O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve “forçar” o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) a reduzir os juros além do razoável, afirma Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset. “O Trump vai forçar o Fed perigosamente para baixo, de uma maneira que ainda não conseguimos imaginar as consequências”, alertou no evento Itaú BBA Macro Vision.Segundo Stuhlberger, a atual dinâmica econômica do país é marcada por forças opostas que tornam a condução da política monetária especialmente delicada.De um lado, tarifas comerciais e pressões inflacionárias persistentes devem manter os preços mais altos pelos próximos seis a doze meses. De outro, sinais de desaceleração no mercado de trabalho — com um novo normal do payroll em torno de 20 a 30 mil vagas — poderiam justificar cortes adicionais nos juros.CONFIRA: Quer entender as estratégias das maiores empresas e gestoras do mercado? O Money Minds, do Money Times, mostra os bastidores; acesse aquiEle lembra ainda que choques recentes no Produto Interno Bruto (PIB) e no mercado imobiliário adicionam incertezas. “Vemos casas, em boa parte da América, caindo o nominal de preço, o que vai ter uma implicação no cálculo de rent“, observou, ressaltando que memórias da crise de 2008 podem levar o Fed a agir de forma mais branda diante de qualquer turbulência nesse setor.Devido a essas forças antagônicas, Stuhlberger espera “uma pressão do Trump sobre o Fed como provavelmente nunca se viu na vida”.Rodrigo Azevedo, gestor da Ibiuna Investimentos e ex-diretor de política monetária no Banco Central brasileiro, também aponta que os dois mandatos da autoridade monetária — pleno emprego e inflação baixa — se encontram em conflito, o que resulta em divisões internas no comitê do Fed.“Tinha gente que falava que tinha que cortar os juros em 0,50 p.p., como mandado pelo Trump, e os diretores de outra ponta diziam que só cortaram porque foi uma espécie de compra de seguro”, relatou no evento.No cenário de mercado, a expectativa predominante é de que o Fed corte os juros mais três ou quatro vezes nesse ciclo. Mas Azevedo faz um alerta: “O risco, na verdade, é que seja menos do que isso”.A razão, diz ele, é que a economia norte-americana pode não estar tão enfraquecida quanto se supõe.“A economia não estava pedindo corte de juros. Os spreads de crédito estão super apertados e as condições financeiras não destoam. O mercado de trabalho, mesmo relaxando um pouco na margem, está com a taxa de desemprego muito próxima do que é o pleno emprego”, destacou.Assim, para o gestor da Ibiuna, há uma “chance grande” de que o ciclo de cortes seja mais limitado do que o precificado hoje, com impactos diretos sobre ativos de risco e fluxos globais.