Dia Nacional da Doação de Órgãos: é possível salvar vidas depois da morte

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A doação de órgãos é, acima de tudo, um ato de amor. No Brasil, milhares de pessoas aguardam por um transplante que pode representar não apenas mais tempo de vida, mas também a oportunidade de recuperar autonomia, saúde e dignidade.No entanto, abordar esse tema costuma nos remeter a números, filas e campanhas. O que poucas vezes é mencionado é que, por trás de cada decisão de doar, está um processo profundamente humano, onde a dor da perda se transforma em esperança para outras famílias. Leia mais Saiba como transplante de ilhotas pode mudar tratamento do diabetes tipo 1 Os transplantes mais comuns no Brasil: veja órgãos e números da fila Transplante de coração: é sentença? Entenda perspectivas após cirurgia O impacto invisível da decisãoPara muitos familiares, autorizar a doação de órgãos em um momento de dor não é simples. Contudo, inúmeros relatos mostram que esse gesto pode trazer alívio.Trata-se da certeza de que a vida do ente querido não se encerrou abruptamente, mas segue pulsando em outro corpo. Esse sentimento auxilia algumas famílias a ressignificarem a perda, encontrando um propósito maior no ato de doar. É como se, ao dizer “sim” à doação, elas dissessem também “sim” à continuidade da vida.Do outro lado, os receptores descrevem a experiência do transplante como uma verdadeira segunda chance. Voltar a respirar sem aparelhos, caminhar sem dor, retomar planos e abraçar familiares com energia renovada são conquistas diárias que carregam consigo a gratidão àqueles que tornaram tudo isso possível.Cada batida de um coração transplantado, cada respiração de um pulmão doado, é também um tributo silencioso à generosidade de uma família que decidiu compartilhar a vida no momento mais difícil.Para quem trabalha com idosos, como eu, a doação de órgãos possui um significado ampliado: o da continuidade do legado. Muitos pacientes expressam o desejo de deixar algo além de bens materiais, algo que simbolize cuidado e presença.A doação, nesse aspecto, é um gesto que perpetua a memória de quem se foi, transmitindo aos filhos e netos o valor da solidariedade. É um ensinamento silencioso que atravessa gerações, mostrando que envelhecer também é preparar-se para doar — tempo, afeto e, em algumas situações, até mesmo a vida.Cuidar é também acolher escolhasO papel da família é central nesse processo. São os parentes que, em um momento de profunda dor, precisam tomar uma decisão rápida e difícil. Daí a importância da conversa prévia: falar sobre doação em vida, manifestar esse desejo e orientar os familiares pode aliviar o peso da decisão.É um cuidado que cada pessoa pode ter consigo e com os outros, para que, quando chegar o momento, a dúvida dê lugar à certeza de estar fazendo o bem.O Dia Nacional da Doação de Órgãos (27/09) nos convida a refletir para além das estatísticas. Ele nos recorda que cada transplante é formado por duas histórias entrelaçadas: uma que se despede e outra que recomeça.Em tempos em que tantas famílias enfrentam perdas, pensar sobre a doação é reafirmar que a vida pode continuar de formas inesperadas e generosas. Dizer “sim” à doação perpetua um gesto que transforma ausência em presença e finitude em continuidade.*Texto escrito pela geriatra e clínica médica Julianne Pessequillo (CRM 160.834 // RQE: 71.895), especialista em longevidade saudável e membro da Brazil HealthTransplante de coração é sentença? Entenda perspectivas após cirurgia