Pisar na grama, crescer com os pés no chão e com a liberdade que ambientes abertos trazem. Se há algum tempo essa era uma realidade comum para crianças de diversas idades, hoje em dia, a conexão com a natureza tem se tornado mais rara, sendo substituída por telas e dias em ambientes fechados. Essa é uma das conclusões de um estudo publicado na revista inglesa BMC Psychiatry, pelos pesquisadores chineses Jian-Bo Wu e Yan Zhang, dentre outros, do Departamento de Psicologia Clínica do Hospital de Saúde Maternal e Infantil de Shenzhen Longhua.Foram analisadas quase 70 mil crianças em de 0 a 3 anos que vivem no distrito urbano de Longhua, em Shenzhen, na China. Os cientistas identificaram uma ligação clara entre a frequência e a duração das atividades ao ar livre na primeira infância e a redução dos sintomas de ansiedade.O estudo traz dados alarmantes: “crianças com exposição mínima a ambientes externos têm risco triplicado de desenvolver sintomas ansiosos em idade pré-escolar”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, professor da USP, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.Foto: iStock Leia também: 1.Celulares expõem crianças a avalanche de informações inúteis 2.Sim ao tédio: por que as crianças precisam de tempo sem fazer nada? Os dados mostram que o tempo fora de casa aumenta a estimulação sensorial, a atividade física e o vínculo emocional. Os resultados são contundentes: bebês de 0 a 1 ano que participam de atividades ao ar livre menos de uma vez por semana apresentam risco 2,55 vezes maior de desenvolver sintomas de ansiedade na idade pré-escolar, comparados àqueles que têm atividades externas pelo menos sete vezes por semana.O mesmo ocorre quando essas crianças ficam menos de 30 minutos por período ao ar livre, com risco 1,62 vezes maior. Na faixa etária de 1 a 3 anos, crianças com menos de uma atividade externa semanal têm risco 3,10 vezes maior de desenvolver sintomas de ansiedade e aquelas com sessões inferiores a 30 minutos apresentam risco 2,07 vezes maior.Segundo a pesquisa, contato com a natureza aumenta a estimulação sensorial, a atividade física e o vínculo emocional dos pequenos.Foto: Guillermo Latorre | UnsplashJá é consenso que o contato com a natureza está intimamente ligado à saúde. Diversos estudos mostram que a exposição regular à natureza é associada a um aumento na atividade das células do nosso sistema imunológico. Esse contato reduz os níveis de cortisol, regula a frequência cardíaca e diminui a pressão arterial, além de oxigenar o cérebro e os pulmões. Mas esta é a primeira vez que um estudo mostra a relação direta da natureza com a saúde mental entre bebês e crianças em seus primeiros anos de vida. Leia também: 1.13 motivos para afastar as crianças das telas 2.Manual mostra benefícios da natureza para crianças e adolescentes “Não existe saúde sem saúde mental. Como psiquiatra, observo com preocupação a mudança drástica no estilo de vida infantil atual. Crianças passam cada vez mais tempo em ambientes fechados, expostas a telas e com rotinas altamente estruturadas”, afirma Rodolfo. Ele explica ainda que crianças que crescem fechadas em apartamentos e condomínios têm mais probabilidade de desenvolver transtornos de ansiedade.No caso de adolescentes, o quadro psicopatológico é agravado pela imersão digital, com o uso de smartphones, computadores e acesso a plataformas online como Discord e outras redes sociais. “O cérebro adolescente encontra-se em fase crítica de maturação, o que os torna particularmente vulneráveis a mecanismos de recompensa social imediata, capacidade reduzida de avaliação de riscos em contextos de alta carga emocional e, sobretudo, busca por aceitação e pertencimento social”, alerta o psiquiatra, que tem visto, em suas clínicas em São Paulo e no Rio de Janeiro, um crescimento de pacientes nessa faixa etária e com esse perfil.Foto: Freepick Leia também: 1.Você deixa as crianças se sujarem na natureza? 2.Terapia com animais ajuda crianças e jovens em vulnerabilidade O estudo chinês, inédito pela abrangência da mostra e pela faixa etária, revela como a primeira infância é um período crítico, pois promove o desenvolvimento de circuitos neurais que governam a resposta ao estresse durante toda a fase da vida. Agora, pais e educadores, além das preocupações com a restrição de celulares e uso de telas, precisam incluir como dica de saúde mais brincadeiras ao ar livre aos pequenos. Afinal, natureza é saúde.Clique AQUI para ver o estudo completo.Foto: Kat Van Der Linden | Unsplash The post Bebês que ficam ao ar livre têm menos risco para ansiedade appeared first on CicloVivo.