Nos últimos anos, a ciência vem revelando uma faceta pouco comentada da saúde cardiovascular: a influência dos vínculos sociais.Enquanto os fatores de risco tradicionais, como hipertensão, colesterol elevado, diabetes e tabagismo, continuam sendo os maiores vilões, pesquisas apontam que a solidão pode ter efeitos tão nocivos quanto esses elementos já conhecidos. Leia mais Novas diretrizes de colesterol alto tornam níveis mais rígidos Pressão de 12 por 8 é reclassificada como pré-hipertensão em nova norma Quando é necessário fazer um check-up cardíaco? Entenda O peso invisível da solidãoEstudos publicados em revistas médicas internacionais mostram que pessoas socialmente isoladas apresentam até 30% mais risco de sofrer um infarto ou um acidente vascular cerebral. Pesquisadores da American Heart Association, por exemplo, revisaram dezenas de trabalhos científicos e concluíram que a solidão pode aumentar a pressão arterial, comprometer a qualidade do sono e elevar marcadores inflamatórios no sangue, todos ligados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.Além disso, o isolamento reduz a probabilidade de manutenção de hábitos saudáveis, como a prática de atividade física e a adesão ao tratamento médico. Sentir-se sozinho, portanto, não é apenas uma questão emocional: é um fator clínico mensurável que afeta diretamente a expectativa e a qualidade de vida.A força dos laços humanosManter relacionamentos de qualidade, cultivar amizades, estar próximo da família e participar de grupos comunitários ou religiosos pode servir como uma proteção natural para o coração. Conversar, rir, partilhar preocupações e celebrar conquistas em conjunto reduz a sobrecarga mental e ajuda o organismo a regular melhor a pressão arterial, o sono e até a resposta imunológica.O coração, nesse sentido, responde não só ao que comemos e ao quanto nos exercitamos, mas também à qualidade das nossas conexões com outras pessoas.Cuidar do coração é também cuidar das relaçõesNo Dia do Coração (29/09), vale refletir que a prevenção cardiovascular não se resume apenas a exames e medicamentos. Ela começa no cuidado diário com os hábitos de vida, mas também se estende ao cuidado com os vínculos.Reservar tempo para estar com quem se gosta, investir em novos círculos sociais e até buscar ajuda profissional quando a solidão se torna frequente são estratégias que, comprovadamente, reduzem riscos cardíacos. Afinal, o coração não é apenas um músculo: é também o centro simbólico das nossas relações e afetos.*Texto escrito pelo cardiologista clínico e intervencionista Rodrigo Almeida Souza (CRM/PA 7926 | RQE 4130 / 4137), membro da Brazil Health