Do estoque na hiperinflação ao futuro incerto: os desafios financeiros dos 50+

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Uma das principais lições da cartilha da educação financeira sugere começar a gestão do dinheiro o mais cedo possível. Mas, por inúmeras razões, nem sempre as coisas saem como o esperado e o descontrole financeiro acaba virando regra ao longo de toda uma vida. A boa notícia, segundo especialistas, é que ainda é possível reverter este cenário, tão arriscado para o bolso – e para o bem-estar – do público acima dos 50 anos.De acordo com pesquisa da Nexus, a ausência da cultura de planejamento financeiro atinge 55% da população brasileira. “O problema aumenta progressivamente com o envelhecimento, saltando de 49% na faixa de 25 a 40 anos para um pico de 77% entre aqueles com 60 anos ou mais”, destaca o estudo.Fonte: Relatório Planejamento Financeiro Agosto | 2025 – NexusEspecialistas explicam que o público 50+ não contou com educação financeira na escola e, pior, adquiriu uma cultura de curto prazo no período em que o País enfrentou o fantasma da hiperinflação.“Como o dinheiro perdia poder de compra no mesmo dia, fomos aculturados a fazer estoque e, quando começamos a investir, investíamos também no curto prazo”, relembra Carlos Castro, planejador financeiro certificado pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro). “Ao investir, o dinheiro fica em média 18 meses apenas. Esse é um grande desafio, pois agora estamos em uma fase em que, sem essa educação financeira, o público 50+ pode sofrer as consequências”, alerta.Desequilíbrio no bolso e no sonoO País dos IdososMas ainda vale a pena se organizar financeiramenteDicas práticas para iniciar o planejamento financeiroE, se organizar, dá tempo até de investirEscritórios de investimentos atentos à geração prateadaDesequilíbrio no bolso e no sonoOs reflexos da falta de um planejamento e, principalmente, do descontrole financeiro podem ser medidos, inicialmente, pelos números. Em julho, a Serasa apontava 78,2 milhões de brasileiros inadimplentes. O público entre 41 e 65 anos respondia pela maior parte dos endividados.Mas as consequências da falta de um planejamento financeiro podem ir além do bolso da geração 50+. De acordo com a oitava edição do Raio X do Investidor, da Anbima, o alto estresse financeiro afeta o sono de 51% dos brasileiros. O índice aumenta para 57% entre os millenials (29 a 43 anos) e 53% para a geração X (de 44 a 63 anos).Fonte: 8ª edição do Raio X do Investidor da AnbimaOs números acima já acendem um sinal amarelo para a atual geração prateada, mas o problema tende a piorar com o aumento desta população – e, consequentemente, mais pessoas expostas ao risco de uma vida financeira desequilibrada.  O País dos IdososA expectativa de vida do brasileiro vem aumentando e, em 2024, alcançou 76,4 anos, aumento de 0,9 em relação ao número observado em 2023, de 75,5 anos, de acordo com dados do IBGE. A tendência, de acordo com especialistas, evidencia a necessidade de estratégias que garantam o equilíbrio financeiro – além de mental e emocional – desta geração.“Seremos um país de idosos em alguns anos, mas anos a mais sem estabilidade financeira são anos de muita dificuldade”, observa Gleisson Rubin, diretor do Instituto de Longevidade e de Previdência da MAG. “Sabemos que, com o passar da idade, nossa capacidade física para o trabalho tende a não ser a mesma, mas quem não se planeja tem de lidar com o encurtamento da renda e maior necessidade de gastos com medicamentos e planos de saúde, por exemplo”, pontua.Muitas vezes, acrescenta Rubin, a falta de planejamento respinga nas gerações seguintes, pois obriga os mais novos (filhos e netos) a ajudarem a geração que não se planejou – mantendo-se um ciclo vicioso em que uma geração não guarda porque precisou ajudar a outra.“O ideal é iniciar um planejamento financeiro o quanto antes, assim como um planejamento de cuidados com a saúde. O envelhecimento saudável é construído anos antes da chegada da velhice”, orienta.Mas ainda vale a pena se organizar financeiramenteMas nem tudo está perdido para os mais experientes que ainda não iniciaram um planejamento financeiro. Aqueles que argumentam que não vale mais a pena pensar no assunto estão insistindo no erro, sinaliza Rubin.“O melhor dia para iniciar um planejamento financeiro foi ontem, mas o segundo melhor dia é hoje”— Gleisson Rubin, diretor do Instituto de Longevidade e de Previdência da MAG“Sempre é possível ajustar as finanças para diminuir gastos, aumentar as receitas, consumir de forma consciente e pensar em ferramentas de proteção para quem não conseguiu guardar, mas se preocupa com o futuro financeiro dos herdeiros por exemplo”, complementa.Castro vai na mesma linha e recomenda também evitar, sempre que possível, dívidas, especialmente as de longo prazo. Sobre ser tarde para iniciar o planejamento financeiro, ele lembra:“Quem está com 50 anos agora, tem mais 20 a 25 anos de acumulação”, calcula o planejador financeiro, com base na expectativa de vida cada vez maior do brasileiro. “Então, sim, é possível começar agora”, reforça.Leia também: Planilha de gastos mensaisDicas práticas para iniciar o planejamento financeiroO planejamento financeiro para o público 50+ precisa considerar aspectos específicos dessa faixa etária, destaca o Instituto de Longevidade e de Previdência da MAG, que lista algumas ações práticas para começar a equilibrar a vida financeira.Gastar bem – ou seja, aprender a entender e enxugar os gastos e consumir de forma mais consciente;Poupar certo – adquirir o hábito de poupar, mesmo que seja uma pequena quantia para começar, se sempre com um objetivo em vista. Não se trata de poupar sem propósito, mas de fazer o esforço de renunciar a um gasto presente para obter um retorno ainda melhor no futuro;Ganhar mais – quando a receita atual não é suficiente, é preciso que a pessoa comece a mapear alternativas para conseguir ganhar um pouco mais. Transformar um hobby em atividade empreendedora, investir em qualificação profissional ou considerar uma transição de carreira são algumas das opções no cardápio;Investir melhor – é necessário aprender a fazer o dinheiro render e, especialmente no caso dos mais longevos, entender que a poupança pode até perder para a inflação e que há investimentos tão seguros quanto e bem mais rentáveis; eProteger patrimônio – entendendo que ferramentas como um bom seguro de vida podem garantir segurança financeira.E, se organizar, dá tempo até de investirSim, quem pensou que investimento é coisa apenas de jovens ou daqueles com mais recursos, errou novamente. Se organizar direito – e com o planejamento financeiro em dia – dá para pensar até em voos mais altos, afirma João Pedro Xavier, assessor de investimentos da Petrópolis Invest, escritório com mais de R$ 3,5 bilhões sob custódia.“Existe um mito de que aos 50 anos é tarde para investir. Isso é um equívoco ”— João Pedro Xavier, assessor de investimentos da Petrópolis Invest“Quem chega hoje aos 50 anos pode ter 30 ou 40 anos de vida pela frente. Isso significa tempo suficiente para construir e consolidar patrimônio”, complementa o especialista.Segundo ele, mais da metade da base de clientes da assessoria de investimentos com sede no Rio de Janeiro já tem mais de 50 anos. A procura, acrescenta, vem crescendo muito nos últimos tempos.“Principalmente porque esse público percebeu que a aposentadoria pública dificilmente será suficiente para manter o padrão de vida”, afirma Xavier. “[Além disso], depender financeiramente dos filhos não é uma opção confortável e, por isso, esse grupo nos procura com o objetivo de transformar a poupança acumulada em uma renda previsível e duradoura”, completa.Escritórios de investimentos atentos à geração prateadaNo Rio de Janeiro, o Petropólis Invest promove clínicas de aposentadoria, encontros em que os profissionais avaliam toda a vida financeira de pessoas 50+.“O Brasil está envelhecendo rápido e, para atender melhor esse público, simulamos cenários de renda, sucessão, seguros e até cuidados de saúde”, conta Xavier. “Além disso, produzimos conteúdos e workshops exclusivos para o 50+, sempre em linguagem simples, mostrando como organizar o dinheiro para os próximos 20, 30 anos. Nosso foco é dar não só a estratégia de investimento, mas também a tranquilidade emocional que esse momento da vida exige”, detalha.Mônica Araújo, economista-chefe da InvestSmart, escritório com R$ 29 bilhões sob custódia e mais de 200 mil clientes, afirma que ter um profissional preparado para ajudar nesse planejamento financeiro pode ser fundamental para quem pensa em começar agora a se planejar financeiramente e a construir patrimônio.“Para que as premissas, os ativos e o mundo de oportunidades nos investidores domésticos e internacionais se encaixem e atendam aos objetivos a serem alcançados”, explica. “A análise correta do perfil do investidor e da sua expectativa e utilização dos investimentos no período a frente é essencial na relação entre investidor 50+ e o assessor. É como se fosse a sua relação com o médico que te acompanha há muito tempo, uma relação verdadeira e de transparência“, finaliza.Ainda de acordo com a pesquisa Nexus, 60% das pessoas entre 41 e 59 anos tomam suas decisões financeiras por conta própria. 29% recorrem ao auxílio de pessoas próximas ou de profissionais, como os assessores e consultores financeiros. O percentual é o maior entre todas as faixas etárias, aponta o estudo.The post Do estoque na hiperinflação ao futuro incerto: os desafios financeiros dos 50+ appeared first on InfoMoney.