O início dos cortes da Selic devem ficar “um pouco mais para frente do que o final deste ano”, afirmou o gestor da Ibiuna Investimentos e ex-diretor de política monetária no Banco Central (BC), Rodrigo Azevedo. Para ele, não há sinais de urgência que justifiquem uma flexibilização monetária imediata.“Eu acredito que o corte vai ficar um pouco mais para frente. Quanto mais para frente? Isso ainda vamos descobrir”, disse no evento Itaú BBA Macro Vision, nesta segunda-feira (29).O gestor destacou, entre os fatores que “não justificam a pressa”, o desemprego em mínima histórica, o crédito ainda funcionando bem e a inflação de serviços pressionada. Além disso, ele também mencionou que as expectativas de médio prazo estão desancoradas.CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente“Olhando para os dados, eu não estou vendo uma mudança relevante em três meses, dado que, nos últimos nove meses com essa taxa de juros real, não aconteceu quase nada.”Azevedo pontuou que o discurso do atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, também não demostra “a menor pressa” para iniciar a flexibilização monetária.Na última reunião, ao manter a Selic em 15%, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que a taxa ficaria em “patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” e enfatizou que não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste caso apropriado.Os desafios para a política monetáriaAzevedo afirmou, no evento, que a política monetária enfrentará desafios adicionais em 2026 e que a economia brasileira terá de passar por um ajuste inevitável em 2027.Segundo ele, o primeiro obstáculo é o baixo crescimento projetado para 2025. O Focus do Banco Central estima alta de 1,8% no PIB, ritmo mais fraco do atual governo.O gestor destacou que esse cenário ocorrerá em um ano eleitoral, o que pode aumentar a pressão sobre a autoridade monetária. Ainda assim, ele não vê o BC cedendo a interferências políticas.O segundo ponto, afirmou, é que em 2026 a política monetária estará calibrada com base na inflação de 2027 — um ano em que, em sua visão, haverá necessidade de um grande ajuste no padrão político e econômico.Esse ajuste poderá ser “coordenado” ou “desordenado”. No cenário coordenado, o governo eleito promoveria as reformas necessárias, o que geraria recessão no curto prazo, mas fortaleceria a confiança, apreciaria o câmbio e abriria espaço para uma trajetória mais estável no médio prazo. Já em um cenário desordenado, sem mudanças nas políticas atuais, os mercados podem reagir de forma abrupta diante da deterioração fiscal, ampliando os riscos para a dívida pública e a inflação.