O mercado global voltou a dar sinais de que o chamado “risco Trump” pode se tornar um dos principais vetores de volatilidade nos próximos meses. Dentro os efeitos, o mais visível está no câmbio: o dólar perdeu força e o euro atingiu o maior patamar desde 2021, movimento impulsionado por dúvidas sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos e pela possibilidade de maior interferência política no Federal Reserve.O gatilho veio de duas frentes. Por um lado, indicadores do mercado de trabalho americano abriram espaço para cortes de juros pelo Fed. Por outro, a política tarifária de Donald Trump e sua influência sobre decisões econômicas reacenderam receios sobre a credibilidade da moeda americana. A combinação de juros em queda e risco de ingerência política enfraquece o dólar e desloca capital para outras geografias.Esse tipo de movimento, porém, não é inédito. Sempre que a independência dos bancos centrais foi colocada em xeque, moedas nacionais perderam força rapidamente — o exemplo recente da Turquia costuma ser citado como alerta.Leia mais: Sem ‘direita maluca’ no páreo, Lula poderia desistir da disputa de 2026, diz gestorE também: XP lança graduação pioneira no Brasil e vai formar talentos para o mercado financeiroA leitura dos riscos geopolíticosAurélio Bicalho, economista-chefe e sócio da Vinland Capital, analisou o tema em entrevista ao Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo. Para ele, há um ponto curioso: parte do mercado reage de forma mais dura às tarifas de Trump do que à escalada geopolítica recente.“Hoje vemos China, Rússia, Irã e Coreia do Norte mais articulados. O perigo está muito mais aí do que nas tarifas do Trump”— Aurélio Bicalho, economista-chefe da Vinland.Segundo Bicalho, a ausência dos Estados Unidos como “polícia do mundo” durante o governo Biden abriu espaço para tensões globais, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, os ataques do Hamas a Israel e os riscos no comércio do Mar Vermelho. Nesse contexto, o retorno de Trump ao protagonismo, ainda que com medidas controversas, teria reduzido parte da incerteza geopolítica imediata.Efeitos nos fluxos de capitaisDo ponto de vista dos investidores, o dólar mais fraco combinado a um alívio relativo no campo geopolítico cria condições para redirecionar recursos a ativos de risco fora dos EUA, especialmente em mercados emergentes. Isso explica a valorização do euro e a reabertura de espaço para diversificação de alocação global.Ainda assim, a confiança no Fed segue como peça central. Desde 2018, quando os EUA cortaram pontes com a Rússia no sistema Swift, fluxos globais passaram a refletir preocupações sobre segurança de reservas internacionais, levando à busca maior por ouro e outras alternativas.Reflexos no BrasilNo Brasil, a bolsa tem renovado recordes históricos, mesmo diante de incertezas fiscais e políticas. O mercado parece antecipar não os ruídos imediatos, mas uma eventual transição de governo em 2026, aproveitando o “carrego” positivo até lá.Bicalho ressalta que o nó brasileiro continua sendo fiscal. Para ele, o país avançou em instituições importantes, como a autonomia do Banco Central, mas não conseguiu garantir crescimento sustentado. Programas subsidiados em excesso, alta da dívida pública e aumento da carga tributária sem contrapartidas claras seguem sendo entraves.Em resumo, enquanto o “risco Trump” pressiona o dólar e fortalece o euro no curto prazo, o Brasil continua preso a velhas discussões internas que limitam sua competitividade em comparação a outros emergentes.The post Risco Trump derruba dólar e impulsiona euro; entenda o que está em jogo appeared first on InfoMoney.