncional de 35 anos com um macacão cinza.Ao longo do caminho, o game também me fez valorizar ainda mais os meus joelhos — e minha paciência. Nate é um protagonista irritantemente teimoso, que nunca aceita ajuda. No entanto, mesmo mergulhado nesse vale da estranheza, não consegui abandonar sua caminhada. O desejo de guiá-lo rumo ao desconhecido acabou me prendendo mais do que eu imaginava. Confesso, porém, que não estava preparado para algumas das cenas de nudez presentes no gameplay. Caso você não queira levar um choque inesperado no meio da jogatina — ou passar vergonha jogando perto da família —, recomendo fortemente desativar essa opção assim que possível. De resto, a narrativa funciona apenas como pano de fundo para o que realmente importa (ou tortura): a jogabilidade.Jogabilidade é um teste cruel de paciênciaNo quesito mecânicas, Bennett Foddy e sua equipe atingem o auge da frustração. O sistema é simples na teoria: você usa os gatilhos traseiros para mover os pés de Nate e os analógicos para ajustar o alcance de cada passo. Fácil de entender, mas diabólico na prática.A curva de aprendizado é rápida, mas os diferentes terrenos — barro, água, pedras escorregadias — tornam cada movimento um desafio monumental. Não importa se você tem coordenação impecável: em algum momento, o jogo vai te derrubar, e isso faz parte da proposta.Com o tempo, é possível pegar o jeito e sentir uma estranha satisfação ao dominar os movimentos, o que serve como incentivo para continuar. Porém, cair é sempre mais fácil do que caminhar. E detalhe: não há checkpoints, mapas ou qualquer sistema de ajuda. Se você escorregar, a punição é clara: subir tudo de novo.Essa ausência de progressão intermediária é engraçada a princípio — especialmente pelas piadas inseridas no gameplay —, mas também representa uma oportunidade perdida. O mundo de Baby Steps é amplo e cheio de segredos, mas a narrativa principal acaba sendo bastante linear: subir cada vez mais alto.Durante meu gameplay, caí feio várias vezes e, surpreendentemente, isso foi divertido: descer escorregando por encostas lamacentas é hilário. O problema é que isso não conta em nada para o progresso. Só me restava reiniciar a escalada, o que gera uma sensação de desperdício.Eu adoraria que o jogo incentivasse o jogador a cair de propósito, transformando essas derrotas em experiências válidas e que vão além de superar os seus limites na base do sofrimento. Mas, claro, estamos falando de um título de Bennett Foddy: a frustração é parte essencial da diversão.Uma experiência leve de rodar e cativante em sua estranhezaApesar do tamanho avantajado de Nate, Baby Steps é surpreendentemente leve. Joguei boa parte da experiência no Steam Deck, onde rodou de forma estável, mesmo com gráficos no mínimo, entregando visuais aceitáveis para o portátil — as capturas aqui da análise foram realizadas no console.Outro ponto positivo é a ausência de bugs sérios. Tirando um chapéu que voou ao colidir com uma árvore, tudo funcionou dentro das regras caóticas da física proposta. Quando caía, sabia que a culpa era minha — e não de falhas técnicas.Visualmente, Baby Steps tem estilo próprio, com cenários minimalistas e estranhamente monótonos, que combinam com a sua estranha proposta. A trilha sonora também é peculiar: composta por mais de 400 batidas, segundo os devs, mistura músicas inusitadas e sons desconfortáveis que reforçam o clima surreal da jornada.Apesar de sua monotonia, o jogo mostra que existe beleza na solidão e na estranheza, desde que você esteja disposto a vivenciar tudo isso em um mar de frustração e com um protagonista que claramente precisa de ajuda médica, mas só tem a força de vontade do jogador para acompanhá-lo.Vale a pena jogar Baby Steps?Baby Steps é, sem dúvidas, o jogo mais excêntrico de 2025, além de uma das experiências mais malucas que já vivenciei. Com um protagonista insuportável e gameplay que dá vontade de atirar o controle na parede, ainda assim me vi voltando ao jogo todos os dias para tentar levar Nate adiante.Dentro da proposta, o game traz uma evolução notável do estilo “jogos de sofrimento” que Bennett Foddy popularizou. A jogabilidade é instigante, a ambientação é memorável e a sensação de estranheza é constante. Ao mesmo tempo, sinto que em alguns aspectos o game foi até conservador, deixando de ousar ainda mais em mecânicas ou formas de progressão.Se você gosta de sofrer com jogos, Baby Steps deve estar no seu radar, mas recomendo testar a demo gratuita antes de se aventurar na edição completa, que custa R$ 60. Afinal, é bom reforçar: esse título definitivamente não é para todos. Em um mês recheado de lançamentos de peso que vão de indies como Silksong até terrores como Silent Hill F, escolhê-lo pode acabar sendo uma decisão dolorosa para quem não sabe onde está se metendo.Agora, se você prefere experiências menos enlouquecedoras, talvez seja melhor esperar uma promoção ou assistir aos inevitáveis vídeos de YouTubers quebrando o teclado de raiva. Nesse quesito, Baby Steps tem tudo para virar hit na plataforma.Nota final: 80Pontos positivosJogabilidade frustrante, mas viciante para quem curte o estilo;Ambientação condizente com a proposta surreal;Bem otimizado, inclusive no Steam Deck.Pontos negativosMundo aberto poderia ser melhor aproveitado.Cenas de nudez podem causar choque ou constrangimento (mas podem ser desativadas)Uma cópia de Baby Steps foi cedida pela Devolver Digital para a realização desta review no PC. O jogo já está disponível para PS5 e computador.